Em um momento de muita discussão, Roberto Medronho, professor de epidemiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse à CNN que, apesar de os últimos estudos terem mostrado bons resultados de doses de reforço contra a variante Ômicron (B.1.1.529), a decisão do governo de não exigir o passaporte da vacina não é acertada.

“Na verdade, a gente fala de algumas variantes que são importantes, mas existem milhares comparadas ao vírus original. Cada vez que há uma cópia do vírus, ela pode sair defeituosa – assim como uma xerox, se você tirar um milhão [de cópias], vai haver uma ruim.

”Ele explica que o resultado do estudo da Pfizer, de que a terceira dose aumenta a imunidade contra a Ômicron, é bom, mas ainda “é muito cedo para que a gente diga que as outras vacinas serão eficazes contra as variantes.

”A cepa B.1.1.529 é diferente das detectadas até o momento. O professor explica que, neste caso, “o número de mutações na proteína S chegou a 32 – ela é a chave que abre porta das nossas células.

”Comparada à variante Delta, “a chave da Ômicron é muito mais eficiente”, avalia.

“Como houve essa mutação, nossos anticorpos podem não reconhecer o vírus. Ela dribla nossas células de defesa, interagindo com as nossas células de uma forma mais inteligente que as outras, e isso pode aumentar a transmissibilidade da Covid.”

E por esse motivo, o epidemiologista explica que o momento é de cautela. Para ele, o país deveria exigir o certificado da vacina para as pessoas que vêm ao Brasil.

“Em meu juízo, deveria se adotar o passaporte vacinal para todos que chegam ao Brasil, porque uma pessoa que desembarcar não vacinada pode disseminar o vírus entre nós. Claro que a vacinada também, mas a chance é muito menor.”

Ainda assim, ele defende o direito de quem não quer se vacinar — por motivos pessoais. Apesar disso, o direito coletivo deve se sobrepor ao individual, segundo o especialista.

“A pessoa pode ter o direito de não se vacinar, mas ela não pode ter a mesma mobilidade [que uma pessoa vacinada].”

Especialista avalia que governo deveria exigir passaporte da vacina / REUTERS/Eduardo Munoz

 
Quarentena de cinco dias

O governo federal recuou na decisão de adotar uma medida de restrição àqueles que chegam ao Brasil depois de um ataque hacker na último sexta-feira (10).

O epidemiologista critica a decisão: “Primeiro que cinco dias é muito pouco. Outra coisa, como vai ser fiscalizada essa quarentena?”

Ele lembra que dois terços dos desembarques internacionais chegam pelo aeroporto de São Paulo.

“Quem vai fazer esse controle? Meu medo é de sermos o paraíso de não vacinados, porque vai vir muita gente para cá [se não exigirmos o passaporte].”

Para ele, a pessoa [que chegar infectada], vai disseminar a Ômicron no Brasil.

“A medida mais adequada é exigir o certificado de vacinação para todos que chegarem ao país.”

O momento também é de cautela com a chegada das festas de final de ano. “Em saúde pública, devemos nos preparar para o pior esperando o melhor. Então vamos nos proteger”, finaliza.

Fonte: CNN Brasil