• Michael Race
  • Repórter da BBC News

12 agosto 2022

Boris Mints em 2016

Crédito, Getty Images

Boris Mints vive hoje no Reino Unido

Boris Mints é um dos poucos bilionários russos a se manifestarem contra a invasão russa da Ucrânia e o presidente Vladimir Putin.

A maioria das pessoas de destaque no país permanece em silêncio sobre a guerra, evitando críticas ao Kremlin.

Existe uma explicação simples, segundo Mints: “Eles estão todos com medo.”

O Kremlin tem a reputação de reprimir os críticos de Putin. Protestos não autorizados são proibidos no país desde 2014.

Mints diz que “qualquer pessoa” que critica abertamente Putin “tem motivos para se preocupar com sua segurança pessoal”.

No entanto, em entrevista realizada por e-mail, ele disse à BBC: “Não tenho intenção de viver em um abrigo antiaéreo, como Putin faz”.

O empresário de 64 anos construiu sua fortuna por meio da empresa de investimentos O1 Group, que ele fundou em 2003 e vendeu em 2018. Mints disse que na Rússia a “maneira comum” de se punir um empresário por sua “intolerância” ao regime é “abrindo um processo criminal fabricado contra seus negócios”.

“Esses processos criminais afetam não só os próprios empresários, como também suas famílias e empregados”, disse ele.

“Qualquer líder empresarial independente [de Putin] é visto como uma ameaça, pois pode ser capaz de financiar a oposição ou apoiar protestos — como tal, essas pessoas são vistas como inimigas de Putin e, portanto, como inimigas do Estado.”

‘Prisão inevitável’

É uma situação a qual Mints conhece de perto, tendo se manifestado publicamente pela primeira vez contra as políticas do presidente Putin em 2014, depois que a Crimeia foi anexada da Ucrânia.

Mints sentiu que precisava deixar a Rússia em 2015 para o Reino Unido “no contexto da crescente repressão à oposição política”, com Boris Nemtsov sendo morto a tiros naquele ano.

Nemtsov era um rival feroz do presidente Putin. Sua morte em 2015 é o assassinato político de maior repercussão desde que Putin chegou ao poder. As autoridades negam qualquer envolvimento.

Dois anos depois, a ex-empresa de investimentos de Mints, o O1 Group, “encontrou-se em conflito aberto com o Banco Central da Rússia”, disse ele, com processos judiciais começando em várias jurisdições diferentes.

“Quando coisas assim começam a acontecer, é um sinal claro de que se deve deixar o país imediatamente”, disse ele.

Mints continua sendo o foco central da ação legal do Kremlin.

É por causa do processo que Mints sugere que o “caminho mais corajoso disponível” para russos ricos que não gostam de Putin é “ir silenciosamente para o exílio”, citando o caso de Mikhail Khodorkovsky, que já foi o homem mais rico da Rússia, mas foi preso por quase uma década por acusações de fraude e evasão fiscal que, segundo ele, seriam politicamente motivadas.

Putin e Yeltsin

Crédito, Getty Images

Boris Mints trabalhou para o governo de Boris Yeltsin (direita), mas foi demitido por Vladimir Putin (esquerda)

Dois dos oligarcas mais famosos do país — Mikhail Fridman e Oleg Deripaska — evitaram fazer críticas diretas a Putin quando pediram a paz na Ucrânia.

Fridman, um banqueiro bilionário, disse que qualquer comentário pode gerar um risco não apenas para ele, mas também para funcionários e colegas.

Mints chamou as ações do presidente Putin de “torpes”, dizendo que a invasão foi “o evento mais trágico da história recente, não apenas da Ucrânia e da Rússia, mas globalmente”.

Ele também comparou a guerra com a invasão da Polônia por Adolf Hitler em 1939.

“Esta guerra é resultado da loucura e fome de poder de uma única pessoa, Vladimir Putin, apoiada por seu círculo íntimo”, disse Mints, que foi presidente de uma das maiores administradoras de ativos de pensão da Rússia até 2018.

A BBC entrou em contato com o Kremlin em busca de respostas às críticas de Mints.

‘Demitido um dia depois de nos conhecermos’

Mints foi apresentado a Putin pela primeira vez no início da década de 1990, mas os dois só conversaram em 2 de janeiro de 2000, dois dias depois que Putin foi nomeado presidente interino da Rússia.

Mints, que trabalhou com o ex-presidente russo Boris Yeltsin na década de 1990, estava ansioso para discutir seus planos de reformar o governo local para expandir a democracia da Rússia no século 21.

“Putin ouviu minhas sugestões sem tecer comentários ou argumentos. No dia seguinte, Putin me demitiu”, disse ele.

Mints sabia então que a visão de Putin para a Rússia estava “a quilômetros de distância” da do governo anterior.

Fora da política, Mints abriu uma corretora de ações três anos depois.

Mints não foi alvo de sanções do governo do Reino Unido, ao contrário de outros empresários russos que foram identificados como tendo ligações estreitas com o Kremlin.

No entanto, seu nome estava na chamada “lista Putin” divulgada pelo governo dos EUA em 2018. Dos 210 nomes, 114 deles eram listados como ligados ao governo.

Os outros 96 (entre eles Mints) foram listados aparentemente mais por serem oligarcas que valiam mais de US$ 1 bilhão na época do que por seus laços estreitos com o Kremlin.

Pai de quatro filhos, Mints entrou na lista de bilionários mundiais da Forbes em 2017 com uma riqueza total de US$ 1,3 bilhão, mas saiu da lista em 2018.

Boris Mints

Crédito, BMI

Boris Mints criticou a invasão da Ucrânia por seu país

Mas ele diz não ser um oligarca.

“Nem todo empresário russo é pró-Putin e, da mesma forma, nem todo russo rico é um ‘oligarca'”, disse ele. “Na Rússia, o termo significa um líder empresarial que está muito ligado a Putin e cuja maior parte de sua riqueza, ou os lucros de seus negócios, depende da cooperação com o Estado russo.”

“A Rússia não é apenas um campo de petróleo com uma mina de alumínio no centro”, afirma. “É um país de 140 milhões de pessoas. As pessoas de lá, como em qualquer outro lugar, têm suas necessidades e essas necessidades não são diferentes daquelas aqui no Ocidente.”

Hoje vivendo no Reino Unido, Mints sente-se confortável sem a necessidade de segurança extra para manter a si mesmo e sua família seguros e diz não ter nenhuma ambição atual de voltar para a Rússia.

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Fonte: BBC