Jornais do mundo todo repercutiram o atentado contra Salman Rushdie nesta sexta-feira (12). O escritor estava participando de um evento em Nova York, Estados Unidos, onde faria uma palestra. Porém, após ser apresentado, um jovem correu em direção ao palco e esfaqueou o escritor. O suspeito foi preso e identificado como Hadi Matar, de 24 anos.

Rushdie, de 75 anos, foi levado às pressas para o hospital, com nervos do braço cortados e perfurações no pescoço e tronco. Ele continua internado em um hospital e corre o risco de perder um olho.

O autor recebeu ameaças de morte por seus livros, tendo de andar com seguranças por grande parte da vida.

“Versos satânicos”

Rushdie nasceu na Índia, mas se mudou para a Inglaterra, onde estudou e se formou em história. Publicou sua primeira novela, “Grimus”, em 1975.

A forma como ele aborda assuntos políticos e religiosos delicados em suas obras o transformou em uma figura controversa. Isso chegou ao ápice com a publicação de seu quarto romance: “Os Versos Satânicos”, em 1988.

O livro foi amplamente criticado pela comunidade muçulmana, que o considerou um sacrilégio. Em 1989, o líder iraniano, o aiatolá Ruhollah Khomeini, afirmou que Rushdie cometia blasfêmia e que “era insulto ao Islã e ao profeta Maomé”, e emitiu um decreto religioso – ou fatwa – pedindo sua morte.

“É um caso de fundamentalismo religioso. Uma instrumentalização política do texto religioso. Neste caso, em âmbito internacional. Uma vez que não compete ao governo de um país condenar os cidadãos de outros países com base nas leis de seu Estado”, afirma Luana Hordones Chaves, pesquisadora pela Unesp.

Assim, nos anos seguintes, o escritor viveu sob um forte esquema de segurança.

Em 1998, o governo do Irã informou que tentaria não executar a ordem. Mesmo assim, esse assunto não se encerrou e, em 2017, o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, destacou que o decreto ainda estava em vigor.

Organizações iranianas, algumas afiliadas ao governo, levantaram uma recompensa de milhões de dólares pelo assassinato de Rushdie. Em 2019, Khamenei voltou a dizer que a medida era “irrevogável”.

Chaves ressalta que o caso expõe um conflito, por exemplo, de soberania, visto que o Irã condenou um cidadão britânico – que também não estava em solo iraniano. Diversos veículos de imprensa e a Organização das Nações Unidas (ONU) se movimentaram pela defesa da vida do escritor.

“Acontece que os direitos de liberdade de expressão (inclusive de cunho religioso) e a liberdade de religião que a carta da ONU defende, entram em contradição com os direitos de muitos países muçulmanos . Exatamente porque na perspectiva islâmica, apostasia e blasfêmia são consideradas crimes”, explica a especialista.

*Com informações da CNN

Fonte: CNN Brasil