O ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ricardo Cappelli, fez críticas à reportagem da CNN que culminou na demissão do então chefe da pasta, o general Marco Edson Gonçalves Dias.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, do Grupo Globo, Cappelli afirmou que “as cenas divulgadas pela emissora foram editadas porque inverteram a ordem cronológica dos acontecimentos, induzindo o espectador a uma falsa percepção sobre a conduta do chefe anterior do GSI” no ataque às sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro.

No dia 19, a CNN divulgou, com exclusividade, imagens de 22 câmeras do circuito de segurança do Palácio do Planalto que mostram a ação dos agentes do GSI durante a invasão ao prédio. As imagens revelam que o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança da Presidência da República esteve no Palácio no momento da invasão. O general Gonçalves Dias aparece circulando entre os invasores.

No mesmo dia 19, Dias pediu demissão do cargo de ministro. No Congresso, também como efeito da divulgação das imagens pela CNN, a base aliada do governo passou a apoiar a instalação de uma CPMI para investigar os atos de 8 de janeiro.

A íntegra das imagens que envolvem o ex-ministro e os criminosos que invadiram o Palácio do Planalto foi disponibilizada pela CNN em todas as suas plataformas na quinta-feira, dia 20 (assista abaixo). O jornal Valor Econômico não procurou a CNN para saber qual a posição da emissora sobre o assunto.

Não é a primeira vez que Cappelli faz críticas públicas à emissora. Há um mês, em sua conta do Twitter, ele publicou um texto com indiretas ao canal. Na ocasião, o comediante Pedro Cardoso havia participado de um debate ao vivo e se posicionou contrário ao tom do noticiário da CNN. O então secretário-executivo do Ministério da Justiça o elogiou e se igualou a um dos personagens interpretados pelo ator.

“Pedro Cardoso é arte que alegra, provoca, comunica, representa, inquieta, gera reflexão e transforma. Faz o Brasil rir de si mesmo feliz e assustado ao encontrar Agostinho Carrara no espelho. Bravo”, escreveu.

No episódio envolvendo as imagens do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, apesar das críticas que o agora ministro interino do GSI faz à CNN, integrantes do próprio governo reconheceram o trabalho realizado pela emissora.

O ministro de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, considerou que a CNN cumpriu o papel de informar o público ao divulgar as imagens do circuito interno de 22 câmeras do Palácio do Planalto.

“O que vocês [CNN] fizeram foi jornalismo. Receberam um conjunto de imagens de alguma forma e fizeram aquilo que o jornalismo tem que fazer: colocar a público. A mídia e o jornalismo têm a função de trazer isso a público”, disse Padilha.

Quem é Ricardo Cappelli

Homem de confiança do ministro da Justiça, Flávio Dino, Ricardo Cappelli não tem em seu currículo nenhuma formação na área de segurança Pública. Ele é formado em jornalismo, mas também não tem nenhuma experiência na profissão.

Capelli começou a trajetória na política em 1997, ao ser eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Desta época, gaba-se de ter articulado com o governo cubano a vinda de Fidel Castro ao Brasil para participar de um congresso da entidade.

Logo depois, expoente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), disputou uma cadeira na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Não foi eleito. O mesmo ocorreu na sequência, quando tentou vaga de deputado estadual.

Apesar disso, seguiu no ativismo partidário, que o galgou ao posto de secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade de Nova Iguaçu, na baixada fluminense.

Isso o fez aumentar a proximidade com outras lideranças da esquerda e a ocupar cargos importantes no Ministério do Esporte, durante a gestão de Dilma Rousseff (PT). Na época, a pasta era comandada pelo PCdoB.

Entre as funções exercidas, Cappelli foi coordenador do programa vinculado à Lei de Incentivo ao Esporte. Cabia a ele autorizar projetos desportivos a captarem recursos com isenção fiscal. Mas foi em outra área que ganhou visibilidade: a atuação na gestão de crises políticas.

Nos bastidores, atuou para evitar a queda do então ministro Orlando Silva, colega de partido e antecessor na presidência da UNE, em razão de denúncias ligadas ao repasse de dinheiro público a Organizações Não-Governamentais. Não deu certo. Silva foi exonerado em 2011, no primeiro ano da gestão Dilma.

Capelli ainda seguiu no ministério e, por conta dos vínculos ao PCdoB, se aproximou mais de outros integrantes da legenda. Entre eles Flávio Dino, que, ao ser alçado governador do Maranhão, convidou Cappelli para compor sua equipe.

No estado do Nordeste, foi secretário de Estado responsável pelas relações com o executivo federal. Foi também o responsável pela área de comunicação social do governo do estado.

“A habilidade nas duas funções”, segundo declarou o Dino no fim do ano passado, foram primordiais para que o jornalista fosse escolhido para ser secretário-executivo do Ministério da Justiça.

Essa confiança ficou mais evidente após os atos criminosos contra as sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro. Ao anunciar a intervenção na Segurança Pública do Distrito Federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeou Ricardo Cappelli interventor, atendendo sugestão de Flávio Dino.

A forma como conduziu o processo fez aumentar a “pontuação” entre o chefe no Ministério da Justiça e junto ao próprio presidente da República. Tanto é que agora, diante da crise envolvendo o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi escolhido para comandar interinamente a pasta.

Vídeo 1

Vídeo 2

Vídeo 3

Fonte: CNN Brasil