Imagem ilustrativa. Pixabay.

“O coronavírus está interrompendo alguns sonhos”, aponta a paulista Nádia Mancuzo, que mora em Orlando com o marido e conta que decidiram voltar agora para o Brasil.

“Estou grávida e a situação está complicada. Além disso, pagamos escola de inglês. O coronavírus está interrompendo alguns sonhos. Recebemos renda de uns investimentos e imóveis no Brasil, mas o dólar alto deste jeito nos deixa muito limitados”, explica.

Brasileiros na FL se unem para ajudar pessoas em necessidade durante pandemia

As comunidades de imigrantes em todo os Estados Unidos estão enfrentando uma das piores devastações econômicas provocadas pelo novo coronavírus.

As perdas de empregos já se espalharam pelas comunidades e para os imigrantes indocumentados, os riscos são ainda maiores. Mesmo aqueles que estão legalmente, mas vieram recentemente para morar por um período de tempo menor, a vontade de ir embora tem batido mais forte.

Com passagens já compradas para São Paulo para o dia 31 de maio, a paulista não vê a hora de retornar. Os planos dela e do marido mudaram devido à crise gerada pela pandemia na Flórida.

De Ribeirão Preto (SP) e formada em Letras no Brasil, Mancuzo veio com o marido em outubro de 2018 para ficar dois anos estudando com a intenção de concluir o curso e fazer o TOEFL. Mas com a situação financeira apertando e os números de casos aumentando nos EUA, resolveram antecipar a volta.

“Me vejo obrigada a voltar antes por todas as circunstâncias. Principalmente porque os Estados Unidos estão com quase 800 mil casos já. Acredito também que os EUA voltarão ao normal mais rápido e imagino que no Brasil esteja pior que mostram os números, mas estaremos juntos de nossos familiares”, salienta.

O fato de não poder sair pelo medo de contaminação também influencia: “Não temos mais acesso aos parques temáticos e evitamos os parques ao ar livre também. Sinto depressão por não poder sair de casa. Como estou grávida, não saio nem pra caminhar pra não correr o risco de cruzar com pessoas nas calçadas”.

Avião decola do Miami International Airport. Foto: Joe Pries via Facebook MIA.

“Passa pela cabeça voltar sim”

Além daqueles que já decidiram voltar, há também brasileiros que admitem ter pensado seriamente a respeito. Como Samanta Pereira, que mora em Tampa há quatro anos com o marido e os filhos e conta que chegou a pensar em ir para o Brasil durante esse período.

“Eu pensei em voltar pelo fato da seriedade do vírus. E consequentemente pareceu que a nossa fragilidade ficou mais evidente frente à pandemia. Então eu pensei que deveria estar perto dos parentes nesse momento acho que por sentir a morte mais perto”, afirma.

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Segundo Pereira, ela desistiu depois de pensar melhor e perceber que ainda não cumpriu o objetivo pelo qual veio. “Pouco tempo, poucas realizações”, diz. E também pela expectativa da pandemia no Brasil que pode ser pior do que nos EUA.

Sem trabalho e sem renda, mas preferem ficar

Na Flórida, onde vivem mais de 300 mil brasileiros, segundo estimativa do Consulado do Brasil em Miami, parte da comunidade vive a angústia de não saber se vai ter dinheiro para o aluguel e para a comida a cada dia que passa.

Segundo o pastor Silair Almeida, que coordena a arrecadação de alimentos e entrega de cestas básicas da PIB-Florida em Pompano Beach, as filas já enchem duas horas antes da entrega das cestas. “Tem muita gente desempregada. Tem muita gente sem documento que não recebe ajuda do governo”, salienta.

Questionado se ouviu ou conhece brasileiros que falaram em voltar, o pastor diz que até famílias onde nenhum adulto está trabalhando no momento e dependem das cestas básicas doadas, não pensam em voltar. “Mesmo com a crise muitas não pensam em voltar para o Brasil porque acham que as condições lá estão piores do que aqui”, declara.

Dinamara Costa e a filha de 12 anos tentam voltar de Orlando para Brasília. Foto: arquivo pessoal.

“O que era pra ter sido um sonho virou pesadelo”

Tentando voltar para o Brasília (DF) desde o dia 23 de março, Dinamara Costa está com a filha de 12 anos em Orlando e conta que a companhia aérea (Copa Airlines) não remarcou as passagens e ela está sem dinheiro.

“Sou autônoma, vim passar uma semana com minha filha, mas aconteceu essa pandemia e a empresa aérea não me dá suporte de nada, nem para o hotel, para alimentação, nada”, desabafa. “Voltaria dia 23 de março e estou aqui até hoje numa dificuldade”.

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Mesmo tendo vindo a passeio, Costa está na luta para voltar para o Brasil. Ela trabalha com depilação em Brasília e não tinha previsto que passaria tão mais tempo do que o planejado. Ela e a filha estão atualmente em um quarto alugado por $500 em um bairro de Orlando, mas os 30 dias estão vencendo e ela não sabe como vai fazer, pois diz que não tem dinheiro para pagar por mais tempo.

“Eu pensei que antes de completar um mês nós já teríamos voltado. Aluguei um quarto por $500 dólares e é o que está nos salvando, mas dia 1° já tenho que sair. O que eu faço com minha filha de 12 anos na rua com apenas $40 dólares?”, desabafa desesperada.

“O que era para ter sido um sonho, virou pesadelo”, me organizei mais de ano pra vir conhecer a cidade e tudo fechado. Não conhecemos nenhum parque. Estamos com medo pela pandemia e dentro do quarto o tempo todo porque é estranho você estar na casa de outras pessoas que não conhece. É frustante”.

Lembrando que algumas companhias aéreas ainda estão com restrição de voos para o Brasil e retomarão as viagens somente em maio ou junho.

Brasileiros se juntam para comprar passagens para famílias em MA

As comunidades brasileiras no norte do país também passam pela mesma realidade, com pessoas escolhendo voltar a ficar nos EUA e passar fome. Em Framingham, cidade de Massachusetts que abriga uma intensa comunidade brasileira desde os anos 80, o fechamento súbito e quase total dos negócios acabou com o trabalho dos que vivem fora da economia formal.

Nas últimas duas semanas, cerca de 800 pessoas ligaram para o Brazilian American Center de Framingham, segundo informação do Metrowest Daily News. Isso é quatro vezes o número de chamadas normalmente recebidas pela organização sem fins lucrativos, que apoia a grande comunidade de imigrantes da área, diz o jornal.

“Eles nos ligam o tempo todo, o dia todo”, disse aoMetrowest, Liliane Costa, brasileira e diretora executiva do centro, completando que está ajudando também a arrecadar dinheiro para a compra de passagens para as famílias.

Mas o caminho de volta à estabilidade em Framingham não chegará tão rápido e a única saída que algumas famílias estão vendo é voltar para o Brasil, onde podem contar com redes de amigos e familiares – coisa que ainda não construíram nos Estados Unidos.

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Fonte: Gazeta News