• Os trabalhadores do campo portam cartas de “trabalhador essencial” para ter passe livre

Os trabalhadores de campo imigrantes foram instruídos a continuar trabalhando, apesar das diretrizes para ficar em casa, e receberam cartas atestando seu papel “crítico” na alimentação do país.

Em reportagem especial o NY Times mostrou como legiões de trabalhadores rurais imigrantes, a exemplo da mexicana Nancy Silva que há anos colhe frutas frescas que os americanos apreciam, e convive como o medo de um dia perder seu sustento porque vive ilegalmente no país. Mas a crescente pandemia de coronavírus trouxe um tipo incomum de reconhecimento: seu trabalho como trabalhador de campo foi considerado pelo governo federal como “essencial” para o país.

Silva, que passou boa parte da vida nos Estados Unidos se esquivando da aplicação da lei, agora carrega uma carta de seu empregador declarando que o Departamento de Segurança Interna a considera “fundamental para a cadeia de suprimento de alimentos”.

Falsa segurança

As cartas de “trabalhador essencial” que muitos portam diariamente agora não são um passe livre das autoridades de imigração, que ainda podem deportar os trabalhadores de campo indocumentados a qualquer momento. Mas as autoridades policiais locais percebem que as cartas podem dar aos imigrantes uma falsa sensação de segurança. “Muitos de nós, sem documentos, vivem com medo da imigração”, disse Silva. “Agora estamos nos sentindo mais relaxados.”

Imigrantes são 70% da força sazonal dos campos

Para muitos trabalhadores, o fato de agora serem considerados essenciais é uma ironia. “É triste que seja necessária uma crise de saúde como essa para destacar a importância dos trabalhadores rurais”, disse Hector Lujan, executivo-chefe da Reiter Brothers, um grande produtor de frutas de propriedade familiar com sede em Oxnard, Califórnia, que também tem operações na Flórida e noroeste do Pacífico.

Lujan, cuja empresa emprega milhares de trabalhadores de campo, os descreveu como heróis desconhecidos por garantir que os americanos tenham segurança alimentar.

“Talvez um dos benefícios dessa crise seja o fato de serem reconhecidos e sair das sombras”, disse Lujan, cuja empresa pressiona o Congresso a aprovar um projeto de lei que legalizaria os trabalhadores rurais imigrantes.

Cerca de metade de toda a mão-de-obra agrícola nos Estados Unidos, mais de um milhão, é formada por imigrantes sem documentos, de acordo com o Departamento de Agricultura. Mas produtores e empreiteiros estimam que a parcela esteja próxima de 75%.

De acordo com pesquisa realizada em 2017 com agricultores pelo California Farm Bureau, 55% relataram escassez de mão-de-obra, e o número foi de quase 70% para aqueles que dependem de trabalhadores sazonais. Os aumentos salariais nos últimos anos não compensaram o déficit, disseram os produtores.

Programa H-2A

As plantações de morango na Califórnia, os pomares de maçã em Michigan e as fazendas leiteiras em Nova York e Idaho estão lutando com uma força de trabalho cada vez menor e envelhecida. O aumento das deportações, uma repressão maior na fronteira e a falta de um acordo no Congresso para aprovar uma reforma imigratória, contribuem para a escassez de trabalhadores cada vez mais crescente.

Para driblar o problema produtores tem utilizado como mais frequência a força de trabalho sazonal, através do programa de trabalhador convidado, o programa H-2A. O número de trabalhadores com esse visto foi de 257.667 no ano fiscal de 2019, em comparação com 48.336 trabalhadores no ano fiscal de 2005.

Com o Coronavirus, o Departamento de Estado interrompeu o processamento de vistos no México em função da emergência de saúde pública. A mudança causou pânico nos produtores que recorreram e conseguiram um alívio do departamento que anunciou no dia 26 de março que evitaria as entrevistas pessoais, permitindo que os pedidos sejam examinados em tempo para a colheita.

De março a agosto a agricultura americana registra seu pico de atividade, com um volume enorme de produtos a serem colhidos. Produtos como frutas cítricas, morangos e outras amadurecem até o verão, na Califórnia. Na Geórgia, cebolas e pêssegos precisarão ser colhidos em breve, assim como as maçãs do estado de Washington. As cartas de “trabalhadores essenciais” chegaram em boa hora para esses e outros estados que admitem depender dos imigrantes.

Com informações da CNN.

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Fonte: Gazeta News