A imagem mostra nossa Galáxia, a Via Láctea, em partículas fantasmagóricas chamadas neutrinos

Crédito, ICECUBE/NSF

A imagem mostra nossa Galáxia, a Via Láctea, em partículas fantasmagóricas chamadas neutrinos

  • Author, Victoria Gill
  • Role, Correspondente de Ciências da BBC News
  • Há 1 hora

Um detector astronômico enterrado no gelo da Antártida forneceu uma visão da nossa galáxia que nunca foi vista antes.

A imagem borrada e extraordinária é da Via Láctea, mas é composta de partículas “fantasmas” que são emitidas pelas reações que alimentam as estrelas.

As partículas são os chamados neutrinos, que são extremamente difíceis de detectar na Terra.

Para encontrá-los, os cientistas transformaram um vasto bloco de gelo antártico em um detector.

Um detector astronômico é um dispositivo que recebe “partículas mensageiras”, como os próprios neutrinos ou fótons, raios cósmicos, ondas gravitacionais, e produz um sinal correspondente.

“Esta é a primeira vez que vemos nossa galáxia usando partículas em vez de fótons [de luz]”, disse o professor Subir Sarkar, da Universidade de Oxford, à BBC News. Isso, explicou ele, fornece uma visão de “processos de alta energia que moldam nossa galáxia”.

Os neutrinos podem ser considerados mensageiros astronômicos que apontam para esses processos fundamentais. Eles são criados quando partículas chamadas de raios cósmicos – que estão girando perto da velocidade da luz – colidem com outra matéria.

Capturar essas colisões significa basicamente capturar neutrinos. E esse não é um processo fácil.

Foto de detector de neutrinos no gelo

Crédito, MARK KRASBERG/ICECUBE/NSF

Milhares de detectores de neutrinos individuais estão suspensos no gelo por cabos

“O neutrino é uma partícula fantasma; é basicamente quase sem massa”, explica Sarkar. “Eles estão se movendo essencialmente na velocidade da luz e podem passar pela galáxia e não interagir com nada. É por isso que, para vê-los, você precisa de um detector enorme.”

O detector que os cientistas e engenheiros projetaram é chamado de IceCube. É composto por milhares de sensores em cabos longos que são perfurados e congelados em um bloco cúbico de gelo de 1 km. Toda a máquina está enterrada perto do Polo Sul.

Sempre que um neutrino interage com um dos bilhões de moléculas de gelo, essa interação é capturada.

“Essencialmente, sabendo qual sensor é acionado e a que horas, podemos reconstruir a direção [de onde veio o neutrino]”.

Os cientistas dizem que a descoberta, publicada na revista Science, é uma janela totalmente nova para a nossa galáxia.

Mapeando a Via Láctea

O conceito de um artista da nossa Galáxia, criado usando dados astronômicos

Crédito, NASA/JPL-CALTECH

O conceito de um artista da nossa Galáxia, criado usando dados astronômicos

Faz um século que o astrônomo Edwin Hubble descobriu que a Via Láctea era apenas uma entre milhões de galáxias – que era nossa localização em um vasto Universo.

A professora Naoko Kurahashi Neilson, física da Universidade Drexel, na Filadélfia, membro da equipe do IceCube, disse que os humanos estudam esse tema há milênios.

“Observamos isso em muitos comprimentos de onda de luz – como ondas de rádio e raios gama – mas desde o início dos tempos sempre foi em radiação eletromagnética. Em todos os comprimentos de onda de luz ou fótons.”

“Este é o primeiro ‘mapa’ da nossa galáxia em algo [além da luz], e é em neutrinos de alta energia”, disse ela à BBC News. “[Isso significará] que podemos começar a entender melhor os processos físicos na Via Láctea”.

Observatório IceCube

Crédito, YUYA MAKINO, ICECUBE/NSF

Os dados foram coletados pelo observatório IceCube – um detector congelado no gelo do Polo Sul

Fonte: BBC