roberto lima 2 Parceria nefastaAcho uma estupidez perder uma amizade por causa da forma diferente de ser e pensar.
Seja por religião, política ou futebol – entre tantas outras coisas -, acredito e prego a inabalável tolerância.

Defendo o direito de se serem e exijo o mesmo comigo.

Admito, no entanto, que minhas posições contrárias aos governos Trump e Bolsonaro, tem me rendido algumas decepções e decretado o fim de convivências de décadas.

Uma estupidez.

Apesar de lamentar, aceito sem nenhuma culpa a decisão de meus interlocutores. E a vida segue para todo mundo.
Acham que sou petista, apesar de eu argumentar que no ‘futebol de Minas Gerais’, meu estado natal, não existem apenas Atlético e Cruzeiro.
Mandam-me para Cuba e Venezuela.
A estes, respondo que vou para onde quiser, homem livre que sou.

PTralha, esquerdopata, são alguns dos adjetivos que já escutei, sem me abalar.

Não esquento a moringa. Sinto-me confortável debaixo da pele em que habito.

A estranha mania de rotular as pessoas a partir de preconceitos, diz muito a respeito de quem são e o modus operandi de suas mentes tacanhas.

Uma das minhas bandeiras é a causa dos imigrantes indocumentados nos Estados Unidos.

Vivi incocumentadamente durante três anos e meio e não me legalizei à custa de nenhum casamento fraudulento, como muitos dos conterrâneos, que hoje se tornaram verdadeiros arautos do racismo pregado pelo presidente Trump.

Tenho profundo desprezo por estas pessoas, que se acham mais nativos do que Pocahontas ou o Cacique Touro Sentado. Em todos esses anos vivendo aqui, jamais vi um Cherokee esculachando os imigrantes.

Trump nos demoniza, transformando-nos em seu saco de pancadas preferido.

Suas ordens executivas são punhais em nossas costas, transformando-nos em traficantes e contraventores, ignorando a realidade de que a maioria esmagadora de nós é constituída de trabalhadores, que ajudam a erguer com  sangue e suor esse colosso chamado Estados Unidos da América.

Aos olhos de Trump, jogando para sua galera racista, somos todos Bad Hombres.

Ao invés de trabalhar na legalização daqueles que tanto dignificam o país, ele preferiu cancelar o DACA (programa que legalizava milhares de filhos de filhos de imigrantes chegados ao país ainda crianças) e mandou erguer um muro na fronteira com o México.

A parceria dele com Jair Bolsonaro me causa espécie e já rendeu alguns episódios, no mínimo, pitorescos.

Bolsonaro se ofereceu a ajudar na deportação dos indocumentados brasileiros, expedindo o processo através dos consulados.

A grande maioria dos detidos prefere esperar por uma decisão judicial, ganhando tempo e liberdade durante um certo período. São milhares de casos assim. Enquanto o processo tramita, trabalha, eles pagam suas contas e ainda levam algum para casa.

Mas Bolsonaro fez questão de bajular seu colega e ídolo, dando uma mãozinha, se esquecendo do fato de que seu filho Eduardo Bolsonaro ganhou uns trocados no Maine fritando hambúrgueres.

Ao que eu saiba, Dudu Embaixador jamais foi portador de um Green Card ou possui a dupla cidadania com este país.

Na última semana, um voo fretado pelo governo americano, despejou 50 brasileiros algemados no aeroporto de Confins.

“Pergunta pro Trump”, disse ao ser questionado sobre o assunto durante viagem à Índia.

Jair Bolsonaro mostrou a empatia de sempre, ignorando que os brasileiros vivendo fora do país são verdadeiros pilares de suas regiões de origem, ajudando as respectivas famílias e movimentando a economia.

Lamento pelos deportados que votaram nele e confiaram na falácia da amizade com Trump, que já informou que, a partir de agora, o governo brasileiro terá que pagar pelos voos fretados com os deportados.

Como o dinheiro não é de Bolsonaro, duvido que ele vá se recusar a pagar a conta. Pagará sem bufar, subserviente a Trump, como sempre.

Ele venceu as eleições entre os imigrantes brasileiros espalhados pelo mundo e a sua atitude de facilitar as deportações é uma inequívoca traição.

Mas tenho certeza de que aparecerão alguns indocumentados cegos, prontos a defendê-lo.

Fonte: Brazilian Voice