O governo de João Doria (PSDB) disse ter notificado na noite desta terça-feira (7) a associação responsável pelos bilhetes do transporte metropolitano da Grande São Paulo a prestar em até três dias esclarecimentos sobre os problemas com o novo cartão, o Top.

Lançado em novembro, o Top, que está substituindo o cartão Bom, tem sido alvo de reclamações de usuários, que se queixam de uma possível venda casada de cartão de crédito, de dificuldades para se colocar créditos e para cadastro. Máquinas de autoatendimento quebradas e bilhetes com QR code que não são lidos nas catracas das estações de metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) também estão entre os relatos.

Outro problema é que algumas cidades optaram por não aceitar o novo bilhete para os ônibus municipais, e moradores perderão a possibilidade de integração, elevando o preço da passagem para fazer os mesmos trajetos.

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos afirmou ter enviado a carta para a associação e que determinou “que se inicie imediatamente uma campanha em massa para orientar os cidadãos sobre os serviços disponíveis na nova plataforma de mobilidade”.

“Além disso, foi instituído por meio de resolução publicada no Diário Oficial de hoje [quarta], um comitê de monitoramento de implantação do bilhete Top com integrantes da secretaria para monitorar o projeto, acompanhar a transição dos bilhetes, solicitar informações e analisar as soluções e pendências existentes.

A Abasp é formada pelas concessionárias do transporte coletivo de passageiros da Região Metropolitana de São Paulo, Metrô e CPTM.

Em nota, a associação disse que a notificação segue em linha com as ações para cumprimento do contrato de digitalização e operação do novo serviço de bilhetagem implantado no sistema público de transporte gerido pelo governo de São Paulo. E que irá atender à demanda da secretaria fornecendo informações detalhadas sobre a prestação de serviços aos passageiros.

Em novembro, a secretaria começou a fazer a troca gradual do cartão Bom pelo Top, usado no transporte metropolitano. E as queixas começaram a crescer.

O estudante Kaique Santos, 23 anos, é uma das dezenas de pessoas que foram às redes sociais do cartão para reclamar. Ele disse que precisou de dois dias para conseguir adquirir créditos pelo aplicativo do Top. “Tentei comprar mais de cinco vezes”, afirmou. “No dia seguinte apaguei o aplicativo e baixei novamente para ver se se apareciam os bilhetes e nada. Só no outro dia consegui fazer a compra”, afirmou.

As reclamações fizeram o Ministério Público de São Paulo notificar a secretaria sobre os motivos que levaram a troca do Bom pelo Top.

O novo produto tem a opção de ser usado também como um cartão de crédito comum, com custo de R$ 16,90 ao mês.

Mas muitos passageiros tem encontrado dificuldade para ter acesso ao cartão sem a função crédito.

Caroline Botelho, 19, afirmou que já tinha o cartão e quando foi recarregar apareceu uma mensagem dizendo para solicitar outro, com a função crédito. Ela disse que tentou fazer a reclamação por telefone. “O serviço é horrível porque só falamos com o robô”, disse a passageira, que afirmou ter recebido um email da empresa Autopass, contratada para desenvolver o cartão, dizendo que o aplicativo se encontra em atualização e que ocorrem erros e intermitências. O texto pede para que ela desconsidere a solicitação.

Segundo Fernando Capez, coordenador do Procon-SP, o consumidor não pode ser obrigado a utilizar qualquer tipo de cartão de crédito a pretexto de ter o novo cartão de transporte. “Se houver qualquer tipo de obrigação, isso caracterizaria venda casada, o que é vedado pelo Código do Consumidor”, disse.

O governo estadual nega que haja venda casada e que o passageiro tem a opção de escolha do cartão apenas para o transporte.

“As dificuldades apresentadas para adquirir os bilhetes que sejam apenas para o transporte serão apuradas pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos junto à associação responsável pelo gerenciamento da bilhetagem”, afirmou trecho da nota. “Atualmente, mais de 30% dos pedidos de cartão Top são somente com a função transporte”, disse.

Em nota, a Autopass disse que o passageiro sempre tem a opção de escolha no aplicativo e nos postos de atendimento, “podendo adquirir um cartão somente de transporte ou então híbrido com as funções de conta digital, débito e/ou crédito”.

Bilheterias

O governo Doria suspendeu o fechamento de todas as bilheterias do metrô e da CPTM, que estava previsto para ocorrer até o fim deste ano.

No início de novembro, a gestão tucana anunciou que as bilheterias das estações deveriam ser fechadas gradualmente até o fim de 2021 e que a aquisição dos bilhetes digitais só poderia ser feita por meio de aplicativo de celular e em máquinas de autoatendimento que imprimem bilhetes com QR codes que podem ser lidos nas catracas. O pagamento nestes equipamentos só pode ser feito com cartão ou Pix (transferências), pois eles não aceitam dinheiro.

As estações Belém, da linha 3-vermelha do metrô, e Granja Julieta, da linha 9-esmeralda da CPTM, foram as primeiras a fecharem suas bilheterias, em 22 de outubro.

Sem falar em novas datas, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos disse em nota que o fechamento das bilheterias será gradual “para gerar menor impacto ao cidadão e o novo cronograma será divulgado em breve”.

Até hoje passageiros enfrentam transtornos nestas duas estações, e na João Dias, também da linha 9-esmeralda, inaugurada no mês passado já sem bilheterias.

A reportagem foi às três estações nesta quarta-feira (8). Na do metrô, duas funcionárias tentavam convencer quem ia comprar o bilhete com cartão de débito ou crédito a pagar a passagem de quem só tinha dinheiro no bolso e pegar o valor em espécie.

Por causa da reclamação de um usuário, que tinha uma nota de R$ 10 para comprar a passagem de R$ 4,40, uma das funcionárias pediu para a outra tentar trocar a cédula em algum comércio vizinho para acalmar a situação.

O metrô colocou avisos com um mapa de comércios vizinhos que vendem passagem a dinheiro. A reportagem, porém, foi a dez locais, entre uma lotérica, um mercadinho, restaurantes, bancas de jornais e barracas de lanches no entorno das duas saídas da estação e em nenhum deles o bilhete era vendido.

O sistema de pagamento de bilhetes unitários por QR code passou a ser aceito em todas as estações do Metrô e da CPTM em dezembro de 2020, após pouco mais de um ano de testes.

Em nota a Secretaria dos Transportes Metropolitanos disse que existem mais de 8.000 pontos de vendas de passagens. A pasta afirmou que o cartão Top será emitido gratuitamente nas estações Belém do metrô e Granja Julieta da CPTM. “O passageiro poderá recarregar na máquina de autoatendimento o valor em dinheiro neste cartão e embarcar normalmente”, disse.

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