RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo rejeitou a queixa-crime movida por Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, contra o jornalista Mauro Cezar Pereira. O português pedia uma indenização de R$ 50 mil por danos morais após Mauro ter dito que ele tinha uma “visão de colonizador”, ao comentar uma declaração do treinador sobre Gabriel Veron, então jogador do time alviverde.

Na sentença assinada pelo juiz Fernando Augusto Andrade Conceição aponta-se que o jornalista “não desbordou da crítica, sem ofensa objetiva ou difamatória, expressando apenas mera opinião a propósito da fala (que ele tinha visão de colonizador)” e que “a mera indicação de que o querelado [aquele contra quem é formulada uma queixa-crime] tem essa visão não ultrapassou os limites da expressão da opinião”.

Mais à frente, há a lembrança de que Mauro, em parte de sua declaração, concorda com as colocações de Abel “a respeito da carência do povo brasileiro em termos educacionais”. Além disso, afirma que “não apontou fato específico que conduzisse a se entender que estivesse propositalmente injuriando”.

Em 14 de julho, após o jogo do Palmeiras contra o São Paulo, válido pelas oitavas da Copa do Brasil, Abel Ferreira foi questionado sobre Veron, que dias antes havia sido flagrado ingerindo bebida alcoólica em uma festa.

À época, o treinador respondeu que os jogadores brasileiros eram “de longe, os melhores que eu já joguei, mas mentalmente têm muito a evoluir, muito. A nível de educação, a nível de formação enquanto homens”.

Mauro Cezar Pereira, durante o programa “Canelada FC”, transmitido tanto pela rádio como pelo canal do Youtube da Jovem Pan, ao comentar a declaração de Abel, disse:

“O Veron não é o primeiro nem o último a fazer isso, é um garoto. Eu acho que não é uma questão de formação do homem, é natural, um deslumbramento. (…) Agora, eu não acredito que o Abel, como o [Jorge] Jesus falava coisas assim também quando era técnico do Flamengo, falasse isso se treinasse o Grealish no Manchester City: ‘ah o inglês precisa de formação’. Então, acho que não falariam, por isso que eu acho é visão de colonizador”.

“Eu acho que esses portugueses vêm para cá… Acho ótimo, os defendo sempre, já falo aqui não sou apaixonado pelo Jesus (…) Eles falam em um tom como se estivéssemos em 1500 novamente, chegaram aqui nas caravelas, não é assim”, completou.

Na defesa, Abel Ferreira disse que “limitou-se a tecer a sua opinião, de maneira pacífica e construtiva, sem qualquer conteúdo ideológico ou depreciativo, eis que apenas relatou fatos públicos e notórios relacionados à defasagem da educação básica, no Brasil, não fazendo qualquer crítica em relação à forma de agir ou à honra dos brasileiros, nem mesmo se posicionou de forma ofensiva, xenofóbica, escravista ou com superioridade sobre o povo brasileiro”.

“Ficou evidente que o Mauro Cezar não cometeu crime algum. De fato, não foi uma difamação ao Abel. Na qualidade de jornalista, quando o Mauro acha que precisa elogiar, ele elogia, e quando tem de criticar, ele critica, tudo dentro dos limites da lei. Isso ficou claro. Não só o juiz, como o Ministério Público já havia se posicionado sobre a ausência de crime no caso. Não houve qualquer excesso”, disse João Henrique Chiminazzo, advogado de Mauro Cezar, à reportagem.

Procurado através da assessoria de imprensa, Abel Ferreira disse que não vai se manifestar.