Um grupo de cidadãos russos anti-Putin – que estão alinhados com o exército ucraniano – reivindicou a responsabilidade por um ataque na região de Belgorod, no sudoeste da Rússia, quando Moscou disse que estava lutando contra um grupo de sabotadores lá.

O bombardeio danificou um prédio administrativo, vários edifícios residenciais e um jardim de infância na área, de acordo com o governador regional Vyacheslav Gladkov, que disse não haver mortes.

Em uma publicação no Telegram, grupos que se autodenominam “Legião da Liberdade da Rússia” e “Corpo de Voluntários Russos” disseram que haviam “libertado” um assentamento na região de Belgorod, que faz fronteira com a Ucrânia.

Um oficial ucraniano reconheceu que as unidades realizaram uma operação na área, mas insistiu que estavam agindo de forma independente.

“Podemos confirmar que esta operação foi realizada por cidadãos russos”, disse Andriy Yusov, representante da agência de inteligência de defesa da Ucrânia, à CNN.

Ele disse que as unidades faziam “parte das forças de defesa e segurança” quando estavam na Ucrânia, mas eram independentes de Kiev quando não estavam: “Na Rússia, eles estão agindo como entidades independentes”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que as forças do Kremlin estavam trabalhando para expulsar um “grupo de sabotagem e reconhecimento”, de acordo com a mídia estatal TASS.

A situação em Belgorod marca “a primeira vez” que as forças alinhadas com a Ucrânia lançaram “uma operação terrestre transfronteiriça contra alvos russos”, de acordo com Sam Kiley, da CNN.

“Isso ocorre em uma escala significativa e claramente pretende causar consternação considerável entre as autoridades locais, no mínimo, se não no nível do Kremlin”, disse Kiley a Lynda Kinkade, da CNN.

“A situação continua extremamente tensa”

Pelo menos oito pessoas ficaram feridas nos ataques, mas não houve mortes entre civis em Belgorod, de acordo com Gladkov, o governador regional.

“A situação continua extremamente tensa. Um grupo de sabotagem e reconhecimento, o Ministério da Defesa e todas as agências policiais entraram no território para realizar missões de combate para proteger nosso país”, disse Gladkov em um discurso transmitido ao vivo na segunda-feira (22).

Gladkov disse que o governo de Belgorod está “concluindo uma visita domiciliar nas aldeias fronteiriças” e na cidade de Graivoron para garantir a segurança da população local.

Acrescentou que “a maior parte da população saiu do território” com transporte próprio e o governo local presta assistência a quem não tem oportunidade de sair por conta própria.

Ele também observou que o chefe do distrito, Gennady Ivanovich Bondarev, está trabalhando com o Ministério de Situações de Emergência e a polícia para evacuar as pessoas.

Ele disse anteriormente que as tropas russas, o serviço de fronteira, a Guarda Nacional e o FSB “estão tomando as medidas necessárias para eliminar o inimigo”.

As defesas aéreas derrubaram um veículo aéreo não tripulado (UAV) na região, disse Gladkov, acrescentando que não houve vítimas e as autoridades russas estão investigando qualquer dano potencial no solo.

Aleksey Baranovsky, representante do Centro Político da Oposição Armada Russa, com sede em Kiev – a ala política da Legião da Liberdade da Rússia – disse à CNN que a operação começou na noite de domingo (21) e os combates estavam “em andamento”.

Ele não especificou o número de combatentes que cruzaram a fronteira para a Rússia.

Baranovsky disse que o grupo queria “libertar nossa pátria da tirania de Putin”.

Em publicação no Telegram, os grupos disseram que haviam “libertado totalmente o assentamento de Kozinka na região de Belgorod. [Os] primeiros grupos entraram em Grayvoron.”

Em um incidente separado na noite de segunda-feira, a Legião da Liberdade da Rússia publicou um vídeo no Telegram que parece mostrar a chamada bandeira azul e branca da Rússia livre voando sobre a Universidade Estadual de Moscou.

Outros vídeos postados pelo grupo também parecem mostrar outra bandeira da oposição russa sobrevoando várias áreas da capital russa.

O grupo não reivindicou a responsabilidade direta pelos incidentes e a CNN não pôde verificar os relatórios de forma independente.

O que é a Legião da Liberdade da Rússia?

A Legião da Liberdade da Rússia conta com algumas centenas de voluntários russos obstinados e endurecidos pela batalha lutando contra seu próprio povo como parte das forças armadas ucranianas.

César é um membro do grupo. Ele é um ex-professor, pai e tem uma esposa que mora em Kiev. Ele disse à CNN no ano passado que dedicou sua vida a derrubar o presidente russo, Vladimir Putin, e marchar para a Praça Vermelha e o próprio Kremlin.

Ele é um membro devoto da Igreja Ortodoxa e sente saudades da era czarista que antecedeu a União Soviética. Sua unidade está bem equipada com veículos blindados modernos, miras e as mais recentes armas automáticas.

Os próprios legionários admitiram que muitas vezes são tratados com desconfiança pelos soldados ucranianos, mas esperam conquistá-los com bravura no campo de batalha.

Sua aparente incursão ao longo de uma fronteira que é frequentemente usada por equipes de morteiros e artilharia russas como base de fogo para ataques dentro da Ucrânia ajudará a consolidar ainda mais sua reputação.

Também serve como parte de operações psicológicas contínuas destinadas a minar o apoio à guerra na Rússia e o espírito de luta dos próprios soldados russos – sinalizando que eles podem ser atacados a qualquer momento e até mesmo por seus próprios compatriotas.

Peskov, porta-voz do Kremlin, disse: “As forças russas estão trabalhando para expulsar o grupo ucraniano de sabotagem e reconhecimento do território da Federação Russa e destruí-lo. Existem forças e meios suficientes”, disse ele a repórteres.

Ele fez referência a Bakhmut, que ganhou uma importância descomunal no conflito, enquanto as forças russas lutam para capturar a cidade do leste ucraniano, mas falham em obter ganhos em outros lugares.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil