Uma panda da cidade de Memphis, nos EUA, se tornou a última vítima da escalada da tensão entre Estados Unidos e China. Antes, ela era símbolo da boa vontade de Pequim, mas agora é o centro de um debate tenso no país asiático.

Ya Ya chegou aos EUA com seu companheiro Le Le há duas décadas, como um emblema de amizade bilateral crescente, mas vídeos recentes mostraram ela magra e com queda de pelo, o que gerou revolta na China.

Muitos chineses e alguns defensores dos animais acusam o zoológico de maus-tratos. Vídeos nas redes sociais chinesas afirmando que os pandas estão sendo abusados viralizaram rapidamente, no contexto de crescente sentimento anti-americano, rumores frequentemente alimentados pela propaganda do Estado.

Enquanto isso, as pessoas elogiam vídeos de pandas na Rússia. Imagens dos animais ativos e brincalhões mostram o cuidado excelente do país, e a TV estatal diz que os pandas fortalecem a relação Rússia-China.

Cientistas de China e Estados Unidos lançaram uma investigação conjunta, concluindo que Ya Ya tem um problema genético no pelo, que não interfere na qualidade de vida, e recebeu “excelente atendimento”. Mas essa mensagem não está sendo repassada.

Fora do recinto dos pandas no zoológico de Pequim, a reportagem da CNN perguntou se as pessoas já ouviram falar de Ya Ya.

Um homem diz: “Sim, ela é abusada nos Estados Unidos”. E um menino de 11 anos repete: “Ouvi que os Estados Unidos estão tratando mal o panda”. Outro homem compara: “A Rússia não está cuidando bem dos pandas? Eles são felizes lá, não como nos Estados Unidos”.

Acompanhado da neta, um homem destaca: “Pandas na Rússia são muito felizes, por quê? Russos e chineses são amigos. Pelo menos a Rússia não está sancionando a China”.

Houve também petição online pedindo o resgate do animal, e fotos dela foram colocadas em outdoors de Nova York a Xangai, junto com a mensagem: “Ya Ya, estamos esperando você voltar para casa”.

Com a tensão crescente, Ya Ya foi devolvida, pousando em Xangai na quinta-feira (27), após um voo de 16 horas, levada para casa por um avião especial “panda express”, da FedEx, informou a mídia estatal chinesa.

Assim como sua chegada aos Estados Unidos, seu retorno à China é carregado de simbolismo – desta vez não de amizade crescente, mas de crescente animosidade e desconfiança.

Ferramenta diplomática e morte de Le Le

A China há muito tempo usa os pandas como ferramenta diplomática. Atualmente, eles estão emprestados para cerca de 20 países. Os Estados Unidos não receberam nenhum desde Ya Ya e Le Le, há 20 anos.

Em 1972, durante a histórica viagem do presidente Richard Nixon, sua esposa visitou pandas em Pequim. Meses depois, o governo do país asiático enviou um casal de pandas para o Zoológico Nacional de Washington.

Os pandas são emprestados com licenças de 10 anos e custam US$ 1 milhão por ano.

O zoológico de Memphis já tinha planejado enviar Ya Ya e Le Le de volta a Pequim, porque a licença está expirando. Mas Le Le morreu de doença cardíaca há dois meses, aos 24 anos. A expectativa de vida dos pandas geralmente não chega aos 30 anos.

Mas isso não parou a especulação e gerou uma disparada nas acusações sobre o tratamento dado aos pandas, acelerando os pedidos para trazer Ya Ya de volta à China.

Fonte: CNN Brasil