Foto35 Dead Kennedys Banda de punk “mira” na política armamentista de Bolsonaro
O pôster polêmico anuncia a turnê que a banda americana Dead Kennedys fará pelo Brasil

O pôster rapidamente viralizou nas redes sociais e alcançou os trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter no Brasil

Uma família de palhaços veste camisas que remetem à seleção brasileira, mas, no lugar do brasão da CBF, há uma cruz. Eles se entreolham e sorriem. O filho mais novo admira seu rifle como se fosse um brinquedo, enquanto o mais velho, também portando uma arma, olha para os pais e comenta, orgulhoso, que “ama o cheiro de pobres mortos pela manhã”. Ao fundo da cena, uma favela arde em chamas. Detalhe: Num país de maioria negra ou mestiça, todos eles são caucasianos. Fácil prever, o pôster causou polêmica no Brasil e inúmeros simpatizantes da administração atual acusaram o cartunista Cristiano Suarez de atacar a política armamentista do Presidente Jair Bolsonaro. O assunto foi destaque no jornal carioca O Dia.

A ilustração do pôster de divulgação da turnê da banda de punk rock americana Dead Kennedys, no Brasil, rapidamente viralizou nas redes como uma crítica ao governo Bolsonaro e alcançou os trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter no país. Entretanto, o artista por trás da obra, o alagoano Cristiano Suarez, de 32 anos, explicou que a intenção dele não era apenas criticar um presidente ou um partido político, mas sim a “classe média armamentista e conservadora”.

“Eu não estou apontando o dedo necessariamente para o presidente, mas sim para a sociedade, que é uma preocupação muito maior”, afirma Cristiano: “A família de palhaços é um estereótipo que já existia muito antes do Bolsonaro se tornar candidato à presidência”.

Em entrevista ao DIA, o artista, que diz estar “assustado com a repercussão” do pôster, comentou a real intenção por trás dos símbolos que compõem o desenho. Uma das razões que levou a ilustração a ser apontada como uma crítica direta ao presidente da República é o fato de que o pai da família está vestido como o palhaço Bozo, uma das formas que a oposição usa para se referir a Bolsonaro. Cristiano explica, contudo, que essa é uma referência direta a uma música da banda, da qual é fã desde a adolescência.

“Muitas referências que estão aí apenas os fãs de Dead Kennedys vão perceber. No caso do Bozo, é uma referência à música Rambozo the Clown”, explicou.

A música é uma brincadeira com dois ícones da cultura americana, Rambo e Bozo, e também uma crítica irônica sobre como a guerra foi banalizada. “A guerra é divertida”, ela diz em determinado momento. “Qualquer criança pode conquistar a Líbia, basta roubar um avião de caça”, diz outro verso. A música faz parte do álbum “Bedtime for Democracy” (Hora de dormir para a democracia, em tradução livre), lançado no fim da década de 80, como crítica direta ao governo conservador Ronald Reagan.

Cristiano explica que tentou usar, na sua ilustração, a mesma ironia presente nas letras do Dead Kennedys. O artista afirma que a cruz estampada na camisa verde e amarela não é uma crítica a nenhuma religião, mas sim “à mentalidade conservadora do brasileiro que pensa que tradição, propriedade e família estão acima de tudo”.

Trata-se de uma crítica à “classe média que acha que bandido bom é bandido morto, quando na verdade a gente precisa de educação, e não de mais tanques na rua”. “O brasileiro quer ter uma arma a todo custo, como se ter uma arma fosse a solução de todos os problemas”, concluiu Suarez.

Cristiano, que também é publicitário, já foi apontado como um dos 200 melhores ilustradores entre 2018 e 2019 pela “Lürzer’s Archive”, revista especializada em publicidade. Ele já fez ilustrações para bandas nacionais e internacionais, como Pennywise, Ratos de Porão, Natiruts e Dwarves.

Fonte: Brazilian Voice