O economista Marcio Pochmann foi confirmado nesta quarta-feira (26) pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A decisão é tida como polêmica por analistas. Em entrevista à CNN, a professora de economia do Insper, Juliana Inhasz, afirmou que não acha adequada a nomeação de Pochmann ao cargo.

Para ela, a indicação de Pochmann está ligada a questões ideológicas.

“A nomeação dele é muito mais uma forma de trazer a ideologia e pessoas mais ligadas ao presidente Lula, de uma maneira pessoal”, afirma Inhasz.

A professora destaca ainda que Pochmann não é, necessariamente, um economista considerado técnico.

“A gestão dele no Ipea não foi uma gestão legal, não foi uma gestão vista com bons olhos, porque foi muito carregada de ideologia e não com o caráter técnico que esses institutos precisam”, avalia.

Inhasz ainda diz que o mercado vê a nomeação do economista com maus olhos.

“A gente sabe que determinadas escolhas, interferências metodológicas, podem fazer com que os resultados fiquem bem distorcidos e a gente perde a possibilidade de fazer uma política econômica com uma base mais sólida”, conclui.

O jornalista Boris Casoy definiu a decisão como “um erro” do governo Lula.

Para ele, o economista escolhido para o IBGE “destoa deste time que o presidente Lula conseguiu levar para a Economia”.

“Pochamann não tem credibilidade junto aos agentes da economia brasileira. Pode ter muita credibilidade em determinados círculos de caráter ideológico, cujo olhar é para trás e não para adiante”, prosseguiu.

O jornalista ainda criticou as formas de pensar economia do indicado ao órgão por suas “posições retrógradas, antigas, [com] uma linguagem de folhetim de organização estudantil, uma coisa que não se usa mais. É muito triste”.

Já a avaliação do também jornalista Graciliano Rocha foi mais focada na mensagem política passada com a escolha de Pochmann.

“A frente ampla e o PT raiz vão viver em eterna fricção”, lembrou.

“A mensagem que passa para o mundo político é que o PT nunca abandona suas pretensões de hegemonia quando ele lida com aliados, acho que tem esse substrato também”, disse.

Para Tiago Mitraud, ex-deputado federal, a escolha representa “uma grande derrota para o país e para Simone Tebet”, ao citar críticas da ministra à indicação.

“Um político da ala mais retrógrada do PT”, continuou sobre Pochmann.

Para o ex-deputado, Pochmann é um “típico economista da década de 1960, quando o mundo ainda estava na Guerra Fria e tudo era culpa do capitalismo ou do socialismo”, definiu.

“Agora, a gente está colocando-o em um órgão essencial para governo, que, inclusive, é responsável por taxas de inflação, alguém que está parado em décadas atrás na discussão econômica”.

Mitraud também comparou a situação à realidade da Argentina, indicando a possibilidade de algo semelhante ocorrer no Brasil, com maquiagem de dados oficiais.

“Agora, o Brasil corre risco de ter os seus dados estatísticos também maquiados por ter um militante da ala retrógrada do PT no comando deste órgão tão importante”, finalizou.

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Ministros foram contra a indicação

Conforme apurado pela âncora da CNN Tainá Falcão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), eram contrários ao nome de Pochmann.

A CNN apurou que Pochmann é criticado entre a equipe de Tebet no Ministério do Planejamento, por exemplo, sendo considerado um “terraplanista econômico”.

Nessas críticas, o economista também é acusado de “maquiar dados”, sendo comparado ao que houve na economia argentina durante as gestões Kirchner, com manipulações de números para manter a meta da inflação de 10% ao ano.

Fontes aliadas do Palácio do Planalto relataram à CNN que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez reclamações sobre a indicação antes dela ser confirmada, dizendo que Pochmann é da ala mais radical do partido.

As críticas, nesse caso, apontam para um aparelhamento político do IBGE e alegam que o Ipea foi conduzido por viés ideológico e político quando Pochmann esteve à frente.

Apoio do PT

Na terça-feira (25), a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, com quem Haddad já protagonizou situações de confronto, saiu em defesa do economista nas redes sociais.

“Indicação de Marcio Pochmann para o IBGE é muito bem-vinda. Intelectual histórico, Pochmann tem um olhar aguçado para as pesquisas na área social, é um democrata que pensa um Brasil mais justo”, escreveu.

Desde o início de janeiro, o IBGE está sendo presidido interinamente pelo diretor de pesquisas do Instituto, Cimar Azeredo Pereira.

Marcio Pochmann foi presidente do Instituto de Pesquisas Especiais Aplicadas (Ipea) entre 2007 e 2012 e, mais recentemente, presidiu a Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT e ao Instituto Lula.

Publicado por Amanda Sampaio, com informações de Tainá Falcão.

Fonte: CNN Brasil