Com o fim do primeiro semestre, começam a aparecer as primeiras sinalizações do que poderia ser um futuro governo Lula ou Bolsonaro. No caso do primeiro, a carta de intenções divulgada essa semana traz mais do mesmo para quem espera um PT mais ao centro.

Fora a aguardada e bem-vinda volta das políticas sociais, especialmente voltadas aos direitos humanos e meio ambiente, a economia segue sendo o calcanhar de Aquiles dos petistas.

O mercado segue ainda acomodado na expectativa de que isso tudo faz parte do discurso e que lá na frente vão ter que ir para o centro e/ou as restrições econômicas vão falar mais alto.

Entretanto, a Carta ao Povo Brasileiro em 2002 veio pelo forte receio do mercado do que seria o governo PT. Hoje, o mercado entende que Lula teria um quê de primeiro mandato que tem mantido o mercado menos tenso do que naquela época.

Essa ideia de que não seria um Lula muito radical leva a que as propostas venham no tom do documento lançado pelo partido. Neste documento, a política econômica proposta segue assustando, mas talvez não tão mais do que o próprio governo Bolsonaro tem feito recentemente.

O mercado já está assustado com o que está acontecendo e um governo Lula do ponto de vista fiscal não se mostraria distante do que tem sido o governo Bolsonaro.

Mas o problema é justamente esse. Com uma situação fiscal ainda precária, em que as reformas no ICMS prometem desajustar as contas dos estados nos próximos anos, deveria haver de ambos os lados a percepção de que ainda há muito o que fazer para garantir o equilíbrio fiscal que ainda não temos.

O recente impacto dos preços de commodities e da atividade na arrecadação deve diminuir bastante em 2023 com a desaceleração mundial e o déficit primário deve voltar para a casa de 1% com a dívida bruta voltando para cima de 80%, dessa vez sem a ajuda da inflação.

O forte crescimento do PIB nominal ano passado e este ano está na conta da forte queda da dívida em comparação com o PIB, mas isso não é um ajuste fiscal, e sim um efeito espúrio da dificuldade do governo em lidar com a inflação.

Com ela se aproximando de 10% em dois anos seguidos coloca um peso muito grande no Banco Central e, consequentemente, uma alta de juros que vai pressionar a dívida cada vez mais nos próximos anos.

Mas o PT sugere desmontar a regra do teto sem colocar nada claro no lugar, desmobilizar as privatizações e voltar à velha ideia do Estado indutor de investimento e crescimento.

Pode ser moderno voltar a falar no papel do Estado, mas sem antes equilibrar e reorganizar o que existe nós vamos apenas reviver o passado não tão remoto que começou no segundo mandato do Lula.

Essa falta de entendimento crônica sobre o que fazer na economia não é mal apenas do petismo, mas cada vez fica claro que o governo Bolsonaro se perdeu em relação ao primeiro ano que reformou a Previdência.

De certa forma, o governo Bolsonaro é mais o que está agora do que era em seu primeiro ano, pressionado por uma agenda herdada de Temer e com a pressão por conta da crise de Dilma.

Ou seja, mais quatro anos de Bolsonaro não seriam iguais ao seu primeiro ano, mas mais do que estamos vendo agora, que é coerente com o que o presidente sempre pensou em sua história. Pagar a conta fiscal do gasto eleitoreiro este ano tenderá a recair não em mais reformas, mas em voltar a pensar em artifícios para burlar a regra do teto.

Com isso, os desafios fiscais serão igualmente grandes com um ou outro governo, com o agravante no caso petista de o setor privado produtivo perder espaço para um setor privado lobista que consegue espaço em Brasília.

Em compensação, as políticas social e ambiental tenderiam a ser bem melhores encaminhadas com o PT do que em Bolsonaro. Este manteria alguma agenda de concessões e privatizações, mas fica a pergunta se isso basta, assim como não basta retomar a agenda social.

Fica claro que uma agenda diferente de terceira via é mais do que necessária se quisermos pensar em crescimento no longo prazo. Caso contrário, rodaremos a esmo novamente nos próximos anos e quem vai pagar a conta será, como sempre, a população.

Fonte: CNN Brasil