Almoçar fora no Dia das Mães é mais do que sádico e masoquista. É burro. Você sabe que vai dar muito errado. E, ainda assim, se entrega à roubada como um cordeiro sacrificial.

Duas datas são celebradas anualmente pelos donos de restaurante: o Dia dos Namorados e o Dia das Mães. Porque o salão enche, o que só é bom para o caixa do estabelecimento. Você espera por horas, come mal e é tratado como lixo por garçons extras, contratados uma hora atrás –a mão-de-obra adora dar sumiço nessas ocasiões.

Para o jantar dos pombinhos, o setor conta com alguma previsibilidade. Mesas para dois, menus fechados para dois. O segundo domingo de maio é o caos.

Grupos de duas a 16 pessoas. Todos os seres que não frequentam restaurantes emergem da cripta. O casal de artesãos encara o ônibus desde São Tomé das Letras para comer camarão às custas do sogro. O hacker antissocial mete o coturno e a jaqueta da Segunda Guerra para ver o Sol pela primeira vez no ano.

É preciso, antes, preocupar-se com a própria fauna. Perdão, com a própria família.

Sinto dizer, mas um bom planejamento não adianta coisa alguma.

Você marca o almoço para o meio-dia, na ilusão de chegar cedo e encontrar o restaurante vazio –a casa, obviamente, não aceita reservas. Sai às 13h, pega meia hora de trânsito em frente às bancas de flores da Doutor Arnaldo e chega ao lugar às 14h. O lugar é a casa da mãe, que você vai buscar para almoçar do outro lado da cidade.

Quase atropelando a multidão no meio-fio, você entrega o carro ao manobrista (R$ 45) do restaurante às 15h15. Cadê a mana, que iria chegar antes? No celular, uma mensagem dela: “Precisei passar rapidinho no shopping, pede mesa para nove”.

“Para nove pessoas, o tempo estimado é de duas a três horas”, informa a hostess. “Idoso não é prioridade?” Só tem prioridade no restaurante, mané.

As pessoas vão chegando, você vai se entupindo de amendoim e birita. Quatro caipirinhas (R$ 160) mais tarde, surge uma mesa. Você conta a parentada para ver se está todo mundo lá.

“Somos oito. Quem está faltando? Como assim, a Talita? Ela não ia para o retiro vegano?”

Eis que Talita aparece enquanto o resto da família examina os cardápios.

“Churrascaria Boi Sangrando, tio?!?! Vocês não têm a menor consideração por mim!”. E corre aos prantos para o banheiro.

Depois de alguns minutos de balbúrdia, algazarra e furdunço na mesa, a matriarca levanta a voz.

“Não podemos fazer isso com a minha netinha. Vamos procurar outro lugar.” São quase 18h, está escuro lá fora.

Vá por mim. Sua mãe não merece essa tortura. Fique em casa. Cozinhe. Ou compre uns frangos assados. E uma torta de escarola para a Talita.

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Fonte: Folha de S.Paulo