5 janeiro 2022, 19:00 -03

Atualizado Há 1 hora

Menina sendo vacinada

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O governo federal anunciou na quarta-feira (5/1) a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos, que deve começar na terceira semana de janeiro.

A expectativa é que o primeiro lote de doses chegue ao país em 13 de janeiro e que sejam enviadas para a aplicação nos municípios a partir do dia seguinte.

Foram compradas 20 milhões de doses da farmacêutica Pfizer, única aprovada até o momento para essa faixa etária no país.

Elas serão entregues ao longo do primeiro trimestre, sendo que 3,74 milhões chegarão ao Brasil ainda em janeiro, segundo o ministério.

O governo disse que haverá uma prioridade para crianças com comorbidades e com deficiência, e sugeriu a aplicação em uma ordem de idade das mais velhas para as mais novas.

A versão pediátrica da vacina da Pfizer foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 16 de dezembro.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, esclareceu que seriam necessárias em tese 40 milhões de doses para completar o regime de imunização de duas doses, porque há 20 milhões de crianças nesta faixa etária no Brasil.

No entanto, segundo o ministro, a Pfizer só conseguiria enviar ao Brasil 20 milhões de doses em um primeiro momento.

Além disso, “não sabemos ainda qual será a taxa de adesão dos pais,e os novos pedidos dependerão disso e da capacidade da indústria de entregar [os imunizantes]”, disse Queiroga.

Outras 20 milhões de doses estão reservadas para o segundo trimestre, e os pedidos serão feitos conforme a vacinação avançar, informou Queiroga.

“Não faltará vacina para nenhum pai que queira vacinar seus filhos”, disse o ministro.

Marcelo Queiroga falando

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Queiroga negou que tenha havido um atraso proposital na vacinação

A composição da dose pediátrica é equivalente a um terço da dose aplicada em adultos.

Embora a bula do imunizante preveja a aplicação da segunda dose 21 dias depois da primeira, a Ministério da Saúde instituiu um intervalo de oito semanas.

De acordo com o governo federal, Reino Unido, Canadá, Espanha, Austrália e Portugal adotam um intervalo igual ao do Brasil, enquanto França, Israel, Chile e Estados Unidos seguem a bula.

A secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19, Rosana leite de Melo, explicou que a decisão de mudar o regime de imunização.

“Estudos mostram que, com um intervalo maior de três semanas, há uma maior produção de anticorpos neutralizantes, e não estamos em um cenário epidemiológico de necessidade premente de completar o esquema vacinal primário”, disse Melo, em referência à queda do número de casos e mortes registrados na população em geral e nesta faixa-etária nos últimos meses.

A secretária afirmou ainda que o regime vacinal adotado reduz o risco de que as crianças desenvolvam uma miocardite, uma inflamação de uma membrana do coração que é um efeito adverso raro em crianças.

“É raro, mas queremos que o risco seja o menor possível”, disse ela.

Diferentemente do que foi anunciado anteriormente, não será exigido um pedido médico para a vacinação, embora tenha sido reforçado no anúncio a importância de uma consulta prévia a um médico.

“É imprescindível”, opinou a secretária. “A criança está em pleno desenvolvimento. Temos alguns efeitos adversos e, embora sejam raros, nesse público o cuidado deve ser maior.”

Melo esclareceu ainda que será necessária a presença dos pais ou de um responsável da criança no ato da vacinação.

Em casos em que isso não for possível, será exigida uma autorização dos responsáveis.

“É para a segurança da criança”, afirmou a secretária.

Queiroga reforçou que as vacinas são seguras: “Houve mais de 8 milhões de doses aplicadas nos Estados Unidos sem que tenha sido feito nenhum alerta”.

Consulta pública

Menino sendo vacinado

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Dose infantil é equivalente a um terço da dose de adultos

No entanto, Queiroga disse que esse histórico e o aval da Anvisa não eram suficientes e deu início a um processo de consulta pública sobre o tema.

A medida foi inédita. Não houve consulta para a imunização de outras faixas etárias.

O ministro se justificou dizendo que a “pressa é inimiga da perfeição” e, diante das críticas de que a consulta seria uma pretexto para adiar o início da imunização infantil, defendeu na época que se tratava de um instrumento democrático.

Agora, reiterou que não houve um atraso intencional e destacou que as negociações com a Pfizer começaram antes mesmo da aprovação do imunizante pela Anvisa.

Queiroga disse ainda em dezembro que sua pasta instituiria a obrigatoriedade de haver uma prescrição médica para a aplicação do imunizante.

Mas, na terça-feira (4/1), foi divulgado que a maioria das quase 100 mil pessoas que responderam à consulta pública se opuseram à necessidade de receita médica.

Sociedades médicas e conselhos de secretarias de Saúde também se manifestaram contra à exigência, que não ocorrerá mais.

O ministro negou que tenha havido um recuo nesta questão. “Havia uma recomendação [de exigência de prescrição]. Faz parte do processo de decisão. Se fosse para ter tomado a decisão naquele momento, não teríamos feito a consulta pública”, disse.

Bolsonaro falando

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Bolsonaro disse diversas vezes ser contra a vacinação infantil

As posições de Queiroga foram muito criticadas e vistas como um alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro.

O ministro disse, porém, que não se importa com isso: “Críticas fazem parte. Quem não quiser ser criticado não sente nesta cadeira”.

Bolsonaro se manifestou contra a vacinação infantil contra covid-19 em diversas ocasiões – inclusive, afirmou que decidiu não imunizará sua filha Laura, de 11 anos.

Ele também criticou a Anvisa por ter concedido a autorização e disse que queria saber os nomes dos técnicos responsáveis pela decisão, gerando uma forte reação de funcionários da agência.

Queiroga saiu em defesa de Bolsonaro e disse que o governo federal está instituindo a vacinação infantil.

“Bolsonaro é contra a vacinação? Ele é a favor da liberdade dos pais de vacinar ou não seus filhos”, declarou.

Os especialistas também argumentam que, além de proteger as crianças, isso contribui para o combate à pandemia ao dificultar a circulação do vírus – algo especialmente valioso diante do aumento de casos recente causado pela variante ômicron.

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Fonte: BBC