Diante do quadro de guerra na Ucrânia, inflação em níveis históricos nos países ricos, crise energética na Europa e, por fim, risco de recessão global, os chefes de estado do G20, como é chamado o grupo das 20 maiores economias do mundo, voltam a se encontrar nesta terça-feira (15) em Bali, na Indonésia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse neste domingo que seu país manterá linhas de comunicação abertas e não buscará conflitos com a China, antes do que se esperam ser conversas tensas sobre uma série de questões geopolíticas durante a cúpula.

Além disso, o desafio da cúpula será pavimentar, sob bases socioambientalmente sustentáveis, a recuperação de um mundo que ainda sofre para se recuperar dos estragos da pandemia.

Só que, com as divergências entre as maiores potências do grupo em torno do conflito no Leste Europeu, nada garante que, desta vez, haverá consenso na redação de um documento final. Os últimos encontros terminaram sem comunicado formal do grupo.

O presidente russo, Vladimir Putin, enviou seu ministro de relações exteriores, Sergei Lavrov. Contando com o apoio da China e a neutralidade de emergentes como Índia, África do Sul e o próprio Brasil, caberá ao chanceler a missão de frear a confecção de um documento que represente uma condenação categórica do grupo à invasão de tropas russas na Ucrânia.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse neste domingo (13) que o G20 não é o fórum para lidar com questões de segurança e que, em vez disso, deve se concentrar em desafios econômicos globais urgentes.

A Ucrânia não é membro do G20, mas foi convidada pela anfitriã Indonésia como observadora. Seu presidente, Volodymyr Zelenskiy, discursará virtualmente na reunião.

Ao chegar em Bali, Lavrov acusou o Ocidente de militarizar o Sudeste Asiático para conter os interesses chineses e russos em um campo de batalha geoestratégico.

“Os Estados Unidos e seus aliados da Otan estão tentando dominar esse espaço”, disse Lavrov a repórteres.

Provocações “agressivas”

O presidente norte-americano realizou neste domingo uma reunião trilateral com líderes dos aliados Japão e Coreia do Sul e disse que os três países estão “mais alinhados do que nunca” com relação à Coreia do Norte.

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, disse que as recentes provocações do Norte mostram a “natureza contra o humanitarismo” do regime norte-coreano, acrescentando que isso tem se tornado mais hostil e agressivo com base na confiança em suas capacidades nucleares e de mísseis.

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse que as ações de Pyongyang, que incluem um recente disparo de um míssil balístico sobre o Japão, não têm precedentes.

“Essa cúpula trilateral é oportuna, considerando que estamos prevendo mais provocações”, disse Kishida.

Agenda

Especialistas em relações internacionais veem espaço para avanços na agenda ambiental, com os compromissos assumidos na conferência do clima da ONU ecoando nas reuniões do G20. Também há chance de maior acordo entre os países em torno da recuperação econômica, do combate à inflação, da reestruturação de cadeias produtivas e dos acordos comerciais.

“Por outro lado, é improvável que o tema mais relevante, ou seja, a guerra na Ucrânia, seja tratado a partir de algum tipo de consenso”, diz Vinícius Müller, professor de Economia da Eseg, faculdade do Grupo Etapa.

“Mesmo que haja uma convergência entre França, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Japão, o mesmo não deve ocorrer com a Índia e a China, que tendem a adotar posições mais cautelosas em relação a qualquer tipo de condenação à Rússia.”

Economista e doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, Igor Lucena diz que a perspectiva de a guerra avançar nos próximos dias torna mais difícil um alinhamento entre os membros do G20.

A segurança alimentar, dado o risco de uma crise de alimentos já no ano que vem, a vulnerabilidade energética da Europa, que busca fontes de energia substitutas ao gás russo, e a digitalização das economias estão entre os assuntos que mais devem pautar as reuniões entre chefes de Estado na terça e na quarta-feira, os dias da cúpula. Há expectativa de o fortalecimento de acordos globais de comércio ser defendido por China e União Europeia.

Preocupações com a instabilidade na geopolítica também podem estimular debates envolvendo a entrada de Suécia e Finlândia na Otan, a organização militar do Ocidente, bem como as tensões entre China e Taiwan.

Num esforço para estreitar as relações, os presidentes dos EUA, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, terão nesta segunda-feira (14), véspera da cúpula do G20, uma reunião bilateral. Será o primeiro encontro presencial entre os dois líderes desde que Biden assumiu o posto.

*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e da agência Reuters.

Fonte: CNN Brasil