O presidente russo, Vladimir Putin, negou nesta sexta-feira (30) a tentativa de reviver a União Soviética, momentos depois de anunciar que Moscou anexaria quatro províncias ucranianas após “referendos” condenados em Kiev e no Ocidente como uma farsa.

Em um discurso no Kremlin para centenas dos principais políticos da Rússia, Putin disse que a Rússia defenderá seu novo território com todos os meios à sua disposição, observações que podem sinalizar uma escalada no conflito com a Ucrânia.

Putin anuncia anexação de quatro territórios ucranianos à Rússia

presidente russo Vladimir Putin anunciou, nesta sexta-feira (30), a anexação de quatro regiões do território ucraniano à Rússia. O movimento intensifica a guerra que já perdura há sete meses e dá início a uma nova imprevisível fase do confronto.

Moscou declara que as regiões ucranianas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, em grande parte ou parcialmente ocupadas por forças russas ou apoiadas pela Rússia, fazem parte da Rússia.

“Existem quatro novas regiões russas”, disse Putin durante a cerimônia feita para a anexação. “As pessoas que vivem nessas quatro regiões estão se tornando nossos cidadãos para sempre”, acrescentou.

A região equivale a praticamente um quinto da Ucrânia. O anúncio de Putin aconteceu em uma cerimônia especial na capital russa de Moscou.

A anexação anunciada acontece após os chamados referendos realizados por autoridades apoiadas pela Rússia no leste e sul da Ucrânia sobre a adesão à Rússia.

“As pessoas fizeram sua escolha clara”, disse Putin, nesta sexta-feira (30). “A escolha das pessoas para fazer parte da Rússia está predicada na história”, acrescentou.

Os votos nos referendos são ilegais sob a lei internacional e foram rejeitados pela Ucrânia e nações ocidentais como “uma farsa”.

“As pessoas foram separadas de sua pátria quando a União Soviética se rompeu”, afirmou Putin. “A Rússia não busca trazer a União Soviética de volta”, completou.

O presidente russo ainda disse que o governo ucraniano deve “respeitar a vontade das pessoas”. Além disso, afirmou que a Rússia defenderá suas terras “com todos os meios” e trabalhará para “aumentar a segurança nas novas regiões”.

Antes da cerimônia, os líderes separatistas apoiados pela Rússia publicaram uma foto em Moscou.

O chefe da administração apoiada pela Rússia em partes ocupadas de Zaporizhzhia, Yevgeny Balitsky, compartilhou uma imagem sua ao lado de Vladimir Saldo, seu colega em Kherson, Denis Pushilin, da autoproclamada República Popular de Donetsk e Leonid Pasechnik da autoproclamada República Popular de Luhansk.

O movimento de Putin dá início ao processo formal de absorção das áreas da Ucrânia em questão. Na quinta-feira (29), Putin assinou decretos reconhecendo a independência das regiões ocupadas de Kherson e Zaporizhzhia – uma formalidade necessária antes de serem anexadas.

Os líderes ocidentais viram a decisão de Putin de identificar Donetsk e Luhansk no início de fevereiro como um ataque à soberania ucraniana que serviu de pretexto para a guerra. Dias depois, Moscou lançou seu ataque militar a Kiev.

A Rússia reconhecerá como território próprio a totalidade dentro de suas fronteiras declaradas desde 2014, disse o Kremlin à CNN nesta sexta-feira.

As leis das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk estabelecem que suas fronteiras são as de todas as regiões dos estados ucranianos de Donetsk e Luhansk. As forças ucranianas atualmente controlam cerca de 40% da região leste de Donetsk.

Quando perguntado se os territórios da República Popular de Donetsk (DPR) que estão atualmente sob o controle da Ucrânia também serão considerados parte da Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que sim, e será todo o território reconhecido desde 2014 pelos russos.

O território da RPD que atualmente não é controlado pelo exército russo “terá que ser liberado”, acrescentou Peskov.

Peskov não pôde dar uma resposta imediata sobre Kherson e Zaporizhzhia, as duas outras áreas onde os chamados referendos foram realizados, acrescentando: “Preciso confirmar isso.”

Kremlin: qualquer ataque ao território anexado será um ataque à Rússia

O Kremlin disse, nesta sexta-feira (30), que ataques contra qualquer parte da faixa da Ucrânia que o presidente Vladimir Putin assinou a anexação serão considerados agressões contra a própria Rússia, acrescentando que a Rússia lutará para tomar a totalidade do território ucraniano da região leste de Donbass.

Questionado por repórteres se um ataque da Ucrânia aos territórios que a Rússia reivindica como sua terra seria considerado um ataque à Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: “Não seria outra coisa.”

Putin disse na semana passada que estava disposto a usar armas nucleares para defender a “integridade territorial” da Rússia.

Os detalhes exatos da anexação da Rússia não estão claros, mas parece que a Rússia está reivindicando cerca de 109 mil quilômetros quadrados (42.000 milhas quadradas) de território ucraniano, ou cerca de 18%, além da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.

Se a Rússia pudesse estabelecer o controle sobre toda a área que reivindica, Putin teria anexado cerca de 136.000 quilômetros quadrados ou mais de 22% da Ucrânia, cujas fronteiras a Rússia reconheceu em um tratado após a queda da União Soviética.

Mas as forças russas não controlam todo esse território. Mesmo enquanto Putin se preparava para anunciar oficialmente o início da anexação, as forças ucranianas cercaram a fortaleza russa de Lyman, no norte da região de Donetsk.

Fonte: CNN Brasil