DANIELLE CASTRO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Estudo clínico conduzido com 60 pacientes hipertensos demonstrou que a ioga pode ser uma aliada eficaz para quem tem problemas cardiovasculares. A pesquisa canadense comparou dois grupos de voluntários e constatou uma melhora significativa na frequência cardíaca e na pressão arterial em repouso dos que fizeram ioga em vez de alongamento antes de outros exercícios.

O projeto foi realizado durante três meses e, nesse período, os participantes foram submetidos a rotinas físicas cinco vezes por semana. Os treinos diários consistiam em 15 minutos de ioga para o grupo 1 e o mesmo tempo de alongamento para o grupo 2, com uma sequência de 30 minutos de atividades aeróbicas iguais para as duas turmas.

Os resultados confirmaram que, apesar de similares, alongamento e ioga têm diferenças importantes. As evidências sustentam inclusive que este último, devido a sua variedade e intensidade, pode ser igual ou superior em benefícios cardiovasculares ao próprio exercício aeróbico. No entanto, ressaltam que mais pesquisas são necessárias antes que a ioga possa ser adicionada às diretrizes de reabilitação cardíaca.

Os dados foram publicados no Jornal Canadense de Cardiologia de 2022. O artigo recebeu o título “Impact of Yoga on Global Cardiovascular Risk as an Add-On to a Regular Exercise Regimen in Patients With Hypertension” (Impacto da ioga no risco cardiovascular como complemento de um regime regular de exercícios em pacientes com hipertensão, em português).

Os pesquisadores Ashok Pandey, Avinash Pandey, Shekhar Pandey, Alis Bonsignore, Audrey Auclair e Paul Poirier escrevem que o grupo de ioga foi estável no começo, mas depois de três meses mostrou avanços anti-hipertensivos em relação ao grupo de controle.

Os praticantes de ioga fizeram mais esforço e tiveram maior frequência cardíaca, mas sem impacto extremo. “Como está associada a riscos reduzidos de eventos coronarianos e mortalidade, a ioga pode ser uma alternativa promissora para pacientes com chance de doença cardiovascular”, aponta o estudo.

Os participantes do grupo principal apresentaram após as práticas uma redução de lipídios, glicose e pressão arterial, entre outros índices, sugerindo que a ioga pode ser incorporada ao estilo de vida também como estratégia de prevenção de doenças cardiovasculares.

“Nossos achados são consistentes e relataram uma redução média na pressão arterial sistólica de 7,9mm Hg e de 4,3 mm Hg na pressão arterial diastólica entre participantes após intervenção de ioga”, afirmam os autores. Os efeitos positivos obtidos na pressão arterial podem ser explicados pela hipótese de que a ioga afeta o sistema nervoso autônomo.
Isso permite “aumentar a biodisponibilidade e os níveis sanguíneos de óxido nítrico”, promovendo a vasodilatação e a diminuição do cortisol, o chamado “hormônio do estresse”, muito associado à pressão alta.

Louise Montesanti, médica geriatra com certificação em medicina do estilo de vida, diz que o estudo do impacto da atividade física na hipertensão, até agora, mostrava baixas modestas de pressão arterial, em torno de 4,6 mm de mercúrio.

“Esse estudo [canadense] quase dobra essa queda. Parece um efeito discreto, mas 20 mm de mercúrio na pressão sistólica, que é máxima, e um aumento de 10 mm de mercúrio na diastólica, que é mínima, são um pequeno aumento que dobram o risco de doença cardiovascular. Essa redução traz muito benefício”, analisa Montessani.

Para a geriatra, não é só o impacto na morbidade e mortalidade que conta, mas também a redução da necessidade de medicamentos. “Com o envelhecimento da nossa população, cada vez mais temos a questão da polifarmácia, que é o uso de inúmeros medicamentos que podem causar efeitos colaterais ou interagirem entre si”, diz a médica.

A cardiologista Carla Tavares, médica do exercício e do esporte, por sua vez, destaca que para prevenção de doenças cardiovasculares, associar regularmente exercícios aeróbicos com os de força e flexibilidade é o ideal.

“A ioga especificamente é uma modalidade de exercício conhecida por sua capacidade de melhorar as habilidades de respiração profunda e restaurar a calma. Então, além dos demais benefícios do exercício, ajuda a reduzir o estresse emocional e os impactos dele no organismo”, defende a cardiologista.

Coordenadora dos serviços de Medicina Preventiva e Medicina do Esporte da Rede Mater Dei, Tavares diz ainda que a ioga é capaz de auxiliar no aumento da força e resistência muscular, podendo, a longo prazo, impactar na eficiência metabólica do organismo e na saúde vascular.

Para a professora de ioga Val Moreyra, instrutora do aplicativo Kikos Fit, os resultados confirmam uma melhoria que os alunos relatam na prática. “Canalizar as emoções libera tensões musculares. Meditar e fazer exercícios respiratórios, ajudando a expandir a capacidade pulmonar, baixando a tensão arterial, melhora o psicológico, diminuindo os batimentos cardíacos”, diz a instrutora.

A designer Andréa Nóbis, 62, tem pressão alta, toma remédios, mas não deixa de praticar condicionamento físico e caminhada todos os dias. Ela faz ioga há 12 anos, duas vezes por semana, e diz que a modalidade traz, além de flexibilidade e força, uma grande sensação de bem-estar e relaxamento. “A tensão arterial diminui, fica controlada, e a tensão psicológica também diminui. Além disso, os batimentos cardíacos se regularizam, e o poder respiratório aumenta consideravelmente”, relata a praticante.

Já Aline Coga, professora e praticante de ioga, começou aos nove anos e não parou mais.

“Isso fez toda a diferença para o controle e gestão que tenho das questões relacionadas à saúde mental na minha vida. A ioga não só ajuda nosso corpo físico, mas também a controlar as emoções, nos concentrar melhor e ter autocontrole”, pontua Coga.

A professora de ioga Daniela Faria, da Fit Anywhere, define a prática como um conjunto de posturas (chamadas asanas), que têm um efeito no corpo e na mente. “Existem também exercícios respiratórios, chamados de pranaiama, e meditação, que nas linhas mais tradicionais geralmente acontece no fim da aula, nem que seja por poucos minutos. Acaba se diferenciando bastante do alongamento”, diz Faria.

As modalidades de ioga, vão da mais suave (Hatha Yoga), que foca a flexibilidade, até mais dinâmicas e vigorosas (como Vinyasa, Vinyasa Flow, Ashtanga Vinyasa Yoga e Iyengar). Em geral, não há idade ou contraindicação para começar a prática, exceto quando há restrições de saúde conhecidas.

“É muito importante que a pessoa relate ao professor qualquer condição médica. Existem algumas posturas invertidas, em que a pessoa fica de cabeça para baixo, que não são indicadas, por exemplo, para hipertensos ou aqueles que têm glaucoma”, alerta Farias.