Em meio ao resgate da velha Lava Jato aos holofotes, com a movimentação de processos na Justiça Federal do Paraná, um antigo conhecido da operação foi ouvido na tarde desta quarta-feira, 29, na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba: o ex-diretor de Serviços da Petrobrás, engenheiro Renato Duque – emblemático personagem do esquema de corrupção e cartel montado na estatal entre 2003 e 2014, indicado ao cargo pelo PT.

Inquirido pelo juiz Eduardo Appio, novo magistrado da Lava Jato, no bojo de uma ação a que responde por corrupção e lavagem de dinheiro, Duque afirmou que ‘não tinha porta aberta’ no Ministério Público Federal. O engenheiro citou uma tentativa de acordo com a Procuradoria e fez menção ao procurador da República Orlando Martello, ex-integrante da força-tarefa da Lava Jato.

Após a citação ao procurador, a defesa de Duque pediu que Martello seja ouvido como ‘testemunha referida’. Eduardo Appio acolheu a solicitação. A oitiva ainda será agendada e tem relação com o acordo de delação que o ex-diretor da Petrobrás celebrou com o MPF.

O engenheiro fechou o acordo dois anos depois de ser preso, em 2015. O acerto com o MPF abrange somente fatos ligados às empresas Tenaris Group, Techint Engenharia e Confab Industrial. No bojo de outras ações, ele diz atuar como ‘colaborador espontâneo’.

Duque diz que ‘foi buscar’ a delação como ‘defesa’. Para o ex-diretor da Petrobrás, ‘não tinha porta aberta’ para ele no Ministério Público Federal. “Acho isso porque de alguma maneira eu era relacionado com o PT”, seguiu.

O magistrado da 13ª Vara Federal de Curitiba questionou. “Havia uma porta fechada ao PT na sua opinião?”. Duque respondeu: “Eu acho que sim. Hoje eu olhando, na minha opinião, eu acho que sim. Não sei nem se deveria estar falando isso.”

O ex-diretor disse se recordar de uma ‘tentativa’, antes da celebração do acordo, envolvendo o procurador Orlando Martello. Segundo Duque, procuradores de Brasília foram visitá-lo na prisão e, ao final da conversa, decidiram como ‘positivo’ o acordo.

“E o dr Martello me fez uma pergunta. Ele se referiu a uma empresa X. ‘Com relação à empresa X, você tem alguma coisa a falar?’ Eu disse que não. Muito tempo depois, fiquei sabendo que, em um adendo da delação do sr. João Bernardo, ele se referiu a essa empresa, dizendo que eu o havia procurado na prisão para que ele não citasse essa empresa na delação dele, porque eu teria 12 milhões de dólares para receber da empresa. Hoje, olhando para trás, o dr. Orlando Martello me perguntou uma coisa, que há menos de 15 dias, ele tinha ouvido na delação. E eu disse para ele que, teoricamente, estava mentindo. Só que quando veio o processo, na frente do juiz (Sergio) Moro, o delator negou essa conversa”, narrou Renato Duque.

Duque depôs por quase duas horas no processo em que é réu ao lado de Luis Alfeu, dono da Multitek Engenharia. A Procuradoria atribui aos dois supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, entre 2011 e 2012, no âmbito de contratos fechados com a Petrobrás.

Com relação ao ex-gerente de Serviços Pedro Barusco – seu braço-direito -, Duque disse não ‘ter inimizade nem amizade’. No entanto, demonstrou descontentamento com a situação do ex-colega que, espontaneamente, devolveu US$ 100 milhões que disse ter recebido em propinas.

O ex-diretor da Petrobrás disse que Barusco ficou preso ‘zero dias’, enquanto ele ficou encarcerado cinco anos.

“O Barusco ia junto às empresas e negociava uma propina. Ele recebia parte do dinheiro, e, não com periodicidade definida, repassava pra mim em contas no exterior. O que ele repassava não era vinculado a determinada empresa. Ele repassava valores de um montante que recebia de várias empresas”, indicou.

Segundo Duque, o combinado era que eles dividissem ‘meio a meio’ as propinas pagas no bojo dos contratos da estatal.

O ex-diretor da Petrobras sustentou ainda, no depoimento desta quarta-feira, 29, que, comparando os valores devolvidos por Barusco aos cofres públicos com os montantes que ele mesmo devolveu, o ex-gerente de Serviços ‘ficou com um montante muito superior’. “O que denota que grande parte do dinheiro ele ficou sem repassar”. Duque disse ter devolvido 20 milhões de euros e quatro milhões de dólares, como parte de seu acordo de delação premiada.

Duque negou ter tratado sobre propinas ou tido ‘conversa estranha’ com Luis Alfeu, dono da Multitek Engenharia – ‘jamais, em momento algum’. “Muitas vezes o seu nome é usado para ene coisas. Eu nunca conversei com o Luis sobre o assunto, nem antes, nem depois de eu sair da Petrobras”, afirmou. Duque relatou que ‘todo esse assunto’ – ou seja, das propinas – era tratado por Barusco. “Ele não me falou dessa empresa. Só se relacionava com empresas maiores”, seguiu.