Quando o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, iniciou um ciclo de aumentos agressivos nos juros para conter a inflação no ano passado, o fez com o objetivo de evitar uma dolorosa repetição da década de 1970, quando a inflação saiu do controle e o mal-estar econômico se instalou.

A inflação vem caindo, indicando que após 10 aumentos consecutivos nas taxas de juros, o banco central está obtendo algum sucesso.

Mas Gary Richardson, um historiador do Federal Reserve, está preocupado de que os formuladores de políticas monetárias – que agora pensam em fazer uma pausa nos aumentos– ainda correm o risco de repetir os erros daquela época.

“Quanto mais vezes você pausa [os aumentos de juros], mais o problema vai durar”, disse. “Isso é uma preocupação aqui.”

O que está acontecendo

Quando o Fed se reuniu na semana passada, ele elevou sua principal taxa de juros em mais um quarto de ponto percentual, observando que a inflação continua “bem acima” de sua meta de longo prazo de 2%.

No entanto, os sinais de estresse no setor bancário que podem aumentar a pressão sobre a economia abriram as portas para manter as taxas inalteradas na nova reunião que deve acontecer em junho.

“Há uma sensação de que estamos muito mais perto do fim do que do começo”, disse o presidente Jerome Powell.

Os investidores estão comemorando a ideia de que os custos dos empréstimos podem ter atingido o pico. Richardson, no entanto, está preocupado que a inflação possa subir novamente, se esse for o caso.

Um recuo prematuro pode fazer com que o Fed perca o controle da situação, apresentando opções ainda mais sombrias no futuro. Foi o que aconteceu na década de 1970, disse ele.

Retrocesso rápido

O presidente do Federal Reserve na época, Arthur Burns, aumentou drasticamente as taxas de juros entre 1972 e 1974. Então, quando a economia se contraiu, ele mudou de rumo e começou a cortar as taxas.

A inflação mais tarde voltou, forçando a mão de Paul Volcker, que assumiu o Fed em 1979, disse Richardson. Volcker controlou a inflação de dois dígitos – mas apenas aumentando os custos dos empréstimos o suficiente para desencadear recessões consecutivas no início dos anos 1980 que, a certa altura, elevaram o desemprego acima de 10%.

“Se eles não pararem a inflação agora, a analogia histórica [indica] que ela não vai parar e vai piorar”, disse Richardson, professor de economia da Universidade da Califórnia, em Irvine.

Há um debate acadêmico recente sobre se é uma simplificação exagerada considerar Burns um tolo e Volcker um herói. E a economia dos EUA parece muito diferente agora do que era há 50 anos .

Mas as comparações revelam os altos riscos para o Federal Reserve em um momento de aguda incerteza.

No radar

O objetivo do banco central de domar a inflação sem causar tensão indevida é dificultado pelo fato de que a economia continua a produzir sinais contraditórios.

Dados divulgados na sexta-feira mostraram que os empregadores dos EUA criaram 253.000 empregos em abril – um aumento surpreendente em um momento em que muitos indicadores apontavam para uma desaceleração nas contratações. Isso reforça a possibiidade do Fed continuar subindo, apesar das esperanças ao contrário em Wall Street.

“A força dos dados de empregos de abril aumentou os riscos de que a futura política do Fed desaponte os investidores”, disse Mark Haefele, diretor de investimentos do UBS Global Wealth Management, em nota aos clientes.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte: CNN Brasil