Manifestantes em Lima

Manifestantes pediam que Merino deixasse a Presidência

O presidente do Peru, Manuel Merino, que substituiu no cargo o mandatário deposto por impeachment Martin Vizcarra, renunciou neste domingo (15/11) após um dia intenso de protestos que geraram uma intensa uma crise política.

“Eu, como vocês, quero o melhor para este país”, disse Merino antes de anunciar sua renúncia “irrevogável”. Ele havia assumido o cargo na terça-feira (10/11).

Merino deixou o cargo após a renúncia de mais da metade de seus ministros, uma onda de cobranças nas ruas por sua saída e uma intensa noite de protestos que deixaram dois mortos, mais de 100 feridos e 41 desaparecidos, segundo a Coordenação Nacional de Direitos Humanos (CNDDHH), entidade que reúne 82 organizações peruanas.

Em razão da grave crise, o Conselho de Porta-vozes do Parlamento havia se reunido horas antes neste domingo para avaliar a renúncia iminente de Merino.

Depois de algumas horas de reunião, Luis Valdez, atual presidente do Congresso, “exortou” Merino a apresentar sua renúncia.

Milhares de pessoas comemoraram nas ruas a saída dele do cargo.

Vizcarra, presidente alvo de impeachment em 9/11, afirmou que este “foi o primeiro passo para restaurar a democracia no país”.

Cinco dias turbulentos

O ciclo de Merino como presidente interino do Peru durou apenas seis dias.

Uma vez substituiu Vizcarra após seu impeachment no Congresso, o país mergulhou em uma crise institucional e social com dois protestos diários nacionais e marchas organizadas na quinta e no sábado.

Merino apresentou sua renúncia durante um discurso transmitido pela TV.

Merino anuncia sua saída do cargo em discurso televisionado

Ao anunciar sua renúncia, ele expressou suas condolências às famílias dos jovens mortos durante a marcha nacional e os protestos no sábado (14/11), lembrando que as mortes devem ser investigadas.

Merino reconheceu o descontentamento gerado após sua nomeação presidencial, mas disse que por trás dos protestos também havia “interesse em produzir caos”.

Ele também pediu que os ministros que apresentaram suas renúncias continuem no cargo para que o país não sofra vazio de poder.

O plenário do Congresso realizará nova reunião na tarde deste domingo para começar a discutir sobre quem vai ocupar a Presidência da República.

Por que Vizcarra deixou o poder

As manifestações tiveram início depois que o Congresso peruano destituiu Vizcarra por “incapacidade moral permanente”, em meio a acusações de corrupção contra ele, substituindo-o pelo presidente do Congresso, Manuel Merino.

Vizcarra deixou o cargo após ser acusado de receber propina de empresas para conceder obras públicas durante sua gestão no governo de Moquegua. Ele nega veementemente as acusações.

Manifestantes dizem ter sido atacados pela polícia com balas de borracha

A decisão, poucos meses após as eleições presidenciais marcadas para abril de 2021 e em meio à pandemia do coronavírus atingiu especialmente o país, causou grande descontentamento na população peruana.

Os dias de protestos resultaram em vários confrontos entre a polícia e os manifestantes.

A Coordenação Nacional de Direitos Humanos denunciou que na quinta-feira as forças de segurança usaram balas de borracha e gás lacrimogêneo indiscriminadamente contra um grupo de manifestantes que tentou se aproximar da sede do Congresso em Lima.

Manifestantes protestam contra impeachment, embora não defendam Martin Vizcarra

Organizações como a CNDDHH e o Instituto de Defesa Legal (IDL) denunciam que os parlamentares que apoiaram o afastamento de Vizcarra na última segunda-feira haviam cometido um “golpe” legislativo.

Mas os parlamentares que votaram a favor da destituição do ex-presidente (105 de um total de 130), entre eles o próprio Manuel Merino, defendem a constitucionalidade da medida e pedem calma à população.

O artigo 113 da Constituição peruana — promulgada em 1993 — estabelece o impeachment de um presidente por “incapacidade moral ou física permanente (do presidente), declarada pelo Congresso”.

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Fonte: BBC