caixeta Questão de caráterO povo norte-americano leva muito a sério o caráter de seus líderes. George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln ainda vivem no inconsciente coletivo, apesar de terem comandado o país em eras tão distantes.

Em 2017, o Pew Research Center, organização dedicada à pesquisa e ao estudo de vários temas, como política doméstica, religião, ciência e tecnologia,  perguntou aos americanos quem era o melhor presidente de suas vidas.

Neste levantamento, 44% dos americanos apontaram Obama como o melhor ou o segundo melhor presidente dos EUA. O democrata é seguido de outro colega de partido, Bill Clinton (33%), que ocupou o cargo entre 1993 e 2001, e pelo republicano Ronald Reagan (32%), presidente entre 1981 e 1989.

O que me fez refletir sobre Donald Trump, quando a Casa Branca não for mais a sua residência e o legado estiver sendo julgado pelos cidadãos do país.

Após dois anos de mandato, inúmeros escândalos e uma economia robusta (já estava encaminhada por seu predecessor, não se enganem), marcam a trajetória até aqui. Mas tenho minhas dúvidas de que será lembrado com saudade quando sair do cargo..

O recente fechamento pela justiça de sua fundação filantrópica em Nova York diz muito sobre o seu caráter.

As irregularidades são gritantes, disseram as autoridades, que não descartam uma punição criminal quando ele já não estiver mais protegido pela imunidade do cargo que ocupa.

Na declaração de imposto de renda da organização que leva seu nome, constam doações a várias entidades que jamais viram um centavo do dinheiro reportado.

Não é a primeira vez que cambalachos atribuídos ao presidente vem à tona.

Vejam o caso da Universidade Trump, que também teve suas atividades abreviadas após constatação de falcatruas. E que ainda dará muito pano para manga.

Mas não parou por aí.

O comitê de inauguração de sua presidência está sendo escrutinado e várias pessoas associadas à sua ascensão ao poder estão sendo investigadas ou foram condenadas por recentes atividades criminosas.

Vejam o caso do ex-chefe de campanha Paul Manafort, considerado culpado de várias acusações de fraude fiscal, e do seu ex-advogado Michael Cohen, que admitiu diante de um tribunal ter violado regras de financiamento de campanha eleitoral, seguindo ordens do então candidato Trump.

Os dois ex-colaboradores do presidente devem ir para a cadeia por um bom tempo e se juntam a três outros personagens próximos ao republicano que já estão condenados ou se declararam culpados de irregularidades, deixando o mandatário americano numa situação cada vez mais delicada.

Michael Flynn foi conselheiro de segurança nacional do seu governo pelo curto período de 23 dias. Ele foi declarado culpado de mentir para o FBI e prometeu cooperar plenamente com a investigação da suposta interferência russa na eleição. A leitura da sentença de Flynn foi adiada em quatro ocasiões.

Rick Gates foi um associado de Paul Manafort por longo tempo. No começo deste mês, ele disse em julgamento que ajudou Manafort a preencher declarações fiscais falsas e não declarou contas bancárias no exterior.

George Papadopoulos foi conselheiro de política externa de Trump durante a campanha eleitoral e tornou-se o primeiro de seus assessores a se declarar culpado por mentir sobre suas relações com a Rússia.

Diga-me com quem andas, quem direi quem tu és, diz o velho ditado.

A lista tende a crescer.

Doações ilegais de países estrangeiros, sonegação de impostos e outros crimes estão sendo colocados debaixo de uma lupa. Pelo menos 17 crimes estão sendo investigados.

Trump prefere comprar o silêncio das pessoas, como a história já registrou. Prostitutas de luxo estão entre elas. Mas pode ser que a investigação encabeçada por Robert Mueller acabe com isto.

Seus pedidos de falência são escandalosos, deixaram investidores arruinados, enquanto ele passou incólume, orientado por advogados caros, explorando sempre a área cinzenta dos livros das leis.

Até quando?

A verdade é que Trump não dá ponto sem nó.

Como ele conseguirá lucrar com sua passagem pela Casa Branca, ainda não está claro. Até aqui, sua vaidade e arrogância só atraíram investigações contra suas empresas pessoais e a antipatia da opinião pública mundial.

Com a maioria democrata na Câmara dos Representantes já a partir da semana que vem, é grande a chance de que a justiça determine a abertura de sua caixa de Pandora.

Trump foi o único presidente norte-americano a não mostrar a sua declaração pessoal de imposto de renda. Quando isso acontecer é muito provável que muita coisa seja explicada.

Pode ser o início do seu fim como 45º presidente do país.

Fonte: Brazilian Voice