Churros, na Espanha, são como uma variante local dos bolinhos de chuva. Uma massinha frita para acompanhar café, chocolate ou chá.

No Brasil, eles viraram comida de rua. Desde que me entendo por gente, vejo carrinhos com o letreiro “churros recheados”. O recheio é doce de leite. Sempre inventam alguma moda, mas o doce de leite é soberano.

Graças aos letreiros dos ambulantes, ocorreu a mágica da gramática paralela, em que a palavra “churro” perdeu a forma singular. É um churros, dois churros, três churros. Tal e qual ocorre com o óculos e o patins.

Nos últimos anos, as mentes inovadoras da doçaria brasileira decidiram transformar o churros em um sabor aplicável a sorvetes, bolos, pudins, tortas, pastéis e o que estiver pela frente.

Se churros são farinha frita com doce de leite, o que caracteriza o tal sabor churros? Doce de leite. E canela, que vai misturada com açúcar sobre os churros fritos, mas também faz parte da maioria das receitas brasileiras de doce de leite.

Então, algo sabor churros é basicamente qualquer coisa com doce de leite.

Aí um amigo me envia, pelo WhatsApp, a foto de um produto fabricado pela Nestlé. Um potinho de pasta sabor churros para passar no pão, no bolo ou na bolacha. Tem cara de doce de leite. Vou ver os ingredientes: leite, açúcar, canela e aromatizantes. É doce de leite. Desses aromatizantes, eu tenho até medo.

A indústria tenta vender –e tenho certeza de que vende– um doce de leite sabor churros. Ou seja, um doce de leite sabor doce de leite. Exemplo candidamente didático dos absurdos que o marketing perpetra para fazer o consumidor pagar mais por um artigo banal.

Já vi muitos produtos picaretas nas gôndolas do mercado, mas esse aí é campeão.

Se você quiser fazer “churros de passar” em casa, tente esta receita e troque a baunilha por um pouco de canela.

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Fonte: Folha de S.Paulo