Escolha a palavra para definir este pôr-do-sol na ponta do Cururu

Escolha a palavra para definir este pôr-do-sol na ponta do Cururu (Christiany Yamada/Arquivo pessoal)

Alter é conhecida como o “Caribe amazônico”. Mas quem vai esperando água azul turquesa, jamais irá encontrar. Afinal, estamos falando de Amazônia e não existem praias dessa tonalidade por lá. A alcunha surgiu de uma reportagem de 2009 no jornal inglês The Guardian que pinçou 10 praias top no Brasil e Alter foi uma das eleitas. Segundo a matéria, o destino era a “resposta da selva ao Caribe”. Pronto, estava criado o bordão que colou e é repetido sem parar. Mesmo que não seja pela cor das águas que o local leve a fama, a ideia de paraíso cabe como uma luva. Paraíso, diga-se, inconfundivelmente brasileiro: o “mar” que banha as praias é o delicioso rio Tapajós, que surge escoltado por densas florestas.

O caminho até lá requer um voo de Belém até Santarém. No aeroporto aluguei um carro e foi um investimento que valeu a pena: tanto o voo de ida quanto o volta eram de madrugada e paguei cerca de R$ 230 por três diárias (sem seguro, resolvi arriscar e não tive contratempos). Fiz a viagem de 30 km em 40 minutos. O táxi Santarém-Alter custa, em média, R$ 90. Para quem chega durante o dia, há ônibus por R$ 5.

Alter do Chão é um distrito do município de Santarém, com menos de 7 mil habitantes. A estrada que liga os dois destinos é impecável. A praça Sete de Setembro concentra o núcleo urbano e é de lá que saem as canoas para a Ilha do Amor e também os barcos motorizados que levam para outras praias e passeios. Em suma, é uma boa referência na hora de escolher uma hospedagem. 

Eu fiquei na pousada Pedra do Sol, a apenas alguns quarteirões da praça. As acomodações são simples, como quase todas em Alter, com alguns “luxos”, como água quente no chuveiro, ar-condicionado e Netflix. Mas o diferencial, sem dúvida, foi a calorosa acolhida de Dari e Elon, donos da pousada. Ele resolveram muito a minha vida na hora de agendar os passeios, sem contar a simpatia.

Ao sabor do rio

Alter do Chão muda muito conforme o volume do rio. O período de seca (agosto a dezembro) é melhor para conhecer as praias. Outros roteiros, como a Floresta Encantada, são melhores na cheia.

O carro também me deu mais liberdade para visitar praias mais distantes. Enquanto a Ilha do Amor fica bem próxima e sua travessia custa R$ 5 para até quatro pessoas, o transporte para as outras praias envolve o transfer fluvial e a diária do condutor, o que faz com que os preços subam para algumas centenas de reais.

Por conta da pandemia, o preço de muitos passeios baixaram. Fiz o Canal do Jarí por R$ 400 para um grupo de cinco pessoas, ou seja, R$ 80 por cabeça (antes custava pelo menos R$ 120). O tour, de barco, é um dos mais distantes. No caminho, pude ver o translúcido rio Tapajós se transformar no barrento Amazonas.

O roteiro permite incluir extras como o passeio da Vitória-Régia. Paramos em uma casa de ribeirinhos que nos receberam, ofereceram castanha sapucaia, que eu nunca tinha comido antes, e nos levaram até as plantas aquáticas (R$ 15 por pessoa). Diferentes famílias da região oferecem essa experiência, mas a mais famosa é Dona Dulce, a única que serve um pequeno buffet de comidas feitas a partir da planta (a vitória-régia é tóxica e, por isso, são poucas as pessoas que sabem usá-la na gastronomia). Porém, por conta da pandemia, ela ainda não havia retomado as atividades e se encontrava em isolamento social.

O passeio do Canal do Jarí incluiu uma visita à praia Ponta de Pedras, que também é acessível de carro. Como fui ainda no início da época da seca do rio, o nível da água não era baixo o bastante para revelar as rochas pelas quais a praia é conhecida.  

Por fim, o roteiro terminou na praia Ponta do Cururu, icônica pelo pôr-do-sol. A vista, de fato, é privilegiada, e a praia ficou pequena para a quantidade de pessoas que vinham a bordo de canoas e iates para assistir ao entardecer.

