LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Após escândalos envolvendo o pagamento de indenização de 500 mil euros (cerca de R$ 2,75 mi) para uma antiga executiva, o governo de Portugal, maior acionista da companhia aérea TAP, determinou o afastamento da CEO da empresa, Christine Ourmières-Widener, e do presidente do conselho de administração, Manuel Beja.

A dupla foi demitida por justa causa e, dessa forma, não terá direito a indenizações. Os demais executivos da empresa permanecem em funções.
A decisão foi anunciada pelo ministro das Finanças de Portugal, Fernando Medina, em uma entrevista coletiva que teve ainda a participação do titular da pasta de Infraestruturas, João Galamba, na noite de terça-feira (6).

Com a demissão da liderança da TAP, os ministros disseram esperar uma “virada de página na empresa”, atualmente alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Parlamento motivada justamente pela polêmica da indenização à antiga administradora.

O caso foi revelado no fim de dezembro em uma reportagem do jornal Correio da Manhã. A publicação revelou que a TAP pagou uma indenização de meio milhão de euros à ex-gestora Alexandra Reis que, dez meses após se desligar da empresa, passou a ocupar o cargo de secretária de Estado do Tesouro no governo socialista.

Alexandra Reis pediu demissão pouco depois, mas as implicações políticas do caso continuaram, aumentando a pressão sobre a liderança da empresa e sobre o próprio Executivo liderando pelo primeiro-ministro António Costa.

A decisão de demitir a CEO e o presidente do conselho de administração foi tomada após um relatório da IGF (Inspeção-Geral de Finanças), divulgado agora, concluir que os 500 mil euros pagos à Alexandra Reis foram indevidos. A entidade diz que o acordo celebrado entre a TAP e a executiva o foi nulo, o que “torna exigível a devolução das verbas indevidamente pagas”.

O governo anunciou que Reis terá de devolver à TAP 450 mil euros (aproximadamente R$ 2,47 mi) recebidos indevidamente. O restante do montante da indenização foi considerado legítimo pelas autoridades.

O ministro das Finanças informou que o relatório da IGF será enviado para o Tribunal de Contas, para apurar eventuais responsabilidades adicionais.

A CEO demitida, Christine Ourmières-Widener, já havia se queixado da atuação da Inspeção-Geral de Finanças. Em documentos obtidos pelo jornal Expresso, a executiva acusa a IGF de “comportamento discriminatório” e diz que foi a única pessoa a não ser ouvida pessoalmente pela entidade.

A francesa assumiu o posto na TAP em junho de 2021 e comandava um grande projeto de restruturação da companhia.
O plano, aprovado pela Comissão Europeia em 2021, prevê várias medidas de redução de custos, como redução da frota, corte de mais de 2.000 postos de trabalho e redução dos salários. O arroxo salariam motivou manifestações dos trabalhadores e até uma greve de tripulantes.

Atual líder da companhia aérea regional SATA Air Açores, Luís Manuel da Silva Rodrigues, 58, será o próximo CEO da empresa. O executivo já trabalhou na TAP, lidando inclusive com parte das operações no Brasil.