Assim que for possível viajar, o jornalista e colunista do caderno de Turismo da Folha Zeca Camargo gostaria de ir para Buenos Aires.

Zeca foi o convidado desta sexta (19) da Ao Vivo Em Casa, série de lives da Folha, e conversou com a jornalista Teté Ribeiro.

A capital argentina foi a primeira cidade estrangeira que ele conheceu, quando ainda era criança. Suas viagens em família eram encaradas como uma oportunidade de aprendizado.

“Tinha uma enciclopédia Barsa em casa e eu e meus irmãos tivemos que ler o verbete de Buenos Aires antes de ir. Era uma preparação que nos deixava mais à vontade quando chegávamos na cidade”, afirma.

A cidade portenha está entre os cinco destinos preferidos do colunista, que já conheceu 114 países e completou quatro viagens de volta ao mundo. Juntamente com Lisboa, Paris, Bancoc e Istambul, são lugares para os quais ele tenta viajar todos os anos —mas talvez não em 2020.

Zeca questiona se os viajantes brasileiros serão bem recebidos pelo mundo depois da Covid-19. “Hoje, tem um estigma muito ruim com os brasileiros, porque vivemos em um país que dá pouca atenção à pandemia, e isso tem um eco lá fora.”

A diferença no tratamento dado à pandemia no Brasil e na Argentina, por exemplo, é uma possível fonte de problema para os turistas. “Os argentinos olham para o Brasil como um país muito irresponsável no combate à Covid-19, e isso pode aumentar a antipatia aos brasileiros”, diz.

O que pode ajudar os viajantes nacionais, afirma Zeca, é a miscigenação, que torna difícil identificar à primeira vista quem é brasileiro —e discriminá-lo. “Temos todas as tonalidades e traços, dificilmente vamos ser apontados na rua como um vetor de contaminação.”

Já o tratamento na imigração dos aeroportos pode ser distinto. O jornalista prevê um rigor maior nos questionamentos feitos aos viajantes. Mas essa é só mais uma parte da viagem de avião que será afetada pela pandemia.

Antes de embarcar, todo cuidado é pouco ao tocar em itens do free shop ou tomar um café enquanto aguarda o embarque. Nos voos, nada de ficar batendo papo com outros passageiros na fila do banheiro. O distanciamento social deve ser mantido, assim como o uso de máscaras.

“Os relatos que temos é que é uma viagem mais espartana, mesmo para quem viaja de classe executiva”, afirma. “Será uma viagem mais tensa, o que pode complicar a situação para quem já tem uma tensão natural em viajar de avião.”

Segundo o colunista da Folha, as medidas para evitar aglomerações nos pontos turísticos também farão com que o viajante repense o seu roteiro. Se uma pessoa tiver três dias em Paris, talvez não queira passar um dia todo na fila para visitar a Torre Eiffel.

Zeca imagina que os museus funcionarão com visitas em hora marcada e que passear por esses espaços vai exigir muita educação dos turistas, para acatarem os novos protocolos de distanciamento.

Outro fator que vai impactar as viagens dos brasileiros depois da Covid-19 é o preço. “A pessoa que sonhava em tomar um café em Paris vai desembolsar no mínimo R$ 60 em um café e um croissant, o orçamento da viagem dos sonhos será reescalonado”, diz.

Além da moeda, viajar pode ficar mais caro porque as empresas do turismo precisarão correr atrás do prejuízo de tantos meses sem atividade.

Nada disso, porém, desanima o jornalista em voltar a fazer as malas. “A necessidade humana de viajar é infinita, seja por instinto, lazer, trabalho ou pelo conhecimento. Não nascemos para ficar no mesmo lugar.”

Zeca conclui neste mês sua passagem de 24 anos pela Rede Globo, onde atuou como repórter e apresentador. Para o futuro, ele planeja explorar a produção de conteúdo para redes sociais e streaming. “O que se descortina para mim é uma enorme possibilidade de formatos e assuntos”, diz.

A série Ao Vivo em Casa é transmitida no site da Folha e também em seu canal no YouTube, onde é possível mandar perguntas para os entrevistados.

Às sextas, Comida, Ilustrada e Turismo se revezam nas lives às 17h, para ouvir especialistas e trazer histórias e dicas de gastronomia e cultura durante a quarentena —e ajudar a se planejar para o que virá depois desse período.

Fonte: Folha de S.Paulo