LONDRES, INGLATERRA (FOLHAPRESS) – Exatamente uma semana depois da morte da rainha Elizabeth 2ª, Londres completa nesta quinta-feira (15) o primeiro dia completo de homenagens do público em geral para a soberana, com o caixão no Palácio de Westminster sendo visitado por milhares de pessoas.

Como era de se esperar, as demonstrações de amor e respeito à rainha podem ser vistas por todas as partes da capital -notadamente nos castelos e residências oficiais da monarquia, repletas de flores e lembranças. Mas é claro que nem todos os britânicos sentem o mesmo, em especial aqueles da classe trabalhadora cujas famílias saíram de colônias ou ex-colônias britânicas e se mudaram para o Reino Unido para fazer a vida.

Eu não odeio ela, mas… Quero dizer, não desgostava dela. Mas o império fez muita coisa ruim no mundo e em Bangladesh”, disse à reportagem o motorista de aplicativo Abu Zubair, cidadão britânico com pais que chegaram a Londres em 1985.

O paquistanês Asad Ullah, que tem a mesma profissão de Zubair, afirma que a rainha dividiu seu país. “Ela está morta, como todo mundo vai estar. Assim como sinto com todo mundo, é triste. Mas não mais do que isso.” Ullah, 36, está há 20 anos em Londres e diz que a situação em seu país é de atraso e egoísmo entre as pessoas, que lutam pela sobrevivência no dia a dia.

A Índia, colônia britânica desde que a Companhia das Índias Orientais passou a ditar o poder na região em meados do século 18, foi dividida em 1947, após o sufocamento de movimentos de independência. À esquerda criou-se o Paquistão e, à direita, o Paquistão Oriental, que em 1972 se libertou e passou a se chamar Bangladesh.

Isso, no entanto, aconteceu cinco anos antes de Elizabeth subir ao trono. Em 1947, quem reinava era seu pai, George 6º. A divisão foi feita a partir de posições religiosas, levando a revoltas. Cerca de 12 milhões de pessoas tiveram que migrar a pé pelo país, o que causou entre 200 mil e 2 milhões de mortes.

A região de Bangladesh em si passou por diversos períodos de grandes fomes, como em 1770 (entre 1 milhão e 10 milhões de mortes), 1943 (até 3 milhões de mortes) e 1974 (até 1,5 milhão). Estima-se que, entre 1765 e 1938, o Reino Unido tenha levado -ou roubado, como preferem alguns- US$ 45 trilhões da região.

Na internet, houve comoção contra o rei Charles 3º após o vídeo em que ele vai assinar um documento e pede destrambelhadamente para que um funcionário tire o estojo de tinteiros de sua frente. “Imagine como ele é quando o mundo não está assistindo”, escreveu Michael Walker, puxando uma série de comentários a respeito da deselegância do rei com seus auxiliares.

Na CNN, o correspondente Larry Madowo, no Quênia, explicou por que alguns africanos se recusam a participar do luto por Elizabeth 2ª. “Há um legado complicado na África. O conto de fadas diz que Elizabeth chegou ao Quênia em 1952 como princesa e saiu como rainha [ela estava no país quando o pai morreu]”, disse.

“Mas isso foi o início dos oito anos em que a governo britânico colonial atacou brutalmente o movimento de libertação queniano. Um milhão de quenianos foram colocados em campos de concentração pelos britânicos e foram torturados e desumanizados. Então, pelo continente africano, tem muita gente dizendo que não vai chorar por ela, porque seus familiares sofreram atrocidades feitas pelo povo dela e ela nunca reconheceu isso completamente.”