(FOLHAPRESS) – Policiais militares que participam da Operação Escudo, organizada pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) como resposta ao assassinato de um agente da Rota (tropa de elite da PM paulista) na noite de quinta-feira (27), mataram sete pessoas num intervalo de 42 horas em Guarujá, na Baixada Santista.

As mortes ocorreram entre a tarde de sexta-feira (28) e a manhã de domingo (30).

Em depoimento, os agentes públicos afirmaram ter atirado 34 vezes. Foram 17 disparos de fuzil e 17 com pistolas. Apenas em três dos casos os policiais afirmaram que os suspeitos chegaram a atirar contra eles.

As ações se concentraram em pontos de vendas de drogas em bairros distantes das praias da cidade. A justificativa dada pelos policiais que participaram das ocorrências, a maioria da Rota, foi semelhante: reações a abordagens. Em todos os casos foram apreendidos revólveres ou pistolas com os mortos.

Até a tarde desta segunda-feira (31), o governo computava oficialmente oito homicídios por intervenção policial. Uma delas, no entanto, não consta nos documentos aos quais a reportagem teve acesso.

No domingo (30), em sua página no Twitter, Tarcísio de Freitas comentou a prisão de três suspeitos de terem matado o policial da Rota. “Três envolvidos já estão presos”, escreveu o governador. “A justiça será feita. Nenhum ataque aos nossos policiais ficará impune”, concluiu.

Em resposta à publicação do governador, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, escreveu que “quem atentar contra nossos policiais terá a devida resposta”. Nesta segunda, em entrevista sobre o episódio, declarou: “Nós reagimos com essa violência na mesma proporção com que eles atacam as polícias”.

A Ouvidoria das Polícias declarou ter identificado dez mortes decorrentes de intervenção policial na cidade desde sexta-feira. O número de mortos pode chegar a 12, segundo o ouvidor, Cláudio Aparecido da Silva.

“Estamos recebendo muitas denúncias de moradores aterrorizados, denúncias inclusive que há duas favelas sendo sitiadas pela polícia e que o comentário dos policiais é que eles vão matar 60 pessoas, há relatos de policiais invadindo casas usando máscaras”, disse o ouvidor.

O suspeito de ser o autor do disparo que matou o soldado se entregou na noite de domingo, na zona sul de São Paulo.

O corpo do soldado Patrick Bastos Reis começava a ser velado na tarde sexta na sede da Rota quando, por volta das 13h20, policiais do mesmo batalhão teriam visto um homem suspeito na rua Albino Marquês Nabeto, em Vicente de Carvalho, um distrito de Guarujá. Um volume na cintura chamou a atenção dos PMs.

Segundo a versão dos agentes em boletim de ocorrência, Fabio Oliveira Ferreira, 40, tentou sacar uma arma que estava na cintura. Um cabo foi mais rápido e disparou três vezes com seu fuzil. Um outro PM afirmou ter atirado mais duas vezes contra Ferreira.

A vítima foi socorrida pelo Samu até o pronto-socorro de Vicente de Carvalho, onde morreu.

O homem estaria portando uma Glock .40, com a numeração raspada.
Seis horas depois, na rua das Figueiras, no bairro Pae Cará, ainda em Vicente de Carvalho, um homem desconhecido foi assassinado.

Policiais que participaram da ocorrência disseram ter ido até um conhecido ponto de venda de drogas, quando notaram um suspeito. Os PMs afirmaram que o homem atirou contra eles. O suspeito foi atingido quatro vezes no peito e nas pernas. Ele morreu na UPA São João.

Ainda na sexta-feira, uma nova pessoa sem documentos foi morta durante ação policial. Eram por volta das 22h50, quando PMs entraram na rua Maria Malheiros, na Vila Baiana, e viram um homem colocar a mão na cintura, segundo relataram. O suspeito teria se escondido em uma casa e atirado na direção dos agentes da Rota, que revidaram. Em depoimento, um sargento declarou ter atirado seis vezes. Um soldado afirmou ter disparado três vezes na ação.

Com o homem foi localizada uma pistola. Ele teria atirado três vezes. Socorrido, ele morreu na UPA Enseada. Os policiais mencionaram ter encontrado 526 trouxinhas de maconha dentro de uma mochila.

Uma quarta morte foi reportada por volta das 19h15 de sábado (29), na rua Bartolomeu de Gusmão, no bairro Itapema.

Os policiais também contaram ter ido até um ponto de tráfico e suspeitado de uma pessoa. O homem teria apontado uma arma para os agentes, que reagiram com três tiros de fuzil e um de pistola. Um segundo suspeito conseguiu fugir.
A vítima, que teria um revólver calibre 38, morreu no local.

Um outro homem desconhecido foi morto uma hora depois, na rua Quatro, na região conhecida como favela da Prainha.
Após atravessaram a linha férrea, policiais viram um trio em atitude suspeita, dois deles portando armas. Um dos suspeitos teria apontado a pistola na direção dos policiais.

Dois agentes narraram ter atirado oito vezes de fuzil. Um terceiro confirmou ter disparado na ação, mas sem precisar a quantidade.

Foram localizadas duas pistolas, cocaína, maconha e crack.
Quinze minutos depois, às 22h25, Cleiton Barbosa Moura, 24, foi assassinado na rua Operária, no bairro Sítio Conceiçãozinha. Ele, que estaria com uma pistola, teria corrido de uma casa para o fundo de um beco e disparado contra os agentes. No revide, ele foi atingido por três vezes, um dos tiros vindo de um fuzil, disseram os policiais.

Na casa em que o homem estava foram apreendidos crack e cocaína.

Um outro homicídio ocorreu na manhã de sábado (30). Policiais patrulhavam a avenida Brasil, nas proximidades do morro do Macaco Molhado, quando, pela fresta da porta de uma casa, viram Rogério Andrade de Jesus, 39, armado. Os policiais teriam pedido para o homem soltar a arma e, com a negativa, um sargento atirou uma única vez com um fuzil.

Segundo os PMs, a ambulância demorou 50 minutos para chegar, uma vez que o local era de difícil acesso.

Além de uma pistola, os policiais disseram ter encontrado na casa três tijolos de maconha e um colete à prova de balas.

A morte de Jesus é a única em que há menção sobre o uso de câmeras. Todos os quatro policias que participaram da ocorrência declararam que faziam uso do equipamento no uniforme.

Nesta segunda (31), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, defendeu o uso das imagens nas câmeras em uniformes policiais para esclarecer o que ocorreu durante as operações policiais na Baixada Santista.

Ele disse ainda que espera uma investigação independente do caso, sem interferências. O Ministério Público anunciou que vai apurar o caso.

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