11 março 2022

Máscara usada para lidar com químicos

Crédito, Getty Images

Estoques são controlados e usados ​​para desenvolver roupas de proteção, máscaras de gás, antídotos e métodos para identificar armas químicas

A Rússia acusou a Ucrânia, nesta sexta (11/3) de tentar esconder “a existência de armas biológicas” no país, mas não apresentou nenhuma prova da alegação, feita durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

Os Estados Unidos afirmaram que a alegação é “risível” e que é a Rússia que tem “um longo e bem documentado histórico de uso” desse tipo de recurso bélico.

“É a Rússia que tem há anos um programa de armas biológicas em violação de leis internacionais”, disse Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA na ONU, também sem apresentar as provas.

Os Estados Unidos também afirmaram que têm uma grande preocupação de que a acusação feita pela Rússia possa ser uma tentativa do país de justificar seu próprio uso de armas similares contra a Ucrânia.

“[A Rússia pode usar armas químicas ou biológicas] para assassinatos, para apoio em operações táticas militares e durante operações em que a culpa por algum ato é colocada no inimigo (false flag, ou ‘bandeira falsa’)”, afirmou a representante americana.

A diretora do Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento, Izumi Nakamitsu, diz que não há indícios de que haja um programa de armas biológicas na Ucrânia.

Mas o que são armas químicas e biológicas? Por que elas causam tanto temor e são proibidas por acordos internacionais?

Armas químicas

Armas químicas são quaisquer tipos de munição ou artefato que contenha toxinas ou substâncias químicas que atacam os sistemas do corpo humano.

Há diferentes categorias de substâncias que podem compor as armas químicas:

  • Agentes sufocantes, como o fosgênio (usado durante a Primeira Guerra Mundial), atacam os pulmões e o sistema respiratório;
  • Agentes neurotóxicos, como o Novichok (desenvolvido pela União Soviética) afetam o sistema nervoso – o contato com uma quantidade minúscula da substância pode ser fatal;
  • Agentes vesicantes, como o gás mostarda (também usado na Primeira Guerra), causam queimaduras químicas na pele e afetam especialmente as mucosas, gerando bolhas e causando cegueira.

Para uso na guerra, esses agentes químicos podem ser colocados em bombas, mísseis ou dentro de artilharia mais leve.

Devido aos terríveis e cruéis efeitos no corpo humano e a facilidade com que atingem populações civis, a produção, estocagem e uso de armas químicas são estritamente proibidos pela Convenção de Armas Químicas, um acordo internacional do qual 193 países participam, incluindo Rússia e Ucrânia.

Os países signatários do tratado concordaram em nunca fabricar, armazenar ou usar armas químicas – nem ajudar outros a fazê-lo. Eles também são obrigados a declarar quais os estoques de armas químicas que eles possuem e onde elas poderiam ser produzidas.

Com base nisso, os inspetores internacionais auditam a destruição de armas químicas e instalações para a sua produção – um processo que de duração estimada de dez anos.

Esse prazo foi cumprido na maioria dos países, mas não na Rússia, que herdou os estoques da antiga União Soviética, nem nos EUA. O tamanho dos arsenais, o desafio técnico do desarmamento e seus custos causaram atrasos.

Em 2018 a Rússia anunciou ter concluído a destruição de suas quase 40 mil toneladas de agentes declarados – o maior estoque do mundo.

Os EUA destruíram cerca de 90% de seu estoque declarado, sendo que este ano de 2022 era a data-limite estipulada para o término da destruição.

O tratado permite que os países tenham um pequeno estoque, altamente controlado, para que possam desenvolver roupas de proteção, máscaras de gás, antídotos e métodos para identificar armas químicas.

Antes da convenção, o uso de armas químicas durante a guerra era comum. Os Estados Unidos chegaram a ter um centro de desenvolvimento delas, o US Chemical Warfare Service – que trabalhou para o desenvolvimento do napalm (um tipo de arma incendiária) com o cientista Louis Fieser, da Universidade de Harvard.

Armas químicas foram usadas na Primeira Guerra Mundial; na guerra entre Irã e Iraque na década de 1980; e mais recentemente na guerra da Síria, quando o governo do presidente Bashar al-Assad as usou para atacar forças rebeldes.

O agente neurotóxico Novichok foi usado em 2018 para envenenar Sergei Skripal, ex-agente militar de inteligência russo que atuou como agente duplo para o serviço secreto britânico nos anos 1990. Sua filha e um policial que investigou o caso também foram afetados. O russo e sua filha estavam no Reino Unido, que acusou a Rússia de orquestrar o ataque. A Rússia nega.

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Armas biológicas

As armas biológicas são diferentes das armas químicas. O termo “arma biológica” é usado para descrever o uso e a disseminação proposital de agentes patogênicos perigosos como arma de guerra. Ou seja, é ataque contra o inimigo feito com agentes que causam doenças como o Ebola, a varíola, o antraz, a peste bubônica.

De acordo com a definição da OMS (Organização Mundial de Saúde), arma biológica é qualquer vírus, bactéria ou fungo criado ou reproduzido com a intenção de causar doenças.

Esses agentes podem ser usados para contaminar água, alimentos, ar ou se passados por contato direto – e não há como circunscrever o ataque a alvos militares, já que essas doenças tendem a se disseminar.

Os efeitos das armas biológicas são mais difíceis de serem reconhecidos, pois algumas das doenças têm tempos de incubação longos. Seu uso pode causar epidemias ou mesmo uma pandemia.

A Rússia acusou a Ucrânia de trabalhar com os EUA no desenvolvimento de armas biológicas, mas não apresentou evidências. A Ucrânia diz que a acusação é mentira e os EUA afirmaram que é a Rússia que tem programas de armas de guerra ilegais.

A Ucrânia, como muitos países do mundo, têm laboratórios onde são realizadas pesquisas sobre diversas doenças contagiosas (como covid, sarampo etc.) para procurar maneiras de defender sua população contra elas.

A Rússia também tem diversos laboratórios de pesquisa de patógenos.

O problema é que é difícil determinar se um laboratório em outro país está estudando maneiras de proteger sua população ou se trabalha para desenvolver formas de usar o micro-organismo como arma.

Durante a Guerra Fria, tanto os EUA quanto a União Soviética fizeram pesquisas sobre guerra biológica.

Mas a Rússia (principal país da URSS) controlava um programa massivo de desenvolvimento de agentes biológicos para a guerra, dirigido por uma agência chamada Biopreparat.

Após o fim da Guerra Fria, nos anos 1990, cientistas que desmantelaram a Biopreparat descobriram que os soviéticos produziram armas biológicas em massa com antraz, varíola e outras doenças, depois de testá-las em macacos vivos no sul da Rússia. Foram encontrados esporos de antraz nas ogivas de mísseis intercontinentais.

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Fonte: BBC