Eu não deveria lhe dizer essas coisas, mas a verdade é que hoje poderia muito bem não ter escrito este texto. Sabe o que é? Tenho pensado no quanto temos todos falado tanto. Será que precisa? A razão do meu abuso tem nome, deve ter, não perguntei.

Explico. Ontem eu estive na Paulista, adoro. Mas não fui a passeio. É que meu celular quebrou, e quebrou de um jeito tão bobo, caiu no chão, do nada para o nada, mas espatifou-se inteiro. Inteiro não, aos (muitos) pedaços e parou imediatamente de funcionar.

Eu passei na primeira assistência técnica que vi e pedi o conserto, quase que sem perguntar o quanto custava. Sei lá, quanto custa um conserto de celular? R$750, me respondeu a moça do balcão fingindo demência. Escuta, por R$750 se compra outro desses.

Bem, eu pensei que comprava, mas não compra não. Fiquei sem agenda, sem comunicação, sem spotify, sem tudo do que preciso para administrar os dias, mas adoro pensar que não preciso, quase que presa em um engarrafamento infinito sem carro. Inferno.

Planejei ficar parada, sem fazer nada, esperando o problema se resolver sozinho. Um dia eu esqueceria que o telefone quebrou, apertaria o botão e ele, também esquecido da mágoa da queda, voltaria a funcionar como antes. Nada feito. Liguei de assistência em assistência e a coisa variava de R$800 a R$700 no máximo.

Aí apelei para a Paulista, como quem sai distraída de casa para andar sem rumo, e assim, por acaso, encontra alguém com uma placa enorme dizendo que consertaria o que estava quebrado por um preço justo.

Achei a placa e acertei o serviço por R$300. Fui louca? Por favor, não confirmem, já paguei.

O moço me pediu duas horas e meia para devolver o aparelho, eu reclamei, mas depois, como era de costume, obedeci. A lojinha ficava colada com uma livraria e um café e eu agarrei no livro novo do Chico, com todo cuidado do mundo para não dobrar as páginas durante a leitura, e me alegrei por passar o tempo assim, tão bem acompanhada.

Na mesa exatamente ao lado da minha, conversava um grupo de três homens e uma mulher. Na real, conversava um grupo de três homens.

Ela era interrompida a cada tentativa de fala, pelos três, que pouco a pouco, se enchiam de orgulho do que era dito e aumentavam o volume da voz como que para presentar os frequentadores do café com as suas pérolas.

Como um conjunto, eram insuportáveis. Falavam sobre literatura, sobre a opinião dos críticos, sobre a qualidade do leitor, a diferença entre ser gostado e ser grande. Pelo que entendi, não eram gostados e se consideravam enormes.

Um deles, em especial, chegou a dizer que a literatura brasileira lhe devia um tanto. Contribui mais com as suas palavras para o Brasil do que recebeu das palavras dos nossos escritores. Minha gente. Senti medo e desprezo ao mesmo tempo.

O que a moça calada fazia ali? Por que balançavam os outros a cabeça em concordância. Que vergonha gritar interrompendo a leitura dos demais. Era uma livraria, livrarias não são primas das bibliotecas onde o silêncio é sempre bem vindo? Nossa. Pois bem, era isso. E o telefone? Funcionando perfeitamente, nunca foi tão amado como agora.

O livro deixei por lá, para nunca mais lembrar dos excessos do grande escritor sentado à mesa da paulista. Deus me livre! Que delícia se houvesse conserto rápido e a preço justo para esse tipo de mal funcionamento, não? Boa semana, queridos.

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Fonte: Gazeta News