BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) descartou nesta sexta-feira (2) qualquer hipótese de envolvimento do governo na operação da Polícia Federal contra aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

Pimenta afirmou que a Polícia Federal apenas cumpre determinações do Poder Judiciário e que não possui nenhum tipo de influência sobre as decisões daquela esfera.

Na quinta-feira (1º), a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em uma investigação sobre desvios em contratos para a compra de kits de robótica com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

O caso teve origem em reportagem da Folha publicada em abril do ano passado sobre as aquisições em municípios de Alagoas, todas assinadas com uma mesma empresa pertencente a aliados de Lira.

Durante as buscas, em um endereço em Maceió ligado a um policial civil investigado, a PF encontrou ao menos R$ 4,4 milhões em um cofre superlotado com dinheiro vivo.

No mesmo dia, Lira conversou com o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), para saber mais detalhes sobre a operação. Segundo relatos, Lira queria saber a circunstância da ação e se havia relação com os acontecimentos políticos.

Aliados de Lira apontam que a operação foi uma retaliação do governo federal, após os embates recentes em torno da discussão da medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios. Apesar de aprovada pelas duas Casas legislativas, houve muitos obstáculos na Câmara, com críticas abertas do próprio Lira ao governo e à articulação política.

Pimenta descartou qualquer tipo de relação entre os dois fatos, argumentando que a PF apenas cumpriu a decisão da justiça.

“Com relação ao episódio de ontem, o importante é que fique claro que é um tema que está no âmbito do Poder Judiciário, que a Polícia Federal, na realidade, é só o braço que executa a determinação do Poder Judiciário, que efetivamente não existe qualquer possibilidade de controle, acompanhamento ou influência do poder Executivo num assunto que não diz respeito a essa esfera”, afirmou o ministro, em entrevista à GloboNews.

A medida provisória foi aprovada após a entrada de Lula na articulação política, negociando com o próprio Lira e com importantes líderes da Câmara dos Deputados, como Elmar Nascimento (União Brasil-BA).

Pimenta buscou prestigiar o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), responsável pela negociação e alvo de duras críticas, inclusive de aliados, e disse que Lula será apenas uma “instância de recurso” na articulação política.

O chefe da Secom também disse que a base aliada é “plural e que vive contradições” e que o governo tem interesse em aumentá-la, para garantir a estabilidade política. No entanto, acrescentou que não se trata de apenas fazer um convite para bancadas de centro, como o PP.

“Não é questão de convidar. É estabelecer um diálogo e, na medida em que enxergarmos essa identidade, é algo que interessa ao governo”.

Pimenta também disse que o nome do advogado Cristiano Zanin, indicado por Lula para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal, deve ser aprovado com certa facilidade no Senado. O ministro também defendeu o nome apresentado pelo mandatário e afirmou que não há impedimentos ou constrangimentos, por se tratar de um amigo pessoal do presidente.

“Eu acho que a proximidade política, o fato de ele ter sido advogado do presidente Lula não pode ser algo impeditivo para que um profissional com as qualidades, com a trajetória, com o espírito público, com a formação jurídica e intelectual do doutor Cristiano pudesse ser indicado”, afirmou.

Pimenta também aproveitou para criticar o atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR), lembrando que ele foi advogado no âmbito da Operação Lava Jato, proferiu a decisão que impediu a disputa de Lula nas eleições de 2018 e depois assumiu a vaga de ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL).

Especificamente em sua área, Pimenta rebateu críticas de aliados de que a Secom não está sendo eficiente na comunicação do governo e disse que não se deve esperar “lacração” do ministério, em particular com ataques a aliados.

AGRESSÃO A JORNALISTAS

Pimenta também afirmou que houve falta de preparo e treinamento por parte dos agentes de segurança que agrediram jornalistas durante entrevista com o ditador Nicolás Maduro, no Palácio do Itamaraty.

O ministro afirmou que os agentes que atuavam naquele momento eram do Batalhão do Exército e que haviam sido requisitados pelo Ministério das Relações Exteriores.

“Eu conversei com o [ministro do Gabinete de Segurança Institucional] general Amaro e ele me disse que parte daqueles jovens que estavam lá trabalhando era de jovens do batalhão do Exército que o Itamaraty pediu que fossem trabalhar no apoio. E eu percebi que não houve, talvez, inclusive, um treinamento, preparação”, afirmou Pimenta.

O chefe da Secom ainda acrescentou que pretende criar um ambiente para juntar agentes de segurança e jornalistas “não só para demonstrar nosso apreço pela imprensa”, mas para que eles passem a enxergar jornalistas como alguém que cumpre “papel fundamental para a democracia”.

Assessores palacianos afirmam que já foi identificado o agente que deu o soco no peito da repórter da TV Globo Delis Ortiz.