O cerumano só é infalível em duas coisas:

  1. Falhar
  2. Apontar a falha do outro

Todo mundo já pegou para si a maior fatia do bolo. Todo mundo já pisou na bola com alguém. Todo mundo já flertou com alguém que não deveria flertar. Todo mundo já justificou uma merda que fez com o clássico “foram só 5 minutos”. Todo mundo já desfez amizade porque o amigo vacilou. E todo mundo já acobertou o vacilo do amigo, em nome da amizade.

Essa contradição ganhou tons escandalosos na pandemia. É a combinação do isolamento –em seus variados graus, a gosto do freguês– e os julgamentos sumários das redes sociais, após imprudente exposição do delito, lá mesmo.

O Felipe Neto foi bater bola com os amigos. O Zé das Couves não aguentou a saudade do boteco. A Dona Marocas retomou as sessões de massagem. O João e a Maria se conheceram no Insta, a conversa engatou, então, pá!, ambos tiraram o atraso sexual numa furtiva noite de terça-feira.

Felipe, Zé, Marocas, João e Maria usam máscara, passam álcool em gel, fazem compras online, defendem a ciência e xingaram o Neymar por causa da festa de Réveillon para 150 pessoas em Mangaratiba.

Será que Felipe, Zé, Marocas, João e Maria não são iguais ao Neymar? Não seríamos, todos nós, o Neymar na festa de Réveillon? Apenas um pouco mais hipócritas?

Não.

Faz parte do jogo falhar, pisar na bola, vacilar de vez em quando e digerir esses erros, procurando sempre agir melhor. O aprendizado se dá assim, com algumas notas vermelhas ao longo do percurso.

Neymar parece ser incapaz de entender essa dinâmica. Criado numa redoma, o menino mimado não tem um pingo de traquejo social, de senso comunitário. Reparem nessas palavras: “social”, “comunitário”. Lembram “socialismo” e “comunismo”, não?

É o pensamento vicioso que as bestas hidrófobas da extrema direita incutiram em todos os tios de churrasco do Brasil: qualquer ato ou discurso em defesa do bem coletivo é coisa de marxista, de bolchevique. Do Diabo, em suma. E ninguém que um dia falhou pode criticar quem falha por gosto e vocação.

A sociedade, ops, o mundo ideal dessas pessoas é um pega-pra-capar em que cada um tem um fuzil para proteger os filhos e a comida.

Neymar é fruto dessa visão sórdida de mundo. Ele acha OK fazer chover dinheiro e bancar uns desqualificados para limpar a lambança que ele fez.

Neymar está cagando para todos nós.

Neymar não vale a grama que o Bolsonaro comeu na Vila Belmiro.

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Fonte: Folha de S.Paulo