Visite e ame-nos. É o melhor que podemos fazer para convencer o turista a vir ao Brasil

Bom, talvez essa não seja a versão mais fiel em português do novo slogan lançado há alguns dias pela Embratur, que livremente adaptou a frase para nossa língua como “visite e encante-se” (“visit and love us”, no original). Mas quando a ideia já é ruim de início, não há tradução que salve.

Viajando pelo mundo, comecei a colecionar impressões de gente de todos os cantos sobre o nosso país. Não só relatos de viagens, mas também uma colcha de retalhos da ideia que os estrangeiros fazem do Brasil. E o retrato que sai dessas conversas é bem curioso.

O primeiro elogio é sempre para a natureza. Depois de uma ou duas cervejas, já se estende para a beleza da nossa gente. E eu sempre acho melhor parar com os drinques antes que as referências fiquem gráficas demais! 

Em geral, quem está longe tem a ideia de um país alegre, o que é sempre uma coisa positiva. Mas limitar nossa identidade a um cartão-postal de festa animada é, claro, diminuir a riqueza do nosso mosaico cultural. 

Por isso, admito: escolher um slogan para “vender” um país não é tarefa simples. 

O que, claro, não é desculpa para um desastre como essa campanha da Embratur.

“Visit and love us” é uma cornucópia de desacertos. Tantos e tão toscos que devo admirar o texto do “viajante de cátedra” Ricardo Freire —responsável pelo riquíssimo blog Viaje na Viagem—, que se deu ao trabalho de organizar os pontos mais graves numa impagável lista de sete erros.

Com curiosidade de viajante, repórter e (por que não?) publicitário, Freire desconstrói brilhantemente o slogan, da sua leitura truncada (mesmo em inglês) à nefasta conotação sexual sugerida por ninguém menos do que o responsável por combater primeiro esse tipo de turismo.

A vontade de pegar carona nos comentários de Freire é grande. Eu já listei mais uns quatro motivos para odiar “Visit and love us”, mas seria um tanto derivativo.

Achei que poderia ser mais útil oferecer alternativas de mensagens que pudessem realmente não só seduzir o turista potencial como descrever nosso povo e nossa terra com orgulho, equilíbrio e clareza.

E por isso retomei minhas anotações sobre as impressões que os forasteiros com quem cruzo pelos quatro cantos do planeta têm do nosso país. 

Como já esbocei, são opiniões das mais variadas, entre as quais, à primeira vista, dificilmente se vê um denominador comum.

Mas há, sim, um ponto para o qual todos os relatos que guardei parecem convergir: a paixão. Seja na música. Seja na dança. Seja na fé. Seja no fogão. Seja no esporte. O futebol, claro, aparece com proeminência, mas qualquer torcida que tenha cruzado com a nossa numa Olimpíada sabe como conseguimos ser apaixonados em qualquer quadra. Seja onde for!

O que fazemos ou, ainda, o que mostramos para o mundo que fazemos bem, vem sempre embalado por uma paixão enorme. Está nos desfiles da Sapucaí no Rio de Janeiro, na procissão de Nazinha (Virgem de Nazaré) no Círio de Belém. Está nas arquibancadas dos estádios e nas pipocas dos trios elétricos. Nos sertões e nas florestas, nas praias e nas chapadas. Está no nosso coração.

Por isso, humildemente, deixo aqui a minha contribuição, caso alguém improvavelmente queira mexer no tal slogan. 

Poucos sabem, no entanto, que, antes de ser jornalista, formei-me em publicidade. Mas não é disso que me gabo ao oferecer tal sugestão. 

Criei uma frase para o meu Brasil inspirado menos pela minha formação acadêmica do que pelo amor que sinto por nossa gente e por nossa terra. Você até já a leu e não percebeu: está no título da coluna de hoje.

A gente entende de paixão. Funciona até em inglês, olha: “Brazil – we know about passion”. Quem há de resistir a um convite desses? 

Aí está, pode usar!

E depois a gente acerta a minha comissão.

Fonte: Folha de S.Paulo