Na viagem a Portugal e Espanha, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrará em contato com os ganhos da integração à União Europeia (UE) e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e as perdas, para o Brasil, de um alinhamento político com a China.

Apesar de suas declarações sobre a Ucrânia e movimentos em relação à China, Lula encontrará a porta da Europa ainda entreaberta.

A CNN apurou que a informação do governo brasileiro não procede: não será anunciado acordo entre a Embraer e a portuguesa Ogma para fabricar os Super Tucanos em Portugal.

Mesmo assim, o mercado mais interessante que se abre na Europa diz respeito à Otan, que Lula acusou de fomentar a guerra na Ucrânia.

Portugal já comprou cinco KC-390, o avião de transporte e reabastecimento militar da Embraer. A primeira unidade já foi entregue e está em Portugal recebendo equipamentos da Otan. Com isso, a aeronave já vai ser qualificada como produto Otan.

A Embraer não divulga o valor do avião, que depende do pacote da venda. Mas em 2020 a Hungria, outro membro da UE e da Otan, adquiriu dois C-390, a versão só de carga, por US$ 300 milhões. O pacote incluiu peças de reposição e treinamento.

“Somos garotos-propaganda desse avião, porque funciona bem”, disse à CNN um funcionário do governo português.

A Holanda já selecionou o avião e deve fechar negócio entre o fim deste ano e o começo do próximo.

No fim de março, a Embraer promoveu evento em Portugal para mostrar o C-390. Áustria e República Checa participaram. Todas integram a Otan.

Na feira de defesa e segurança Laad, promovida nos dias 11 a 14 de abril no Rio, a Embraer e a sueca Saab assinaram memorando de entendimento para promover o C-390 perante as Forças Armadas da Suécia, que deve ingressar na Otan em breve.

Fora da Europa, o avião participa de concorrência na Coreia do Sul, e a Índia lançou pedido de informação. Os indianos podem comprar de 40 a 80 unidades.

A Embraer lançou na Laad o A-29N, versão do Super Tucano com configuração Otan. O avião de combate e vigilância é um sucesso.

Já foram vendidas 260 unidades para 16 países, incluindo a Força Aérea dos Estados Unidos. Cada unidade custa em torno de US$ 15 milhões. A Colômbia considera que ele foi decisivo na vitória contra a guerrilha das Farc.

Em 2019, o então presidente Donald Trump designou o Brasil “aliado preferencial extra-Otan”, status que facilita o acesso à tecnologia militar americana.

É uma relação ganha-ganha, que aumenta as chances do Brasil de vender para a maior aliança de defesa do mundo e de incorporar a tecnologia mais avançada que existe.

Atacar a Europa e os Estados Unidos no tema geopolítico mais sensível do momento não é a melhor forma de ganhar a confiança da Otan.

“Portugal sabe qual é a posição brasileira sobre a Ucrânia e não são coincidentes”, disse o funcionário português, envolvido nos preparativos da visita de Lula.

“A posição de Portugal sobre coincide 100% com a europeia. Será uma oportunidade de explicar um ao outro o porquê das posições de cada um. Os dois países se respeitam, e não é por pensarmos diferente que nos vamos dar pior.”

Nessa viagem, Lula terá a oportunidade de ouvir políticos de tendências ideológicas distintas com opiniões idênticas em favor da ajuda à Ucrânia e das sanções contra a Rússia: o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, liberal, e os primeiros-ministros de Portugal, António Costa, e da Espanha, Pedro Sánchez, ambos socialistas.

Para sorte do Brasil, não estão no governo português os partidos Iniciativa Liberal, de direita, e Chega, de extrema-direita, que criticaram de forma mais virulenta as posições de Lula em relação à Ucrânia. E nesta sexta-feira (21) ucranianos protestaram na frente da embaixada do Brasil em Lisboa.

Brasil e Portugal não realizam reunião de cúpula desde 2016, e o governo português estava ansioso por uma reaproximação.

“Foi um tempo perdido sem falar no mais alto nível político”, lamenta o funcionário. Os dois presidentes abrirão um fórum no dia 24 que reunirá quase 200 empresas de cada país.

Portugal é um firme defensor da entrada em vigor do acordo Mercosul-União Europeia, ao contrário de países mais protecionistas do mercado agrícola, como França e Polônia. Já a Espanha presidirá o Conselho de Ministros da UE no segundo semestre, sucedendo a Suécia.

O assessor especial Celso Amorim decidiu viajar para a Ucrânia. Será uma oportunidade de recalibrar a visão do governo brasileiro sobre quem é o responsável por essa guerra: Vladimir Putin.

A CNN procurou o Itamaraty e o Palácio do Planalto para comentar sobre o acordo da Embraer, mas não obteve retorno.

Fonte: CNN Brasil