Relacionar-se significa tirar a máscara. Quanto mais profundo o relacionamento desejado, maior a nudez da alma. Despir a alma é possível, muitas vezes o procurado… Mas o que encontramos sob a purpurina e os confetes?

Encontramos nossos medos, traumas, complexos, infantilismos, feridas.

Surgem os problemas. Fica-se na dúvida se o relacionamento é o certo, se estamos agindo bem, se a outra pessoa é confiável e etc.

Afinal, será que não é melhor manter a máscara? Proceder com extrema cautela? Acontece que às vezes de tanto ficar com a máscara nem sabemos mais quem somos…

É bom saber, porém, que é inevitável aquele despir da alma que leva a um certo caos relacional. Apesar de buscarmos relacionamentos para seremos amados, a verdade é que relacionamentos são, por assim dizer, escolas aceleradas. Um relacionamento apressa o aprendizado ou precipita a relação no abismo.

O que fazer?

Manter-se na relação para nos tornarmos conscientes das questões que emergem. E, observação: elas emergem em etapas, camadas, temáticas. Não será uma avalanche só, serão várias. Quantas – só Deus sabe, mas é certeiro que uma hora as águas irão se acalmar e – se a relação tiver sobrevivido – entrará finalmente naquela calma serena que havíamos buscado desde sempre.

Só que agora estamos conscientes, conquistamos outro patamar. A relação que existe agora é a entre duas pessoas conscientes que “se possuem” como indivíduos e se conhecem no relacionamento. Duas pessoas que desenvolveram presença, humildade e infinita disposição para questionar e evoluir, sem resistência, sem corpo mole, cobrança e (auto)sabotagem.

Conscientização é um processo que não termina. Quando finalmente nos adaptamos ao constante fluxo de descobertas e tomadas de consciência não conseguiremos viver mais naquela condição de repetição de papéis, expectativas e comportamentos. Estar presentes à vida requer uma condição de constante abertura aos movimentos internos, tanto intuições como pensamentos que emergem. Para ir adiante é preciso desapegar-se do passado, incluindo aquelas nossas ideias de nós mesmos, do outro, de como deveria ser uma relação que desenvolvemos semana passada.

Os relacionamentos, sobretudo os amorosos, vêm poluídos por fantasias de todo tipo. Muitas vezes o casal se relaciona na base de puras fantasias, imitando modelos estereotipados de vida e clonando identidades tiradas da mídia. Logo abaixo desta primeira crosta sufocante, encontramos as problemáticas pessoais que se originaram na infância, lá quando o seio familiar era o nosso mundo inteiro, que buscam sua desesperada compensação e superação. Muitos casamentos ficam atrelados à repetição de neuroses familiares e continuam assim até seu triste fim.

Quando superamos esta camada, após muito trabalho interior, individual e muitas vezes com a ajuda do outro, chegamos à grande questão sobre quem realmente somos, o que queremos e para onde estamos indo. Nessa fase, o casamento pode vacilar porque sua razão de ser pode ter sido somente a de responder a uma problemática infantil e agora que esta foi superada, será que sobrou alguma razão para estarmos junto com a outra pessoa?

Se os dois evoluíram há uma boa chance de permanecerem juntos pois frequentemente as neuroses não são o único motivo pelo qual duas pessoas estão juntas.

Como bem disse o filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), o coração tem razões que a própria razão não compreende – e descobri-las é a vocação de toda relação.

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Fonte: Gazeta News