Só love, só love 

A Ilha do Amor foi a praia que mais me encantou pela combinação imbatível: areia branca destacada pelo forte sol e a sensação de isolamento que só uma ilha traz. No entanto, aos fins de semana, especialmente aos domingos, vive cheia.

Mesmo sendo tão disputada, os preços não assustam. Na Barraca do Ray, um pirarucu empanado em farinha de tapioca, para duas pessoas, saiu por R$ 40. Vale também experimentar o charutinho (peixe pequeno frito que se come inteiro) e a isca de arraia. Mas há quem leve sua própria comida e pendure redes nas pequenas árvores que existem na extensão da areia. 

Quando o movimento é maior, é possível alugar caiaques e se aventurar em boias de reboque puxadas por uma lancha – uma variação do banana boat.

Refúgio

A Praia de Pindobal, localizada a cerca de 10 km do centrinho de Alter, mesmo em um domingo agitado, mostrou-se tranquila. É possível acessá-la tanto pelo rio quanto pela estrada. Por ser mais extensa, não havia aglomeração. O pôr-do-sol não perde em nada para a Ponta do Cururu e o céu estrelado que surgiu depois foi inesquecível. Como a água é quentinha e não venta como na Ilha do Amor, dá pra ficar embaixo d’água até anoitecer.

Fim do dia na Praia de Pindobal

Fim do dia na Praia de Pindobal (Christiany Yamada/Arquivo pessoal)

O grito do bugio

Um passeio com emoções fortes é assistir o nascer do sol na Serra da Piraoca, mais conhecida como “Serra da Piroca”, situada no final da Ilha do Amor. Para isso, é preciso agendar a travessia com um barqueiro para sair por volta das 5h da manhã (e combinar já a volta, ao redor das 8h). 

Do início da trilha, que é bem sinalizada, até o topo leva cerca de uma hora e só é possível percorrê-la a pé. Há trechos muito íngremes, com pedregulhos e sem lugares onde se apoiar. Quase desisti duas vezes por medo de cair. 

O breu total da ilha antes do amanhecer é assustador, principalmente pelos gritos de macacos bugio que ouvi em boa parte do percurso. Usei o celular como lanterna e, por via das dúvidas, coloquei música para que não se aproximassem. Ao chegar ao topo, o nascer do sol veio coroado por uma visão 360º. Caso madrugar não esteja em seus planos de férias, é possível conhecer a serra durante o dia – evite apenas o fim de tarde porque voltar no breu total não seria uma boa ideia. 

Nascer do Sol na Serra da Piroca

Nascer do Sol na Serra da Piroca (Christiany Yamada/Arquivo pessoal)

Canoa pelo Tapajós 

A Floresta Encantada é um dos passeios mais rápidos, baratos e recomendados. Trata-se de um trajeto de canoa que dura cerca de 40 minutos e navega sobre igapós, vegetação densa típica da Amazônia. O trajeto é como deve ser: bem lento e floresta adentro pelo Tapajós. Além das árvores altas que fizeram sombra providencial durante quase todo o percurso, a água transparente do rio permite ver a vegetação submersa.

Centrinho nervoso

Ao final de qualquer dia, não tem erro: a praça da cidade reúne um pouco de tudo. Normalmente, o local recebe rodas de carimbó. Para evitar aglomerações, elas não estavam acontecendo em agosto, mas ainda havia música ao vivo no local. As barraquinhas de comida trazem uma variedade de pratos paraenses. Na barraca da Dona Dió comi o melhor vatapá que já provei e ele vem com uma generosa concha de caldo de tucupi, folhas de jambu e camarão. Outra tentação é o quiosque da sorveteria Nido, que não fica muito atrás dos sorvetes da Cairu, em Belém – e hoje, quando quero lembrar de Alter, minha memória gustativa me remete para o delicioso sabor de castanha-do-Pará!

Vatapá paraense de Dona Dio, na praça de Alter

Vatapá paraense de Dona Dio, na praça de Alter (Christiany Yamada/Arquivo pessoal)

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Fonte: Viagem e Turismo