SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, fez um novo alerta contra a movimentação de tropas da Rússia e o risco de novos e “poderosos ataques” no sul do país, incluindo a cidade sitiada de Mariupol, onde uma nova tentativa de retirada de civis está preparada para esta sexta-feira (1º).

Do lado russo, o chanceler Serguei Lavrov reforçou o que ele considera ser um avanço nas negociações com o país vizinho. Em entrevista coletiva na Índia, o diplomata afirmou que Moscou está preparando uma resposta às demandas apresentadas pelos negociadores ucranianos e disse que Kiev mostrou “muito mais compreensão” em relação a pontos críticos do conflito, como o status da Crimeia e do Donbass e sua possível neutralidade.

No campo diplomático, líderes da União Europeia e da China se reúnem nesta sexta para discutir os rumos da guerra na Ucrânia. Bruxelas tenta pressionar Pequim para obter garantias de que o regime de Xi Jinping não vai fornecer armas à Rússia –país com quem a China formalizou uma “amizade sem limites”.

Embora Moscou tenha prometido nesta semana uma “redução drástica” em sua atividade militar nas regiões de Kiev e Tchernihiv, os relatos de ataques que se sucederam lançaram uma nova camada de ceticismo contra o discurso russo.

“Isso faz parte das táticas deles”, disse Zelenski no seu discurso diário na noite de quinta-feira (31). “Sabemos que eles estão deixando áreas onde estamos vencendo para se concentrar em outras áreas que são muito importantes e onde pode ser difícil para nós”.

Quando se refere às áreas onde os ucranianos estariam vencendo, o presidente fala das cidades ao redor da capital onde autoridades e líderes locais dizem ter retomado o controle e freado ou expulsado os russos. Já as áreas “difíceis” seriam as do sul do país, consideradas estratégicas para os interesses de Moscou.

“No Donbass e em Mariupol, na direção de Kharkiv, o Exército russo está elevando o potencial de ataques, ataques poderosos”, disse Zelenski.

Para analistas, a tendência é de um conflito mais longo caso a Rússia se concentre no Donbass, uma vez que a Ucrânia tem forças e experiência de combate na região depois de oito anos lutando contra grupos separatistas.

Já Mariupol seria um ponto central para o objetivo russo de estabelecer seu controle sobre a faixa litorânea no sul, que vai da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, aos territórios de Donetsk e Lugansk, no Donbass -o presidente Vladimir Putin reconheceu ambos como repúblicas independentes três dias antes de dar início à guerra.

Mariupol foi reduzida a escombros. Segundo autoridades locais, ao menos 5.000 pessoas morreram durante as semanas de ataques russos, e as dezenas de milhares que ainda vivem na cidade sofrem com severa falta de comida, água, energia elétrica e medicamentos.

Houve tentativas de estabelecer corredores humanitários para a retirada de civis da cidade. Várias delas fracassaram, enquanto Rússia e Ucrânia trocavam acusações sobre a responsabilidade pelos insucessos.

Nesta sexta, uma nova tentativa deve ser conduzida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, com aval de Moscou e de Kiev. “Esperamos poder facilitar a passagem segura para os civis que desejam desesperadamente fugir de Mariupol”, disse a porta-voz Lucile Marbeau, acrescentando que a entidade também vai tentar levar caminhões com ajuda humanitária aos que ainda seguirem na cidade.