A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos criminosos de 8 de janeiro retoma os trabalhos nesta terça-feira (11), com depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). A oitiva está marcada para 9h.

Essa sessão estava prevista para a semana passada, mas foi adiada devido às votações na Câmara dos Deputados. No último dia 6, por exemplo, a Casa aprovou o texto da reforma tributária.

Cid foi convocado, então é obrigado a comparecer ao colegiado. Entretanto, ele tem autorização da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), para ficar em silêncio sobre fatos que possam incriminá-lo, seguindo a regra constitucional de que ninguém pode ser obrigado a produzir provas contra si próprio.

Aliados e a defesa do tenente-coronel o aconselharam, assim, a ficar em silêncio quando necessário. Porém, segundo apuração da CNN, ele pretende falar “o que sabe”.

O militar foi ouvido pela Polícia Federal (PF) seis vezes desde que foi preso, no começo do mês de maio, em mais de um inquérito. Porém, essa será a primeira vez que o depoimento será público.

Mauro Cid será questionado sobre mensagens que foram encontradas no celular dele pela perícia da PF com, por exemplo, uma minuta de golpe e de decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

No celular de Mauro Cid, teria sido encontrado um “roteiro de golpe”, que incluía o afastamento dos ministros do STF Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski e a nomeação de um interventor para restaurar a “ordem constitucional”.

Além disso, foram identificadas mensagens do coronel Jean Lawand, sugerindo o golpe. O conteúdo trazia pedidos de Lawand para que Cid convencesse Bolsonaro a ordenar uma intervenção militar no país, após a derrota nas eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Também foi divulgada a informação de que uma suposta minuta de um decreto de GLO e textos que seriam destinados a dar suporte ao governo em um eventual golpe de Estado foram encontrados pela PF no celular de Cid.

A GLO é uma operação militar que permite exclusivamente ao presidente da República convocar as Forças Armadas nos casos em que há o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública em graves situações de perturbação da ordem.

Cid deve colaborar

Fontes ligadas à cúpula da CPMI disseram à CNN que receberam a informação de que Mauro Cid quer colaborar com a apuração.

Conforme apurado pela reportagem, esse posicionamento teria sido repassado pela defesa de Cid.

A dúvida levantada agora é de como será essa colaboração, com o repasse de quais informações e qual a relevância delas para o avanço das investigações.

Aliados de Bolsonaro minimizam risco

A CNN apurou junto a militares que conhecem Mauro Cid e Jair Bolsonaro, além de pessoas que trabalham diretamente com o ex-presidente, que eles avaliam que o depoimento do ex-ajudante de ordens à CPMI do 8 de janeiro não representa um risco tão grande ao ex-chefe de Estado.

Os aliados de Bolsonaro entendem que, sobre o objeto do colegiado –o ataque às sedes dos Três Poderes–, não há o que Cid possa falar sobre suposto envolvimento do ex-chefe.

data-youtube-width=”500px” data-youtube-height=”281px” data-youtube-ui=”politica” data-youtube-play=”” data-youtube-mute=”0″ data-youtube-id=”OMWUStT5VDY”

Entretanto, militares que conhecem o pai de Mauro Cid, que é general, analisam que o ex-ajudante de ordens chega pressionado ao depoimento (ele está sendo investigado por outros casos), mas que, ainda assim, ele não deve comprometer Bolsonaro.

Os aliados entendem que Cid irá à CPMI, então, para tentar “salvar a honra dele”.

*publicado por Tiago Tortella, da CNN

Fonte: CNN Brasil