Foto25 Oscar Alberto Martinez Ramirez e Valeria Número de brasileiros que morrem na fronteira dos EUA pode ser maior
A imagem do salvadorenho Oscar Alberto Martinez Ramirez e a filha de quase 2 anos, Valéria, que morreram afogados no Rio Grande, retrata os perigos encarados pelos imigrantes (Foto: Júlia Le Duc)

O índice de fatalidades pode ser muito mais alto que os divulgados pelas autoridades

Em 2018, aproximadamente 283 imigrantes de várias nacionalidades perderam a vida quando tentavam cruzar clandestinamente a fronteira entre os EUA e México, entre eles vários brasileiros. No início de julho desse ano, uma menina, nascida no Brasil e filha de uma haitiana, desapareceu durante a travessia no Rio Grande. O corpo da criança ainda não foi encontrado.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), o número de brasileiros que morrem tentando entrar clandestinamente nos EUA, seja pela fronteira terrestre ou marítima, não representa a realidade. Muitos casos não são contabilizados pelas autoridades, pois os registros têm como base as informações dadas por parentes e amigos dos brasileiros desaparecidos.

O aumento da segurança na fronteira sul dos EUA fez com que os traficantes de seres humanos (coiotes) busquem rotas cada vez mais remotas para fugir dos agentes da Patrulha da Fronteira (CBP). Essa estratégia pode resultar em mais mortes, porque os coiotes optam cada vez mais por caminhos mais ermos e inóspitos, ou seja, expondo os imigrantes a perigos maiores. Em 2016, 19 pessoas, incluindo brasileiros, desapareceram quando tentavam chegar clandestinamente na Flórida saindo das Bahamas. Até hoje, o paradeiro da embarcação delas é desconhecido.

O número de migrantes que morreram ao tentar atravessar a fronteira entre o México e os EUA em 2017 permaneceu alto apesar da forte queda do número de prisões, disse a agência de migrações das Nações Unidas (ONU), em fevereiro de 2018.

Em comunicado, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) afirmou que os números da Patrulha de Fronteiras norte-americana indicam que 341.084 migrantes foram presos na fronteira sul do país em 2017, contra 611.689 em 2016; uma queda de cerca de 44%. No entanto, o ano de 2017 registrou 412 mortes, comparadas a 398 em 2016.

“O aumento das mortes é especialmente preocupante, já que os dados disponíveis indicam que bem menos migrantes entraram nos EUA via fronteira com o México no ano passado”, disse Frank Laczko, diretor do centro global de análises de dados sobre migração da OIM.

De acordo com a agência da ONU, a exposição prolongada a ambientes extremos na região fronteiriça, onde as temperaturas frequentemente atingem de 40º Celsius, combinada com a dificuldade de levar assistência àqueles em necessidade em áreas remotas, foram repetidamente citadas como as principais causas de mortes.

O estado do Texas, onde 191 mortes de migrantes foram registradas no ano passado, é uma área de particular preocupação, e o total de mortes no ano passado representa um aumento de 26% frente às 151 mortes registradas no estado em 2016, acrescentou o comunicado da OIM.

Ao mesmo tempo, apesar de os dados sobre mortes de migrantes na fronteira com o México estarem mais acessíveis do que em muitas outras regiões do mundo, eles permanecem incompletos, e o número de mortes registradas pela Patrulha de Fronteiras inclui apenas aqueles com os quais os agentes lidam diretamente.

“Isso significa que os dados reportados nacionalmente podem seriamente subestimar o número real de mortes”, disse Julia Black, coordenadora de dados do projeto sobre migrantes desaparecidos da OIM.

A OIM também informou que a maioria das mortes de migrantes registradas pelo projeto ocorreu no lado norte-americano da fronteira — no entanto, uma razão para isso pode ser o fato de que coronéis, médicos e xerifes dos estados norte-americanos são mais propensos a reportar regularmente dados sobre mortes de migrantes ao pessoal da agência da ONU.

Informações sobre mortes do lado sul da fronteira frequentemente são divulgadas localmente por estações de rádio e pequenos jornais, ou nas mídias sociais, disse a agência, afirmando que a informação sobre mortes pode surgir semanas ou até meses depois de ocorrerem.

Desde o início do projeto da OIM sobre migrantes desaparecidos, a agência da ONU registrou 1.468 mortes na fronteira entre EUA e México, incluindo 14 mortes em janeiro de 2018.

Fonte: Brazilian Voice