SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em entrevista a Giovanna Ewbank e Fernanda Paes Leme no podcast “Quem Pode, Pod”, Taís Araújo relembrou uma fala racista que ouviu de um colega na emissora Globo. Também ator, ele teria afirmado que não conhecia “nenhum negro bem-sucedido” que não fosse “prepotente e arrogante”, disse Araújo, sem citar nomes, em episódio veiculado nesta quarta-feira (2).

Araújo afirma que questionou então o ator, com quem dividia um carro. “Será que é você que não está acostumado a ver negros em lugares de poder e só os entende num lugar de subserviência. E se eu não estiver subserviente a você, você acha que é prepotência?” Segundo ela, ele não respondeu.

A fala de Taís Araújo foi provocada por Ewbank, que contou que quando trabalhava na Globo ouvia com frequência nos bastidores que Araújo era “metida”. “Com o tempo, comecei a perceber que você não tem nenhuma história de tratar alguém mal, você é sempre muito educada. E comecei a refletir”, narra Ewbank, “a entender que a posição da mulher preta num lugar de boa profissional incomoda”.

Embora o episódio tenha sido gravado antes do caso de racismo sofrido pelos filhos de Ewbank Titi e Bless em Portugal, no último sábado (30), a conversa também envolveu como a postura de Ewbank mudou depois da adoção.

Ao discutirem “Medida Provisória”, filme protagonizado por Taís Araújo -e dirigido por Lázaro Ramos, seu marido- que imagina um futuro em que todos os negros do Brasil são forçados a se mudar para o continente africano pelo governo, a atriz afirma que não acredita que o embate seja necessariamente a melhor maneira de lidar com comentários racistas.

“Você escolheu ter filhos negros. Então você não passou por nada do que os seus filhos passaram, vão passar e estão passando. Você dando porrada em uma pessoa branca é encarado de uma outra maneira que eu dando porrada numa pessoa branca”, diz Araújo.

“Entendo total isso de ‘tem que dar porrada’. Só que a gente está dando porrada desde sempre. Então às vezes ela é uma estratégia, mas às vezes a estratégia é o diálogo, às vezes é o afeto, às vezes é ignorar. Porque senão não dá para viver, fica pesado demais”, diz ela.