painatal Presente de NatalComo acontece todo ano nessa época de Natal, reunimos os seis irmãos (e os agregados) com a intenção de comprar um presente coletivo para a nossa mãe. A idéia é sempre bem-vinda por todos. Com uma vaquinha se consegue dar um presente mais significativo, sem pesar demais no bolso de cada um. Até aí a conversa costuma ser tranqüila. O problema surge na hora de decidir qual será o presente.

Diz o ditado que “várias cabeças pensam melhor do que uma”. A verdade, porém, é que várias cabeças pensam mais do que uma, não necessariamente melhor.

A quantidade de sugestões ventiladas foram tantas que foi preciso organizar uma assembléia para decidir qual seria o presente mais adequado para uma senhora “madura” (para usarmos um eufemismo) que “já tem tudo o que precisa”, segundo a avaliação de alguns mais precipitados.

Lembrei, por exemplo, que ela ainda não possui uma Porsche 911 Carrera S, mas ninguém levou a sério meu comentário. Confesso que gosto de tumultuar esse tipo de encontro e sempre dou uns palpites furados com a intenção de ver o circo pegar fogo. Pois bem, pegou. Não por causa da minha Porsche e sim pela sugestão do meu cunhado, que se ofereceu para ser o depositário das contribuições e foi logo fornecendo o número de sua conta bancária. O que levantou suspeitas.

Argumentei que não poderia fazer o depósito agora porque meu 13o só sai em janeiro. Meu cunhado, um sujeito meio estranho, gestor de grandes empresas, questionou que 13o era esse, já que não sou assalariado. Aproveitei para fazer uma manifestação denunciando a discriminação contra os artistas brasileiros que, além do 13o, também não têm direito a aposentadoria. O sujeito tentou fazer uma piada: “quem mandou fugir da escola?”. Foi a gota d’água. Água é um modo de dizer, pois a essas alturas bebiam de tudo.

Como sempre acontece, o debate virou uma batalha campal e só não houve vítimas porque a Brigada Militar se fez presente. Em grande estilo, com o contingente da Unidade Pacificadora do Batalhão de Infantaria.

O comandante da tropa impôs ordem no recinto, abriu inquérito policial e, ao tomar pé da situação através dos interrogatórios, arriscou uma sugestão: “quem sabe uma geladeira com freezer?”. Pelo que tinha ouvido falar, a velha (a geladeira) já estava pra lá de Bagdá.

Levantei o dedo e fiz apenas um pequeno comentário: “é uma fria”. Foi o suficiente para que a discussão voltasse em alta temperatura e começassem a voar cadeiras.

Foi nessa hora que entrou a cavalaria, jogando gás lacrimogêneo.

Fonte: Brazilian Voice