SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A seita que levava pessoas a fazer jejum para “encontrar Jesus” foi responsável por 303 mortes no Quênia, de acordo com atualização desta terça-feira (13). O número, que já faz do caso uma das piores tragédias relacionadas a cultos na história recente, ainda pode crescer, já que mais de 600 pessoas ainda estão desaparecidas, segundo autoridades locais.

A cifra aumentou após 19 corpos serem exumados de valas comuns na floresta de Shakahola, no sudeste do país -um resultado da expansão das buscas para cobrir uma área maior do local em que as vítimas eram enterradas, de aproximadamente 300 hectares.

Os mortos seguiam a Igreja Internacional das Boas Novas, liderada pelo autodenominado pastor Paul Mackenzie. Segundo as investigações, ele instruía seus seguidores a deixarem de comer para entrarem no céu no dia 15 de abril -data em que, segundo ele, o mundo acabaria. O caso ganhou notoriedade no final de abril deste ano, quando autoridades encontraram dezenas de corpos, a maioria de crianças, enterrados em Shakahola.

Dias depois, autópsias revelaram a ausência de órgãos nos corpos das vítimas, segundo documento obtido pela agência de notícias AFP. O texto menciona tráfico de partes humanas num esquema “bem coordenado, com participação de vários atores”.

No início deste ano, Mackenzie já havia sido preso sob suspeita de ter assassinado duas crianças por fome e sufocamento. Posteriormente, porém, foi libertado e, segundo seus seguidores, voltou para a floresta e antecipou a data prevista para o fim do mundo de agosto para abril.

Pelo episódio mais recente, o líder está preso sob a acusação de fazer uma lavagem cerebral nas vítimas. Em outra frente da investigação, a Direção de Investigações Criminais (DCI) pediu, quando os corpos foram descobertos, o bloqueio das contas bancárias do pastor Ezekiel Odero, suspeito de envolvimento no caso.

Segundo o DCI, Odero recebeu “enormes quantias em espécie” de seguidores de Mackenzie. Testemunhas contam que receberam do líder religioso pedidos para que vendessem suas propriedades. O advogado do pastor, George Kariuki disse à agência de notícias Reuters no início de maio que a polícia não deveria focar apenas uma pessoa nas investigações, mas “manter a mente aberta para desvendar a bagunça” do caso.

Cerca de 65 seguidores da seita resgatados foram acusados de tentativa de suicídio nesta segunda (12) -no país, tentar tirar a própria vida é um crime punível com até dois anos de prisão, multa ou ambas as penalizações. Segundo a mídia local, as vítimas se recusaram a comer entre 6 e 10 de junho, durante sua estadia em um centro de resgate.

O ministro do Interior, Kithure Kindiki, expressou preocupação no mês passado com o fato de alguns dos seguidores resgatados estarem em jejum. Um deles havia morrido, disse na ocasião.

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