A ex-deputada federal Joice Hasselmann ironizou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por causa da operação da Polícia Federal que teve a parlamentar como alvo nesta quarta-feira, 2. “Hoje foi dia dela, a porta ambulante. Ouviu aquelas três batidinhas: toc, toc, toc. ‘Quem é?’, responde Carla Zambelli. ‘É a Polícia Federal'”, disse Joice em vídeo publicado nas redes sociais.

“Carla vai pagar e já deveria estar presa há bastante tempo”, afirmou ainda sobre a ex-aliada, a quem atribuiu a responsabilidade por “uma série de crimes”. O vídeo publicado pela ex-deputada recria um discurso que ela fez na Câmara em 2022 e que se tornou um meme nas redes sociais.

Joice disse que os encontros de Zambelli com o hacker Walter Delgatti Neto aconteciam “no escurinho do cinema”, afirmando que eram sempre à noite e em locais escondidos. “Uma das vezes foi na Rodovia dos Bandeirantes.” O local é citado pelo hacker em depoimento à PF.

A participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também foi citado por Joice no vídeo. “Ela (Zambelli) não faria algo assim sem que tivesse combinado com o capitão.” Durante a coletiva que concedeu nesta quarta, a deputada confirmou que levou Delgatti para um encontro com o ex-presidente, mas blindou Bolsonaro de acusações sobre os fatos investigados.

Entenda a operação

Carla Zambelli e o hacker Walter Delgatti Neto são suspeitos de terem inserido informações falsas no sistema do Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), administrado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Delgatti ficou conhecido por ter hackeado e possibilitado a divulgação de mensagens trocadas entre Sérgio Moro (União Brasil-PR) e Deltan Dallagnol (Podemos-PR) em 2019. À época, eles eram juiz e procurador da Operação Lava Jato. As mensagens que vieram à público foram um dos argumentos que mais pesaram na anulação de parte das decisões dos processos vindos da força-tarefa.

A deputada se tornou suspeita de participar da inclusão de dados falsos no site do CNJ por causa do depoimento de Delgatti à Polícia Federal. Ele diz que foi contratado pela parlamentar para buscar “brechas” no sistema eleitoral e endossar o discurso do ex-presidente de fragilidade das urnas. Assessores de Zambelli fizeram transferências que totalizam R$ 13,5 mil reais para contas de Delgatti.

As versões do hacker e da deputada são contraditórias. Durante uma coletiva de imprensa nesta manhã, Zambelli disse que Delgatti que a procurou e que ele teve uma conversa com Bolsonaro apenas para esclarecer que não seria possível fraudar as urnas. Ela disse que o hacker foi contratado apenas para fazer um serviço no site pessoal da parlamentar.

Desavença antiga

Em 2018, Joice Hasselmann foi eleita deputada federal pelo PSL como uma das maiores apoiadoras de Bolsonaro. Ela foi liderança da sigla na Câmara. Nessa época, ela e Zambelli eram aliadas. O vídeo desta quarta não é a primeira troca de farpas entre as duas. Em 2019, na CPI das Fake News, Joice chamou a deputada de “mentirosa e burra” e disse que Bolsonaro havia lhe perguntado se Zambelli tinha trabalhado como prostituta na Espanha.

Antes do final do primeiro ano do mandato, Joice rompeu com o ex-presidente e foi destituída da liderança do PSL. Desde então, a ex-deputada troca farpas e critica publicamente Bolsonaro e aliados dele, dizendo que o ex-presidente e os filhos seriam responsáveis pelo “gabinete do ódio”, grupo de disseminação de fake news.

Em 2020, Joice foi candidata à Prefeitura de São Paulo, mas não chegou ao segundo turno. Depois desse pleito, ela migrou para o PSDB, partido do qual foi expulsa em 31 de janeiro deste ano, último dia do seu mandato como deputada federal.