Retrato de encontro entre o conquistador Hernando Cortez e o rei dos astecas, MontezumaDireito de imagem Getty Images
Image caption Retrato de encontro entre o conquistador Hernando Cortez e o rei dos astecas, Montezuma; o México ficou sob domínio espanhol por cerca de três séculos

O presidente do México, López Obrador, escreveu para o rei da Espanha, Felipe 6º, e para o papa Francisco solicitando que eles peçam desculpas pelos abusos cometidos pelas instituições que representam no período de conquista e colonização das Américas.

“O certo é que foi uma invasão. (…) Houve massacres e opressão”, afirmou López Obrador em um vídeo postado no Twitter. “É tempo de reconciliação, mas é preciso que sejam pedidas desculpas antes.”

Entre as autoridades espanholas, porém, o pedido não foi bem visto. O chanceler Josep Borrell, do atual governo socialista espanhol, disse que “é estranho receber agora um pedido de desculpas por eventos ocorridos 500 anos atrás”. Na oposição, o líder do Partido Popular, Pablo Casado, disse que a declaração de López Obrador é uma afronta ao povo espanhol, que deveria, na verdade, celebrar “com orgulho” seu papel histórico de descobrimento no México.

Não é a primeira vez que um país ou um grupo de pessoas exigem um pedido de perdão por eventos ocorridos muitos anos – ou séculos – antes.

Analisamos alguns outros episódios em que países foram exigidos por eles ou escolheram se desculpar.

Pedido de desculpas dos EUA por escravidão e segregação

Os EUA expressaram pesar pela escravidão em duas resoluções separadas – uma em 2008, de autoria da Câmara dos Representantes; e outra em 2009, pelo Senado.

Ambas as casas pediram desculpas aos afro-americanos em nome do povo dos Estados Unidos pelos erros cometidos contra eles e seus antepassados ​​durante a escravidão e depois, nas décadas de segregação que se seguiram.

Embora tenha havido pouca oposição às medidas, o fato de ambas as partes do Congresso não poderem concordar em uma única resolução expõe um dos principais problemas quando se trata de pedidos de perdão como esses.

O pedido de desculpas do Senado incluiu um aviso afirmando que ele não poderia ser usado como base para a reinvindicação de compensação financeira pela escravidão ou segregação contra os Estados Unidos.

Direito de imagem AFP
Image caption Obama saudou pedido de perdão, por parte do Congresso, pela escravidão

Isso foi contestado por alguns representantes negros na Câmara, que fizeram campanha por indenizações para os descendentes de escravos.

O presidente da época, Barack Obama, saudou as desculpas do Congresso, mas nunca levou à frente o assunto da reparação financeira enquanto estava no cargo.

O encontro da discussão sobre perdão com o assunto da compensação financeira já impediu que muitos líderes levassem adiante admissões formais de culpa.

Papel britânico na fome irlandesa

Direito de imagem Getty Images
Image caption Bandeiras da Irlanda e do Reino Unido; pedido de desculpas pela atuação britânica na fome irlandesa veio em contexto de apaziguamento da relação

Pouco mais de 150 anos após ter sido iniciado, em 1845, o período de fome intensa na Irlanda, o então primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair disse: “Aqueles que governavam em Londres na época falharam com seu povo”.

Cerca de um milhão de pessoas morreram e dois milhões emigraram quando a colheita de batatas da Irlanda passou por sérios problemas e o parlamento britânico demorou a reduzir as restrições à importação de alimentos.

O discurso de 1997 ocorreu em um momento em que as relações entre o Reino Unido e a Irlanda (que fazia parte do Reino Unido até 1922) estavam melhorando, culminando no Acordo de Belfast, que buscou resolver muitos dos amargos desentendimentos entre os dois países sobre a Irlanda do Norte.

Críticos reclamaram que as palavras de Blair não foram um pedido de desculpas completo e formal.

Embora nenhuma oferta de compensação tenha sido feita à Irlanda pela fome, o Reino Unido pagou indenizações a pessoas governadas pelos britânicos mais recentemente.

Em 2013, o governo pediu desculpas e concordou com um pacote de compensação de US$ 25 milhões para os quenianos que foram torturados durante a revolta dos Mau-Mau nos anos 50.

Compensação da Alemanha Ocidental pelo Holocausto

Ao contrário dos casos anteriores, a então Alemanha Ocidental foi rápida em aceitar pagar indenizações após a Segunda Guerra Mundial pelas ações de seu Estado predecessor, a Alemanha nazista.

Em 1951, o chanceler Konrad Adenauer disse: “Crimes impronunciáveis foram cometidos em nome do povo alemão, o que exige indenização moral e material”.

Os pagamentos para Israel e para sobreviventes do Holocausto, que começaram em 1953, totalizaram mais de US$ 70 bilhões.

Direito de imagem Reuters
Image caption Um dos portões principais de campo de concentração nazista em Auschwitz; Alemanha Ocidental ofereceu indenizações a Israel e a sobreviventes do Holocausto

Talvez surpreendentemente, neste caso, foram algumas das vítimas que reclamaram da indenização.

Elas acreditavam que, se Israel aceitasse dinheiro da Alemanha Ocidental, seria o mesmo que perdoar os nazistas por seus crimes.

Enquanto isso, parte do dinheiro ajudou a apoiar Israel em seus primeiros anos de existência.

Lutando para pedir desculpas

Outros países não foram tão decisivos assim.

Embora o Japão tenha assinado acordos pós-Segunda Guerra Mundial com a Coreia do Sul e a China, que incluíam pagamentos, sua relação com os vizinhos mostra que ainda há assuntos mal resolvidos.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, já foi criticado por ser ambíguo sobre se o Japão foi “agressivo” durante o conflito e por ter visitado e deixado oferendas em um santuário que homenageia criminosos de guerra.

Mas ele também concordou com pacotes de compensação para mulheres coreanas que foram escravas sexuais de soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Como muitos políticos, Abe teve dificuldades em equilibrar a demonstração de um nacionalismo com a manutenção de boas relações com líderes estrangeiros.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

Fonte: BBC