Vou dar uma pausa nos textos relacionados à pandemia de Covid-19 porque ninguém aguenta mais, nem eu. Como muito pouco tem acontecido na minha vida –na vida de todo mundo, presumo–, resolvi escarafunchar as gavetas mais poeirentas da memória.

Relato, a seguir, algumas das refeições mais estranhas, bizarras e engraçadas do meu meio século de vida. Algumas são esquisitas por causa da comida, outras devido à situação. Quase tudo ocorreu em saídas a trabalho –não sou tão fanático assim por comidas escalafobéticas.

Sopa de lagarta de bicho-da-seda

A rara delícia está no cardápio do Wabar, um boteco coreano no Bom Retiro, em São Paulo. Provei na gravação do piloto de uma série de TV que não foi adiante… ainda. O gosto? Pense em queratina. Ou em casca de camarão sem aquela brisa marítima.

Sorvete de chocolate com alho

Existe, na Califórnia, uma cidade chamada Gilroy. É a capital norte-americana do alho e fica à margem da Interstate 5, a principal rodovia da costa oeste dos EUA, que corta o estado de sul a norte.

Da estrada, sente-se o perfume de alho que impregna a atmosfera de Gilroy. Numa viagem de férias com amigos, resolvemos parar numa biboca qualquer para provar as especialidades locais. Compramos sorvetes de baunilha e de chocolate, ambos com alho.

Não foi exatamente uma refeição, mas ficamos bastante tempo sem vontade de comer qualquer outra coisa.

Bifão do boi que eu vi morrer

Na apuração de uma reportagem para uma revista, amanheci em um matadouro de Ipuã, no nordeste do estado de São Paulo. Acompanhei o primeirão da fila do abate, um boi identificado pelo código 2182. Vi o animal tomar um tiro na ideia, ser sangrado, pendurado em correntes, retalhado e ter o couro arrancado de uma vez só por uma engenhoca cheia de polias.

A meu pedido, o criador daquele rebanho me enviou, dias depois, dois cortes extraídos da carcaça de 2182 –limpinhos, embalados a vácuo, eles viraram um churrasco sensacional. O primeiro da minha vida feito com um boi que eu conhecia em vida.

Café da manhã no resort nudista

Roupas são optativas em um resort que eu visitei a trabalho, em 2013, no Caribe mexicano. O hotel é frequentado por casais adeptos do swing e do naturismo. Em sua maioria, gente que hoje seria do grupo de risco do coronavírus, por causa da idade avançada.

O lugar exige panos para cobrir o corpo apenas nos restaurantes, por questão de higiene. Mesmo assim, os hóspedes dão um jeito de usar os menores e mais transparentes trajes até no bufê do café da manhã. Todos os dias já começam em alta voltagem nesse pedaço da Riviera Maya.

Foi nessa viagem que eu conheci os autênticos huevos mexicanos no desayuno. Se é que você me entende.

 

Cerveja de tomate

Fiquei na dúvida se essa aconteceu de verdade ou apenas em sonho. Consultei o oráculo Google e confirmei: existe mesmo um lugar chamado Casa do Tomate na Serra Gaúcha. Eu estive lá uns anos atrás.

A loja oferece uma degustação dos mais variados produtos à base de, é claro, tomate. Além dos tradicionais molhos para macarrão, há coisas como o tomate em calda, a barra de chocolate branco com tomate seco er o bombom de tomate.

Tem também a famigerada cerveja de tomate, que eu fiz a bobagem de pedir e tomar.

 

Sushi de cavalo

Muitos anos atrás, um restaurante japonês de Pinheiros anunciou uma curta temporada de pratos com basashi –carne crua de cavalo. Arrastei minha mulher para lá. Pedimos sushi de cavalo. Não me lembro do gosto, porque não o havia. Minhas recordações são de uma carne extremamente dura, quase impossível de mastigar para engolir. E da conta, que veio galopantemente alta.

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Fonte: Folha de S.Paulo