A 2ª Vara Criminal de Barueri negou, na última segunda-feira (16), o pedido de prisão do empresário Saul Klein, de 68 anos, filho do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, por oito crimes sexuais, após indiciamento da Polícia Civil de São Paulo.

Segundo o juiz Fabio Calheiros do Nascimento, foi acolhido o parecer do Ministério Público “para realização de diligências no inquérito que apura o caso”. E como não há prazo definido para sua conclusão, a medida foi tomada “sob o fundamento de que a lei proíbe prisão por tempo indeterminado (artigo 10 do Código de Processo Penal)”.

Para alguns dos demais suspeitos foram impostas medidas cautelares, como a proibição de contato entre si e com as vítimas, proibição de sair do país e bloqueio de bens de uma pessoa jurídica que poderia estar sendo utilizada pelo grupo para cooptação de mulheres.

Procurada pela CNN, a defesa de Klein, representada pelo escritório André Boiani e Azevedo Advogados, declarou que “tinha convicção plena de que não seria decretada sua prisão, já que os elementos existentes no inquérito policial são claros no sentido de que tal decisão seria totalmente descabida.”

“Saul reafirma que nenhum crime praticou. Ele lamenta a indevida exposição de sua imagem relativamente a acusações que deveriam tramitar de forma sigilosa, mas continua a confiar na Justiça”, finalizam.

Entenda o caso

A delegada-titular de Defesa da Mulher de Barueri, Priscila Camargo Campos Gonçalves, e o delegado-assistente Leonardo Rocha Vieira, responsáveis pelas investigações, pediram em 29 de abril, num inquérito de 90 páginas, a prisão preventiva de Saul Klein e mais nove pessoas.

Veja os crimes:

  • Organização criminosa: por integrar e financiar a organização criminosa na posição de comando – Klein e outras 12 pessoas investigadas;
  • Redução análoga à escravidão: submeter pessoa à jornada exaustiva de trabalho – Klein e outras 4 pessoas investigadas;
  • Tráfico de pessoas: aliciar e transportar mulheres para fins de exploração sexual e/ou redução à condição análoga de escravo – Klein e outras 9 pessoas investigadas;
  • Estupro: praticar com violência física ou sexual atos de conjução carnal ou libidinoso diversos – Klein e outras quatro pessoas investigadas;
  • Estupro de vulnerável: praticar atos de conjunção carnal ou libidinosos diversos com vítimas impossibilitadas de oferecer residência – Klein e outras 2 pessoas investigadas;
  • Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável: dificultar ou impedir a prostituição de adolescente – Klein e mais 2 pessoas investigadas;
  • Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual: dificultar ou impedir a prostituição – Klein e outras 3 pessoas investigadas;
  • Casa de prostituição: manter estabelecimento próprio em que ocorria exploração sexual – Klein e mais 1 pessoa investigada;
  • Falsificação de documento público: falsificar em parte documento público – 2 pessoas investigadas;

Foram ouvidas 20 vítimas. Uma delas foi apontada diversas vezes como integrante da organização por várias mulheres e teve sua prisão requerida.

Elas relataram que foram contratadas para realizar presenças vip, atuarem como modelos ou panfletadoras. Mas, de acordo com a polícia, eram segregadas em imóveis de Klein e submetidas a manter relações sexuais com ele.

“Às vezes de forma não desejada e mediante violências físicas ou psicológicas feitas pelos coautores e demais integrantes da organização, às vezes após intenso uso de bebidas alcoólicas e/ou remédios”, aponta o inquérito.

A remuneração das vítimas era em média de R$ 1 mil até R$ 3 mil por fim de semana. Outras vantagens eram oferecidas diretamente ou indiretamente, caso elas desejassem sair do falso emprego.

A organização criminosa funcionava em quatro núcleos que eram subordinados a Klein, sendo eles:

  1. Aliciamento e seleção; 
  2. Falsificação de documentos;
  3. Segurança e logística interna, interestadual e administrativa;
  4. Médico.

Segundo a polícia, os crimes praticados sob o comando do empresário “restaram demonstrados pelos diversos depoimentos de inúmeras vítimas que relataram, com detalhes, os meios e modos de operação da empreitada ilícita, bem como pelas diligências em campo realizadas pela polícia judiciária e declarações de alguns envolvidos nas atividades.”

Veja a íntegra do posicionamento da defesa de Saul Klein

“A defesa de Saul Klein tinha convicção plena de que não seria decretada sua prisão, já que os elementos existentes no inquérito policial são claros no sentido de que tal decisão seria totalmente descabida.

Deve-se salientar que essa foi também a posição do Ministério Público quanto ao pedido feito pela Autoridade Policial.

Saul reafirma que nenhum crime praticou. Ele lamenta a indevida exposição de sua imagem relativamente a acusações que deveriam tramitar de forma sigilosa, mas continua a confiar na Justiça.

André Boiani e Azevedo Advogados”

Fonte: CNN Brasil