Dois casos aparentes de suicídio de jovens que sobreviveram ao tiroteio da Marjory Stoneman Douglas High School, em fevereiro do ano passado, colocaram a comunidade de Parkland em alerta. Oficiais, parentes e profissionais de saúde tentam encontrar soluções comuns para evitar novas tragédias.

No dia 17 de março, a ex-aluna da Stoneman Douglas High School Sydney Aiello, de 19 anos, diagnosticada com stress pós traumático morreu em sua casa em Coconut Creek, de acordo com autoridades. Menos de uma semana depois, no sábado, dia 23, Calvin Desir, de 15 anos, foi encontrado morto, de acordo com o Departamento de Polícia de Coral Springs. Em ambos os casos, a causa da morte indica para suicídio.

A onda recente de suicídios relacionados a tiroteios em massa não se localiza somente no sul da Flórida. Na segunda-feira, dia 25, Jeremy Richman, cuja filha foi uma das 26 vítimas do tiroteio na escola Sandy Hook, em Connecticut, em 2012, foi encontrado morto em um aparente suicídio.

Muitas pessoas se referiram aos suicídios dos alunos de Parkland como as últimas vítimas do massacre de fevereiro de 2018 que deixou 17 pessoas mortas. Muitos postaram no Twitter a mensagem: “17+2”. “Não tem como não sofrermos com um suicídio. Sempre nos perguntamos como as pessoas não perceberam os sinais. Sempre há sinais. E o mais triste é que é muito fácil falhar”, disse a psicóloga brasileira em Davie, Karina Lapa. “Em nosso meio vemos que infelizmente existe um efeito cascata no suicídio, ainda mais entre
adolescentes. Sempre que há um caso em uma escola, vai haver outro ou na mesma escola ou na comunidade. Infelizmente é uma coisa que vemos acontecer com frequência”.

As Escolas Públicas do condado de Broward anunciaram na segunda-feira, 25, que pais e representantes de mais de 10 organizações no condado se reuniram no domingo para “discutir o que podemos fazer para ajudar estudantes da MSD e crianças em todo o condado a lidarem com trauma e depressão”;Um plano preliminar foi criado para uma campanha em toda a comunidade para alcançar e
capacitar os pais com ferramentas para ajudar a proteger seus filhos. O primeiro passo foi desenvolver uma mensagem comum para que pais e jovens entendam os mesmos sinais e onde procurar ajuda”, disse parte da declaração. “É importante que os pais conversem com seus filhos e sejam capazes de reconhecer sinais de crises pessoais que poderiam levar ao suicídio.

De acordo com a American Psychological Association, os índices de suicídio aumentaram 33% nos Estados Unidos de 1999 a 2017. O suicídio é a 10 a causa de morte nos EUA. Casos foram de 10,5 para 14 por 100 mil habitantes. O aumento foi ainda maior desde 2006.

O suicídio é a quarta maior causa de morte de pessoas com idades entre 35 e 54 e a segunda causa entre pessoas de 10 e 34 anos. Em Broward, de dois a cinco casos de suicídio acontecem a cada ano, embora o número tenha aumentado para 15 em 2016, de acordo com dados do estado publicados pelo Sun Sentinel.

Onde falhamos?

Quando acontece um suicídio, a pergunta comum entre famílias, autoridades e mesmo órgãos nacionais e internacionais é: onde falhamos? “Eu não sei exatamente quais são as falhas. O que penso muito a respeito, é que não só aqui em Parkland mas como na maioria das cidades, não existem programas para jovens, lugares onde eles possam se encontrar, escutar música, conversar, algo destinado a eles principalmente, como temos no Brasil”, reflete Daniela Lemos, cujo filho mais velho se formou na MSD meses depois do ataque e a filha entrou logo depois.

“Vejo que no ônibus da escola da minha filha deve ter em torno de 30 ou 40 alunos diários. Eu nunca vejo essas crianças, em lugar nenhum do condomínio. Todas passam os dias em seus quartos, junto a seus smartphones”. Daniela diz que sente falta de programas direcionados aos jovens para que eles se socializem além da escola e das redes sociais.

Karina Lapa concorda que as redes sociais contribuem muito para os casos de depressão. “De acordo com pesquisas as redes sociais têm aumentado os casos de depressão e ansiedade entre os jovens”. Além disso, Karina diz que as falhas podem estar em diferentes âmbitos. Nas escolas, por exemplo, não há um programa para localizar alunos deprimidos ou que estejam ansiosos demais, ou sofrendo algum tipo de abuso em casa, de acordo com Karina. Em casa, os pais vivem correndo e podem não prestar atenção aos sinais, ainda de acordo com a psicóloga.

Saúde mental em foco

Segundo Karina Lapa, é muito importante falar da questão da saúde mental. “Não é porque os índices de suicídio aumentaram que virou uma condição humana nossa. Todos podem se suicidar, mas somente pessoas com uma doença mental que não foi localizada nem tratada é que realmente executam o plano”.

“Sobreviventes de tiroteio podem sofrer de depressão e post traumatic stress disorder, colocando-os em maior risco de suicídio, disse Dr. Jan Faust, professor de psicologia na Nova Southeastern University e especialista em PTSD entre crianças e adolescentes. “Eu diria a pais cujos filhos tenham sido tocados pela tragédia mesmo que remotamente deveriam passar por uma avaliação psicológica”, disse Faust.

Ferramentas

Pais e familiares estão sendo encorajados a usar o Protocolo de Columbia. Também conhecido como Columbia-Suicide Severity Rating Scale (C-SSRS), trata-se de uma forma de ajudar a determinar quando alguém está sob o risco de suicídio e como ajudá-lo.

O questionário contém seis perguntas, mas as respostas dão informações suficientes para determinar se alguém precisa de ajuda e se alguma ação imediata é necessária.

As perguntas são:

1 Você já desejou morrer ou ir dormir e não acordar nunca mais?
2 Você já pensou em se matar?
3 Você já pensou em como você faria isso?

4 Você já teve alguma intenção de agir em relação a esses pensamentos de se
matar ou você já teve esses pensamentos mas nunca agiria em relação a eles?
5 Você já começou a trabalhar em algum plano para por em ação esses
pensamentos?
6 Você já começou a fazer alguma coisa para acabar com sua própria vida?
(Como colecionar pílulas, conseguiu uma arma, se desfez de seus pertences,
começou ou já escreveu uma carta de suicídio, se cortou, tentou se enforcar,
etc.)

Sites importantes para buscar ajuda:

suicidepreventionlifeline.org
fisponline.org
cssrs.columbia.edu

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Fonte: Gazeta News