A aposentadoria foi confirmada oficialmente no mesmo dia em que indicou o rumo que vai seguir fora das quadras. Anderson Varejão vai trabalhar como consultor para desenvolvimento de talentos do Cleveland Cavaliers, além de atuar como “embaixador” global da franquia que defendeu por 13 temporadas na NBA. Na primeira entrevista como ex-jogador, ele explicou ao Estadão como pretende trabalhar e repassou uma carreira de 23 anos dedicados ao basquete.

A decisão de se aposentar já estava tomada muito antes da confirmação para integrar o estafe do Cleveland Cavaliers, agora fora de quadra?

A decisão de me aposentar, sim, já estava tomada há algum tempo, bem antes do convite para voltar aos Cavs como consultor e embaixador global da franquia. Agora eu chego para exercer uma função bem diferente, fora das quadras, sem jogar, mas acompanhando o dia a dia do time, somando no que eu puder, passando a minha experiência, colaborando com os técnicos e com os jogadores, como parte da equipe.

O que foi determinante para esta decisão de se aposentar?

Foram mais de 23 anos de carreira profissional, jogando por clubes, seleção brasileira… e realmente chegou o momento. Estou com 40 anos, dei a minha contribuição, fui muito feliz como atleta. Agora tenho dois filhos, estou mais próximo da minha família e sigo com os Cavs de uma maneira diferente. Vou estar dentro e fora das quadras, envolvido com muitos projetos na franquia, em funções e com responsabilidades diferentes daqui para frente na organização.

Algum arrependimento ao longo da carreira? Algo que gostaria de mudar?

Não, nenhum arrependimento de nada da minha carreira. Tive anos bons, anos ruins, bons e maus momentos, lesões, muitas coisas aconteceram, mas tudo é válido. Tudo isso faz parte. Não mudaria nada, tive uma carreira muito boa, sempre fiz o meu melhor, deixei o meu melhor em quadra e agradeço ao basquete por tudo que me proporcionou. Agora é olhar para frente e focar nesse minha nova missão, em fazer o meu melhor em contribuição à organização.

Qual o momento mais marcante?

Acho que, em todos os clubes pelos quais eu passei, coisas boas aconteceram e é isso que marca a carreira de um atleta. Tudo o que estava no meu controle eu corri atrás e fiz o que achava que deveria ter feito. É isso que marca. As alegrias nos clubes, na seleção, as amizades, as histórias, as lembranças, o carinho dos fãs, os desafios, tudo o que conquistei ao longo desse anos, isso sim é o que vale, é o que a gente constrói para o resto da vida.

E sua maior decepção?

Não tive ou tenho nada que considere como decepção. Claro, ninguém gosta de perder, há momentos em que as coisas não dão certo, ficar fora de uma final, não conquistar um título, lesões, tudo isso acontece, é a rotina de um esportista e comigo não foi diferente. Lesões… não posso chamar de decepção, faz parte da vida do atleta, mas todas foram todas superadas e segui firme, em frente, sempre melhor. Agora o momento é de pensar nessa nova jornada.

Como espera que seja sua contribuição no trabalho diário da franquia?

Minha contribuição vai ser nesse trabalho diário, na quadra com os atletas, passando um pouco da experiência que vivi dentro da NBA e da seleção brasileira, e também a oportunidade de estar fazendo um trabalho internacional com o Cleveland. Temos já algumas ideias, algumas conversas, vamos trabalhar em projetos que ajudem a expandir a franquia e crie oportunidades positivas para a comunidade, para os fãs e para o basquete.

Você elaborou um plano de carreira? Tem o desejo de se tornar treinador no futuro?

Nunca pensei em ser treinador. No momento, não é algo em que eu pense ou queira para mim. Quando decidi parar de jogar, comecei a pensar e tenho alguns planos, sim. Tenho muitos planos. E até por isso resolvi seguir nesse caminho como consultor de desenvolvimento de atletas, além do trabalho de embaixador global da franquia.

Você segue os passos de outros dois ex-companheiros de seleção, Leandrinho e Tiago Splitter. Como vê agora os brasileiros entrando na NBA em outra posição?

Acho que isso é tudo fruto de um trabalho que foi feito ao longo da minha carreira como atleta, dentro da NBA, fora da NBA, na seleção brasileira e nos clubes, mostra que foi sério, foi profissional. Agora as portas estão se abrindo de outra maneira para continuar contribuindo para o basquete aqui na NBA. Leandro e Tiago estão trilhando com sucesso outros caminhos na liga após suas aposentadorias, contribuíram muito como jogadores, agora estão desempenhando funções importantes na beira da quadra, colaborando com conhecimento, com experiência para suas equipes.

É possível ajudar de alguma forma para que outros brasileiros possam entrar na NBA?

A gente quer e torce muito para que tenhamos cada vez mais brasileiros na NBA. Eu estarei sempre disposto a ajudar, da forma como puder, as portas estarão sempre abertas para conversar, dar conselhos, orientar, passar a minha experiência para os mais jovens, seja em relação ao jogo, seja fora de quadra. Sempre vamos querer ver mais brasileiros jogando e brilhando na NBA.

Além de consultor de desenvolvimento de atletas, você será também embaixador global Cleveland Cavaliers. O que podemos esperar?

Esperar que, sempre que eu puder ajudar o basquete brasileiro, de alguma maneira, junto com o Cleveland, isso vai acontecer. Espero que, em breve, a gente consiga fazer algumas coisas importantes com comunidades, com clubes, em aproximar mais a franquia do Brasil, criar um vínculo que traga impactos positivos e que realmente ajude no desenvolvimento do esporte de todas as maneiras.

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