Metilcelulose. Ortofosfato férrico. Fibra de batata. Maltodextrina. Preparado proteico. Carragena.

Você não tem nenhum desses ingredientes na sua cozinha, aposto. Mas eles estão nos produtos vendidos sob o rótulo de “carne vegetal” –hambúrgueres, almôndegas e linguiças, entre outros.

A presença de substâncias estranhas à cozinha é uma das características dos alimentos ultraprocessados, preparações industriais que oferecem sabores viciantes para cativar o consumidor. Esses sabores não têm, necessariamente, vínculo com os ingredientes básicos do produto em questão.

No caso da “carne vegetal”, o vínculo é zero: tudo o que a indústria não quer é que ela se pareça com proteína de soja, de ervilha ou de grão de bico. Essas proteínas são lavadas até a insipidez absoluta e depois bombardeadas com “aromas naturais” que os fabricantes não revelam sob a alegação de segredo industrial.

Além destes, as “carnes vegetais” da Sadia e da Seara –braços da BRF e da JBS, respectivamente– contém aromas sintéticos “idênticos ao natural”. Se não sabemos de que é o aroma, fica fácil engolir que ele é idêntico a alguma coisa.

Todas as marcas investem no mesmo mantra falacioso de marketing: os produtos têm textura e sabor de carne. Nem a pau.

Num podcast de que participei para a revista “Superinteressante”, tive a oportunidade de conversar sobre isso com a outra convidada do programa: a nutricionista Alessandra Luglio, consultora da Fazenda Futuro.

Ela admitiu que o sabor e a textura do Futuro Burger buscam emular os similares à base de carne, concorrentes no freezer do supermercado. Hambúrgueres ultraprocessados em que a carne de qualidade inferior recebe uma bomba de aromas para ficar palatável. Literalmente os piores hambúrgueres do mercado.

Eu já havia percebido essas características ao provar o Futuro numa lanchonete de São Paulo.

Nenhuma “carne vegetal” jamais será parecida com uma picanha no sal grosso.

Mas junk food de supermercado dá para chegar perto. Você pode optar por esses artigos por questões éticas envolvendo sofrimento animal e ecologia, mas não se engane: é junk food, é um amontoado de substâncias esquisitas para dar sabor ao insosso.

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Fonte: Folha de S.Paulo